20/10/2017 07h19
Após sondagem da área, equipes conseguiram detalhes da embarcação, que foi revelada após 100 anos e está praticamente intacta
Redação
A sondagem da área onde apareceram os destroços de um navio centenário em uma praia de Santos, no litoral de São Paulo, revelaram que a embarcação está inteira enterrada e que, dentro dela, há um objeto de metal do tamanho de um carro popular. Uma equipe de arqueólogos aguarda liberação para poder realizar a escavação do local.
Em 22 de agosto, a maré baixa e a erosão na Praia do Embaré provocaram o aparecimento de pedaços de madeira e metal que se assemelham a um casco de navio, próximo à mureta do Canal 5. Segundo a prefeitura, os destroços têm pouco mais de 50 metros de comprimento e 12 metros de largura, aproximadamente.
Mesmo antes da sondagem, feita em 21 de setembro com três equipamentos, a equipe que estuda a descoberta já havia constatado que trata-se de uma embarcação de mais de 100 anos, pelo material encontrado (madeira e metal). A suspeita é que seja o veleiro inglês Kestrel, que afundou nessa região em 11 de fevereiro de 1895.
“Analisamos as imagens obtidas e constatamos que o navio está inteiro enterrado. O que vemos ali na faixa de areia é o convés dele”, afirma o arqueólogo Manoel Gonzalez, que lidera um grupo de seis pesquisadores. Os destroços têm profundidade média de três metros, aproximadamente, em toda a extensão da área.
As imagens ainda mostram que a proa do navio (parte frontal) está na direção de São Vicente, e que a popa (parte traseira) está próxima ao Canal 5, mas que não encosta ou passa por baixo da estrutura, construída em 1927. A disposição do barco, segundo Gonzalez, também evidencia um possível veleiro.
O arqueólogo explica, ainda, que a embarcação está parcialmente adernada, o que faz o delineamento do casco na faixa de areia não ser proporcional dos dois lados. “É possível notar que houve uma acomodação de um dos bordos, que abriu mais que o outro, que permaneceu intacto com o passar dos anos”.
Além disso, um objeto de metal de seis metros de comprimento por dois de largura intrigou o grupo. “Não sabemos o que é. Pensamos em caldeira ou até em um canhão, mas descartamos. Ele está localizado na parte da frente, próximo ao centro e do lado esquerdo, e pode nos ajudar a revelar esse navio”, fala.
Manoel aguarda autorização da Marinha do Brasil para realizar uma escavação prévia de trechos da área, para complementar a análise e encontrar outras pistas, como eventuais cargas que ele transportava. “Por enquanto, é um fragmento sem vida. Tendo todas as informações encontradas, ajuda a criar uma vida para ele”.
A Marinha do Brasil ainda analisa os documentos protocolados por ele sobre a descoberta. Apenas a autoridade marítima pode autorizar a escavação do sítio arqueológico, que é monitorado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Ministério Público, na esfera Estadual e Federal.
A intenção dos pesquisadores é escavar toda a área e retirar por completo o navio. “É uma operação que deve ser feita para preservá-lo, além de garantir a segurança dos banhistas. Depois, ele pode ser exposto”, fala. Estima-se que o trabalho custe R$ 1 milhão, e o grupo ainda estuda a maneira para poder viabilizá-lo.
Descoberta
Funcionários da limpeza urbana se depararam com a estrutura parcialmente enterrada na areia durante a limpeza das praias, no início da manhã. Equipes da prefeitura foram deslocadas ao local e constataram aquilo que parecia ser parte do casco de uma embarcação de madeira. A área foi isolada, por segurança.
“Esse navio estava enterrado ali há muito tempo e, com o rebaixamento da areia, acabou ‘aflorando'”, explicou a subprefeita da região da orla, Fabiana Ramos Garcia Pires. A administração municipal cercou a área por segurança, instalou placas indicativas e posicionou uma câmera para monitorar os destroços.