29/10/2017 07h27
Thor: Ragnarok – Um protagonista que não trabalha sozinho
Para quem gosta do mundo cinematográfico, o Perfil News separou, para este fim de semana, uma dica bem legal sobre filmes.
Da Redação / Omelete
A vida nos universos cinematográficos sempre tem aquele tom que nos deixa pensando: Seria legal se fosse comigo!
No último dia 26 estreou nos cinemas brasileiros mais um filme do UCM (Universo Cinematográfico da Marvel), Thor: Ragnarok. Confira agora a resenha crítica de um dos maiores sites sobre cinema do Brasil
Por: Omelete.com
Os primeiros cinco minutos de Thor: Ragnarok definem o tom da aventura que virá nas próximas duas horas. O protagonista se porta como o guia do espectador, releva qualquer peso das histórias anteriores da Marvel, faz piadas longas a cada minuto e encerra a cena com uma sequência pirotécnica de ação rápida. A ordem e a duração destes segmentos se altera durante o filme, mas o roteiro sempre se apega ao humor irônico e auto-depreciativo típico do diretor Taika Waititi. Com isso, este terceiro filme do Deus do Trovão não só se consolida como uma das melhores aventuras solo da Marvel, mas também dá um respiro no controle criativo do estúdio.
A fórmula de sucesso da Casa das Ideias no cinema não sumiu. A relação entre vilão e herói ainda segue as mesmas regras, as reviravoltas são previsíveis e a falta de peso nas decisões permanece inalterada. A saída inteligente de Waititi é levar tudo isso em conta na hora de promover o encontro entre personagens. Thor esquece das Joias do Infinito, Loki (Tom Hiddleston) entende sua incompetência, Hela é unilateral como vilões clássicos e Hulk (Mark Ruffalo) é o tanque (quase) sem cérebro de sempre. Ninguém filosofa, ninguém questiona a própria índole. Todos estão ali pela jornada, pela piada, pelo entretenimento. Sem o peso de questionamentos ou a obrigação de esmiuçar conceitos, Ragnarok se permite errar – nas piadas obscenas, longas, nas escolhas escusas de elenco e até no visual exagerado. E é exatamente essa ousadia cheia de erros e acertos que faz o filme de Waititi ser único.
Ainda que exale o ar do cineasta neozelandês, há muito da Marvel clássica nas telas. Não por acaso os créditos referenciam Walt Simonson como uma “inspiração inestimável”. O escritor e desenhista foi responsável por histórias clássicas e aventurescas de Thor, assim como Jack Kirby, a maior de todas as referências de Ragnarok. Das texturas de Sakkar às roupas das Valquírias, passando pelo visual do Grão-Mestre e toda sua trupe. Tudo lembra Kirby. Waititi, na verdade, se apegou à simplicidade destas histórias e aos exageros visuais para conseguir montar seu próprio Deus do Trovão, que ri mais de si do que qualquer outro herói da Marvel Studios. Chris Hemsworth é mais comediante do que astro de ação e cai como uma luva nessa receita. Bobo e engraçado quase sempre, imponente somente se necessário.
A estrela principal brilha, mas é no elenco de apoio que Ragnarok realmente estabelece uma identidade. Jeff Goldblum é a escalação mais acertada desde Robert Downey Jr. para Homem de Ferro. O ritmo lento das falas e o tratamento jocoso que tem com todos em volta torna o personagem um dos símbolos do filme. Cate Blanchett se diverte na mesma medida como Hela, que impõe respeito e tem arroubos de fúria dignos de psicopatas. E o próprio Taika Waititi, que além de dirigir dubla o gigante Korg, fecha a trinca principal dos coadjuvantes. Ele é a representação pura da ironia e do humor quase juvenil que tornam Ragnarok diferente dos demais longas de super-herói.
Nos poucos momentos que tenta ser um blockbuster comum, Thor falha e nos lembra do desgaste da Fórmula Marvel. Isso acontece com a montagem do ‘novo’ Vingadores, formado por Loki, Valquíria (Tessa Thompson), Hulk e Thor. O time nunca se porta como um time, a não ser em uma cena de perseguição de nave com Hemsworth e Thompson. De resto, eles funcionam somente isolados, quando em duplas, principalmente. O mesmo acontece com as poucas cenas do Executor ou nos extermínios de Hela – no fundo, fica a sensação que o filme usou pouco a vilã. Ela será memorável pelo estilo, não pela ameaça que representa.
Depois da Guardiões da Galáxia, a Marvel parece ter entendido que há espaço para criatividade dentro do incubadora de sucessos fabricada em 2008 com Homem de Ferro. Thor: Ragnarok é um dos primeiros filhotes dessa nova fase. Um filme que preza e respeita as obras originais, mas dá espaço para um voz transgressora dentro de um ambiente tão controlado. Os fãs do Deus do Trovão mais sério, clássico e altivo se revoltarão com as atitudes estúpidas do herói em Ragnarok. A intenção deste Thor, porém, não é seguir os passos dos quadrinhos. Aqui ele está poderoso e engraçado como nunca e hoje não há caminho melhor a seguir. Que continue assim.