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sexta-feira, 25 de abril de 2025

Da Índia ao Brasil: A história da raça Nelore

11/11/2013 17h08 – Atualizado em 11/11/2013 17h08

A história da raça Ongole começa mil anos antes da era cristã. Natural do Estado da costa oriental da Índia, esse animal chegou ao Brasil e teve seu nome alterado para Nelore

Da Redação

A história da raça Ongole começa mil anos antes da era cristã. Natural do Estado de Andhra Pradesh, costa oriental da Índia, esse animal chegou ao Brasil e teve seu nome alterado para Nelore porque as primeiras importações deste bovino, realizadas por brasileiros, foram embarcadas no porto de Nelore, naquele Estado indiano. Considerado animal sagrado, tem grande significado para os indianos, que tem significativa parcela vegetariana da população hindu na Índia, consumindo apenas o leite como fonte de proteína animal, às vezes nem isso.

Na Índia, o Nelore também é utilizado como animal de tração. País de numerosa população, problemas sócio-econômicos intensos e espaços destinados principalmente para agricultura, criar bovinos da maneira adequada torna-se impossível para os pequenos produtores que se utilizam desses animais para o trabalho e fornecimento de leite para subsistência, alimentando-os com restos de colheita de grãos, pastoreio de arbustos e soltos pelas ruas das cidades comendo lixo e restos de comidas.

Segundo informações da ACNB – Associação dos Criadores de Nelore do Brasil são poucos os animais selecionados pelos criadores, os que constituem tipos ou raças com características próximas dos troncos fixos e existentes. Para a Associação, os troncos mais conhecidos e considerados puros hoje são: Gado Branco do Norte ou Brahmane, o tipo Misore do Sul Hallikar, Kangayam, Khillari, Nimari; Gado Gir, das regiões de Kathiawar; Gado Pardo ou Vermelho Sahiwal, Sindhi; Gado Cinza de Madras: Norte ou escuro: Hissarr, Kankrej, Malvi, Tharparkar; Sul ou Claro: Bhagnari, Hariana, Krishna, Nagori, Ongole, Gado de Dhanni do Punjab.

Devido à boa aceitação desse animal nos serviços rurais da Índia, o Nelore é fruto de um cruzamento com mais 14 raças diferentes. Por questões religiosas e culturais, na Índia esse animal não sofreu nenhum melhoramento, mantendo suas características rústicas para o serviço de tração e pouca produção leiteira.

NO BRASIL

A história dessa raça começa a mudar com a sua chegada ao Brasil, em 1868, em Salvador – Bahia. Paulo Lemgruber, imigrante suíço, após fazer uma visita em um zoológico alemão ficou impressionado com os bovinos de chifres grandes e cupim bastante salientes no dorso, que estavam lá expostos e fez a primeira aquisição por impulso, abrindo os caminhos para a história de sucesso da raça no Brasil.

Após o gado desembarcar no território brasileiro, ele se disseminou por todo Estado do Rio de Janeiro, fronteiras de São Paulo, Minas Gerais e outros estados.

TRÊS LAGOAS – MATO GROSSO DO SUL

O Estado de Mato Grosso do Sul tornou-se um dos principais berços dessa raça. Marcos Moura, que administrou os trabalhos do Grupo NJOP na Índia desde junho de 2004, atuando operacionalmente na aquisição, cruzamentos, coletas de embriões e negociações com governo indiano e brasileiro para realizar a importação desses embriões da raça nelore para o Brasil, visando a perpetuação da raça e continuidade dos trabalhos de desenvolvimento genético desses animais em nosso país, conta mais sobre sua experiência na Índia.

“Todos esses animais espetaculares que temos hoje no Brasil, são frutos de importações da Índia, haja vista sua rápida adaptação ao nosso clima também tropical, solos semelhantes e boas precipitações pluviométricas,” ressalta.

As primeiras viagens deste Grupo, tanto para conhecimento mais aprofundado da região, quanto para a compra de animais, ocorreram em 2004. Nessas ocasiões, eles tiveram a oportunidade de ficar um total de 70 dias percorrendo diversas cidades e vilas indianas, principalmente no Estado de Andhra Pradesh, região do Ongole(Nelore).

“É outra realidade. A Índia tem população aproximadamente seis vezes maior que a brasileira, eles não possuem espaço suficiente para manejo de pastagens. Cada vila possuía seu touro, alimentado por todos moradores e esse animal tinha como função a cobertura das vacas dos pequenos produtores, utilizadas no trabalho de campo, etc”, fala Marcos Moura.

Marcos lembra também que a seleção de animais e o desenvolvimento genético da raça não têm os mesmos critérios que utilizamos por aqui. “As raças indianas são regionalizadas, ou seja, o Ongole(Nelore) só encontramos em Andhra Pradesh, o Gir somente no Estado de Gujerat, o Kankrej(Guzerá para os brasileiros) só achamos no Rajastam e assim com todas as outras raças. No caso do Nelore, a preocupação deles é se o animal, tem boa estrutura para tração, cor baia e no caso da fêmea, bom úbere, então está dentro das características raciais. A seleção genética brasileira é muito mais detalhista e busca principalmente desenvolver o bovino visando o “fundo comercial”, ou seja, a carne para comercialização. Conseguimos desenvolver animais superiores aos indianos em vários aspectos, entretanto, devemos nos preocupar em manter a praticidade e rusticidade do Nelore que o ajudou a se adaptar tão bem em nossas pastagens”.
Novas técnicas de procriação

A tecnologia aplicada no desenvolvimento genético brasileiro, no início a inseminação artificial, depois a transferência de embriões e agora a FIV(fertilização in vitru), facilitou sensivelmente o acesso de pequenos, médios e grandes produtores aos melhores animais, provocando atualmente uma perigosa tendência à consangüinidade nos acasalamentos do gado elite, problema que observamos atualmente nos registros genealógicos dos touros utilizados e famílias de fêmeas. “ De qualquer forma, essa tecnologia contribui para que nossos animais e nossa carne tenha aceitação mundial e atenda a demanda por esse produto”, acrescenta Moura.
“As técnicas existentes e um bom trabalho de assessoria nas fazendas, verificação do melhor touro para uma boa vaca, além do tipo sanguíneo e suas características, são fundamentais para obter-se um Nelore de qualidade”,conclui.

Todavia, percebe-se que o Mato Grosso do Sul está muito avançado nos trabalhos genéticos com o Nelore, destacando-se grandes criadores que se preocupam com a perpetuação dessa raça belíssima e que tantos benefícios proporciona ao nosso país.

(*)Com informações de Assecom Sindicato Rural

Os animais são utilizados para trabalhar em pequenas plantações (Foto: Divulgação/Assecom)

Animal considerado sagrado para os indianos (Foto: Divulgação/Assecom)

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