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terça-feira, 29 de abril de 2025

ARTIGO: A Síndrome do Sapo Fervido

20/06/2013 11h31 – Atualizado em 20/06/2013 11h31

José Estevão Moraes Palma

Estudos biológicos comprovam que um sapo colocado num recipiente, especialmente com a mesma água de sua lagoa, permanece estático até que a água ferva.

Apesar de o Brasil possuir uma constituição privilegiada diante da maioria dos outros países, desde que promulgada a Constituição de 1988, que possibilitou notáveis avanços no que se refere à democratização política no Brasil, a maioria dos políticos brasileiros vem se comportando como um sapo diante dessa realidade.

O Gigante acordou, e agora, o que fazer?

Multidões de brasileiros e de brasileiras resolveram, de hora para outra, partir para a manifestação pública nos vários municípios brasileiros e até fora do país.

Para os políticos que possuem uma percepção superficial do problema, para os políticos oportunistas ou para aqueles que pretendem “empurrar com a barriga” aquilo que por amparo constitucional já está garantido, pode parecer que a saída seria: “Se não podes com eles junte se a eles”.

Para os mais atentos, esta situação, que pode parecer um ato inesperado para a maioria, já estava prevista, pois apesar de lenta, a percepção social quanto aos verdadeiros direitos do cidadão vem crescendo de forma exponencial.

A curva exponencial é caracterizada por uma mudança brusca em determinado momento, ou seja, parece que a coisa vai continuar por muito mais tempo na mesma direção.

Se olharmos para trás, veremos o povo brasileiro, como um povo passivo, que aceita tudo. Não é pra menos, foram quase um século sob regime autoritário: 41 anos na República dos “Coronéis” (1889-1930), 8 anos no período do Estado Novo (1937-1945) e 25 anos de regime militar (1964-1988), resultando na formação da cultura de que o Poder Executivo é quem deve dar soluções aos problemas sociais e econômicos do país, e que à sociedade cabe esperar. Pode-se mesmo afirmar que, conforme Salles1 (2010), a fragilidade da democracia no Brasil é o resultado de sequelas da ditadura e de governos autoritários aos quais os brasileiros foram submetidos durante várias décadas.

A tomada de atitude, atribuída às novas gerações, na realidade foi viabilizada pelos seus antecessores, no entanto, de forma lenta e imperceptíveis para os “sapos”. Mas estamos aí, envoltos por uma situação que pode ‘piorar’.

O povo brasileiro tem uma constituição que, desde 1988, lhe permite assumir a co-gestão administrativa de seus governos e assim poder identificar, contribuir e controlar as ações governamentais, potencializando sobremaneira as possibilidades de alcance dos anseios da sociedade.

Se o gestor público ainda pensa em fazer sozinho, pode ter certeza que está na contramão e vai ser atropelado.

COMO GOVERNAR JUNTAMENTE COM O POVO?

Através da atuação nos conselhos gestores das políticas públicas, nas três esferas de governo, os representantes dos vários segmentos da sociedade civil têm participado nas discussões relativas ao planejamento e gestão das políticas responsáveis pela promoção e manutenção dos direitos fundamentais nos diversos segmentos de seus interesses como da educação, cultura, saúde, assistência social, habitação, entre outros.

Para colher os reais benefícios desta nova realidade de direito, no entanto, o desempenho dos conselheiros de políticas públicas é fator crítico de sucesso para assegurar e acelerar a mudança paradigmática, de um modelo democrático puramente representativo e ineficiente, para um modelo democrático fortalecido pela participação da sociedade civil, de forma mais direta e mais justa.

Apesar de perceptível, a melhoria do desempenho dos conselhos deixa muito a desejar, basta assistirmos uma reunião e perceberemos uma verdadeira disputa de interesses, na maioria das vezes, individuais e ideológicos, em detrimento do interesse da sociedade ou daqueles que representam.

Isto é fruto natural de uma sociedade em desenvolvimento, mas que é possível administrar para um resultado mais efetivo e eficiente adotando-se uma política proativa para o desenvolvimento social, o que deixa o político perturbado.

Vê-se, no entanto, que já passou da hora. Como diz o ditado atribuído a Bill Clinton: “Ou você fica amigo da mudança, ou ela se tornará sua inimiga”.

Educação para a cidadania é a palavra chave. Ainda que tardio, seria recomendável intensificar programas de capacitação para a cidadania em todos os níveis sociais.

Pode-se pensar que o brasileiro ainda vai demorar um pouco, mas a coisa não é bem assim, pois podemos também transformar esta evolução numa “exponencial”, afinal, o perigo deste movimento é a ignorância.

1 SALLES, Helena da Motta. Gestão democrática e participativa. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração. UFSC; [Basília]; CAPES: UAB, 2010.

José Estevão Moraes Palma, mestre em Administração Empresarial pela UFRGS e Especialista em Gestão Pública pela UFM, ganhador do VII Prêmio Sul-Mato-Grossense de Gestão Pública, modalidade acadêmica, Tema: Controle Social.

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