28.3 C
Três Lagoas
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Feminicídio e a hipocrisia oportunista

Mais um feminicídio em Mato Grosso do Sul, mais um nome adicionado à estatística trágica que assombra o Brasil. Wanessa Ricarte, jornalista, 42 anos, chefe da assessoria de comunicação do Ministério Público do Trabalho em Campo Grande, foi brutalmente assassinada por um homem que, pela ficha corrida, já carregava um histórico de violência e manipulação. O assassino, um músico com trânsito em altas rodas e até mesmo em púlpitos de igrejas, usava sua posição para se aproximar de mulheres, caçando novas vítimas sob uma falsa capa da simpatia, da sedução e de respeitabilidade.

O choque e a dor de familiares, amigos e colegas de profissão são genuínos e devastadores. Mas, fora desse círculo, o que se vê é o mesmo teatro de sempre. Nas redes sociais, nas tribunas e em discursos vazios, aproveitadores fazem desse crime uma oportunidade de autopromoção. Políticos lamentam de forma teatral, influenciadores aproveitam o engajamento e, no fim, tudo se resume a curtidas e votos.

E aí cabe a pergunta incômoda: o que de fato está sendo feito para impedir que crimes assim continuem acontecendo? Oportunistas da política e das redes sociais se lamentam publicamente, mas quando se trata de aprovar leis mais duras, fortalecer programas de proteção às mulheres ou investir em segurança pública de verdade, muitos deles desaparecem. No final, ações concretas são substituídas por discursos indignados e hashtags vazias.

O caso de Wanessa não é isolado. Enquanto sua história chocava o país, no mesmo dia, um jovem atleta foi assassinado em São Paulo, sem chance de defesa, enquanto atendia ao celular em um bairro de classe média. Mortes violentas de mulheres, homens e crianças se acumulam, e o que vemos é a pusilanimidade da classe política, que prefere fazer luto performático a resolver o problema na raiz.

A verdade é que não adianta discursos inflamados se os mesmos que fingem se importar são os que mantêm um sistema falho. Políticos demagogos, com ou sem mandatos, precisam se preocupar menos com likes e mais com soluções reais. Se querem chorar, que chorem pelas vidas que poderiam ter sido salvas se fizessem seu trabalho de verdade. Antes que outra mulher morra. Antes que mais vidas sejam ceifadas pela violência que eles fingem combater.

(*) Por Valfrido Silva – Blog Contraponto MS

Leia também

Últimas

error: Este Conteúdo é protegido! O Perfil News reserva-se ao direito de proteger o seu conteúdo contra cópia e plágio.