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sábado, 28 de dezembro de 2024

EDITORIAL

30/05/2018 11h30

EDITORIAL – O papel da imprensa na crise

Redação

Em momentos de crise, seja econômica ou ética, a imprensa livre é sempre a primeira a sofrer a retaliação por parte da população. A ‘culpa’ precisa sobrar para alguém, e como os repórteres, ao contrário dos políticos, são os primeiros a “dar a cara” no meio da população, são eles a sofrer as consequências da raiva e da indignação coletiva. Sabemos disso e, apesar de não concordarmos, entendemos que isso faz parte da nossa profissão. São os “ossos do ofício”.

Entretanto, ultimamente, a imprensa regional virou o “alvo favorito” de manifestantes pró e contra o movimento de greve dos caminhoneiros. Ambos os lados nos cobram “posicionamento”. Dizem que a imprensa “mente” quando o que fazemos é apenas divulgar as posições e declarações de quem está no poder ou de lideranças das manifestações. Contra e a favor.

Quando as pedradas vêm de todos os lados – a favor e contra – sabemos que estamos fazendo nosso trabalho de forma imparcial. No entanto, precisamos que as pessoas entendam o trabalho da imprensa. Como jornalistas, pessoas individuais, temos nossas convicções, e não cabe aqui discuti-las. Somos cidadãos, como todos. No entanto, enquanto órgão de imprensa, precisamos manter a imparcialidade, especialmente em momentos como esse. Nosso papel, unicamente, é levar os fatos ao conhecimento das pessoas, para que elas façam suas análises pessoais e tirem suas próprias conclusões, e cobrem – nas urnas ou pelos meios adequados – dos representantes públicos eleitos por elas.

Se o Governo, por exemplo, aprova projeto para retirar impostos do diesel, ou se o governador diz que vai reduzir o imposto apenas se as estradas forem desobstruídas, cabe a nós, como imprensa, fazer o anúncio das medidas. Se elas serão cumpridas ou não, infelizmente, está fora do nosso alcance. O que fazemos é divulgar posicionamentos – ainda que não concordemos com eles.

Já aconteceu de veículos de imprensa serem expulsos de lugares públicos, nos impedindo de fazer nosso trabalho. Quem perde é a democracia e a população, que fica sem acesso à informação. Já aconteceu, também, de exigirem que os jornais “não divulguem” determinadas notícias, sob pena de serem taxados como “traidores”. Ocultar notícias deliberadamente é censura e fere todos os preceitos da imprensa livre e democrática.

Somos os mensageiros da notícia, não os protagonistas. Não é nosso papel tomar posição contra ou a favor de nenhum movimento. Apenas levamos a notícia e as pessoas, a partir do conhecimento e da própria experiência, fazem suas próprias opiniões.

Conta a história que Dario III, rei da Pérsia, cometeu erros de estratégia de guerra quando derrotado por Alexandre, o Grande. Informado por um mensageiro que sua estratégia fracassaria, Dario III, ao invés de reavaliar os planos, mandou matar o mensageiro. Também, Gengis Khan, quando recebia um mensageiro e a notícia que ele trazia não era a que ele queria, mandava matá-lo. Assim, surgiu o provérbio latino “Ne nuntium necare”: Não mate o mensageiro.

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