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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Advogado de Bataguassu que combateu venda de sentenças em MS comenta investigação em outros estados do país

Apesar de eu ter sofrido perseguições, assédio moral e coação. Perdi a maior parte do meu patrimônio em razão dessa luta contra a máfia da toga. Se hoje eu tivesse que fazer tudo de novo, talvez eu não teria a mesma coragem

Com a coragem de um autêntico sul-mato-grossense que não se calou com a corrupção que via dentro do judiciário, agora vê o seu ato de bravura se tornar uma investigação nacional que está atingindo pelo menos cinco Estados brasileiros.

O advogado sul-mato-grossense, Enio Martins Murad, responsável pela denúncia que desbaratou esquema de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS), em 2021, e cuja investigação feita pela Polícia Federal (PF) identificou indícios de venda de sentenças por parte de desembargadores do Tribunal de Justiça (TJMS) em 2024, agora vê com os próprios olhos a mesma investigação se desdobrando também em outros estados.

NA MIRA DA POLÍCIA FEDERAL

Advogado de Bataguassu que combateu venda de sentenças em MS comenta investigação em outros estados do país

Estão sob a mira da PF, por suspeita de negociação de decisões em troca de propinas, desembargadores, juízes e servidores dos tribunais da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, São Paulo, Espírito Santo e Maranhão. Os inquéritos já levaram ao afastamento provisório de pelo menos 16 desembargadores e sete juízes de primeira instância.

As investigações também sobrecarregam a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza os tribunais, responsável pelas apurações na esfera administrativa. O trabalho dos policiais federais também já esbarrou em gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

AMEAÇAS E PERSEGUIÇÕES

Natural de Bataguassu, Enio é conhecido por realizar várias denúncias que resultaram em muitas operações da Polícia Federal em MS. Com isso, o advogado sofreu perseguições e até ameaças. Tudo começou em 2015, quando o advogado era secretário-geral do Ministério Público de Contas de Mato Grosso do Sul (MPC-MS).

À época, a PF investigava indícios de fraude em licitação e superfaturamento no contrato da coleta de lixo em Campo Grande. Em razão do cargo que ocupava, Murad foi procurado para prestar esclarecimentos e relatou a “vista grossa” feita pelas instituições do estado em relação ao caso.

Após realizar as denúncias contra os conselheiros Waldir Neves Barbosa, a vida do advogado virou de cabeça para baixo. Ele chegou até a pedir exoneração do cargo que ocupava devido às graves perseguições e ameaças.

Depois das denúncias feitas por Murad, cinco desembargadores foram afastados dos cargos, após determinação do STJ. São eles: Sérgio Fernandes Martins, presidente do TJMS, Vladimir Abreu da Silva, Alexandre Aguiar Bastos, Sideni Soncini Pimentel e Marco José de Brito Rodrigues.

PROCESSO POR CALÚNIA E DIFAMAÇÃO

Ao denunciar, há aproximadamente quatro anos, os conselheiros afastados acusaram Enio por calúnia e difamação. O advogado chegou a ser processado por calúnia e difamação. O processo foi arquivado e ele provou que é inocente. Hoje em dia, Murad pede a indenização dos sete conselheiros. O valor total é de R$ 2 milhões, mas pode chegar a R$ 14 milhões.

Advogado de Bataguassu que combateu venda de sentenças em MS comenta investigação em outros estados do país

Enio conversou com o diretor do Perfil News e comentou sobre a sensação de ver um esquema de corrupção ser investigado após a sua coragem de denunciar. Olhando para trás, o advogado diz que percorreu um longo caminho que atingiu, inclusive, e muito a sua vida pessoal.

“Apesar de eu ter sofrido perseguições, assédio moral e coação. Perdi a maior parte do meu patrimônio em razão dessa luta contra a máfia da toga que foi instalada em muito sacrifício. Se hoje eu tivesse que fazer tudo de novo, talvez eu não teria a mesma coragem, a mesma determinação, porque eu coloquei em risco a minha vida, a minha família, a minha carreira que, atualmente, eu consegui me reerguer. Hoje eu sou advogado de renome profissional, dou entrevista para Globo, CNN, Folha de São Paulo, Veja, mas eu passei durante quase uma década pelo Vale das Sombras, por um deserto muito árido e hoje eu não sei se eu teria coragem de enfrentar isso tudo de novo em razão do desgaste emocional e financeiro que eu suporto e suportei até hoje”, explicou.

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