Canteiro de obras voltou a operar, ainda com contingente reduzido, nesta semana; data de inauguração permanece a mesma
O avanço da pandemia pegou o mundo de surpresa e interrompeu obras e investimentos em todo o planeta. Não foi diferente com Três Lagoas.
Uma das obras que estavam em andamento no primeiro momento da crise sanitária era a da Usina Termelétrica Onça Pintada, da empresa de celulose Eldorado Brasil.
Com um batalhão de cerca de 1500 pessoas trabalhando em seus canteiros, já em fase avançada de obras civis, a administração da Onça se viu obrigada a uma difícil tarefa, cerca de dois meses atrás: avisar às empresas terceirizadas que iria interromper os trabalhos, momentaneamente.
Como a obra atraía motoristas de caminhão e funcionários das empresas parceiras que vinham de várias partes do país, a ideia era impedir a disseminação do novo coronavírus, que já avançava em território nacional.
A preocupação, além da saúde dos funcionários da Onça Pintada, era não trazer o vírus para o contingente de mais de quatro mil colaboradores da fábrica de celulose, que funciona em espaço anexo, é considerada serviço essencial e cujos trabalhos não pararam.
Planejamento interno
Além de interromper os trabalhos com as empresas terceirizadas, alguns funcionários do administrativo da Onça Pintada foram colocados em home office; outros, essenciais, continuaram no canteiro de obras, recebendo materiais já encomendados e deixando tudo organizado para quando o período crítico passasse. A estratégia seguiu a mesma normativa já traçada para a planta de celulose.
No entanto, a pedido da Agência Nacional de Energia Elétrica, os gestores da obra se viram obrigados a retomar os trabalhos. A Usina Termelétrica Onça Pintada vai fornecer energia elétrica para o chamado “linhão”. Assim como todas as usinas produtoras de energia, a Onça também é considerada serviço essencial e de importância nacional.
O retorno
Dessa forma, o canteiro de obras voltou a operar nesta semana. Aos poucos, os terceirizados vão voltando.
Mas aquele exército de 1500 pessoas que estavam, direta e indiretamente, ligados ao canteiro de obras não voltará ao mesmo tempo.
Foi feito um planejamento responsável de retorno. Em um primeiro momento, cerca de 160 pessoas voltarão. Depois, aos poucos e de acordo com a situação sanitária, o contingente deve ser aumentado.
Além disso há uma equipe médica preparada, medindo as temperaturas de todos os que acessam o local; os ônibus que atenderão os funcionários da empresa também estarão dentro das normas, com apenas 50% de poltronas ocupadas, demarcadas e sempre sendo higienizados. Os colaboradores precisarão seguir normas rígidas de higiene e também de isolamento fora do ambiente de trabalho, não podendo comparecer a festas, por exemplo.
“É um momento de muita preocupação com cada colaborador e também com as famílias, portanto estamos seguindo todas as normas e também cobrando que as prestadoras de serviço estejam atentas a cada nova exigência”, afirmou o gerente de Pessoas e Serviços da Eldorado, Alberto Rodolfo Pius.
O cronograma
Apesar da paralisação por quase dois meses, o cronograma de entrega da Usina Onça Pintada está mantido. As obras devem ser concluídas em dezembro e, em janeiro, a Usina Termelétrica de Biomassa Onça Pintada entrará em operação.
A Usina
O projeto Onça Pintada prevê a geração de energia a partir da biomassa da madeira. Ou seja: a Eldorado reaproveitará o resto do corte do eucalipto que sustenta a indústria de celulose. A biomassa é feita de tocos, raízes, cascas e restos de árvores que não eram aproveitados no campo e que, agora, passarão a gerar energia elétrica.
A usina processará 30 toneladas de biomassa para cada MW/h de energia produzida. “Não tenho dúvidas que será um marco”, afirmou o diretor industrial da Eldorado Brasil, Carlos Monteiro. A usina é a de maior geração de energia do Brasil com essas características: a Onça Pintada deve entregar 50 MegaWatts/hora ao sistema elétrico nacional, conhecido como “linhão”. A partir daí, a Aneel distribuirá a energia de acordo com o necessário para todas as regiões do país
Apesar de ficar no mesmo espaço físico em que está a fábrica da Eldorado, a Usina Onça Pintada não abastecerá a fábrica com energia. Mesmo porque a Eldorado, além de ser auto-suficiente (ela mesma gera a energia que usa) já produz energia suficiente para exportar para o grid nacional outros 50 MW/h.
“É um processo diferente, independente da produção de celulose, que utilizará o que sobra da colheita de eucalipto para a geração de energia verde”, afirmou Monteiro.
A Onça Pintada será a primeira usina de geração de energia a partir de biomassa a produzir essa quantidade de energia. Existem outras, pequenas, produzindo cerca de 5 MW/h.
O investimento para a construção da usina beira os R$ 350 milhões – recursos próprios da Eldorado.
Energia verde, tendência mundial
Existem várias experiências bem-sucedidas de energia renovável no mundo, e não há mais dúvidas que essa seja uma tendência. Hoje, o mercado trabalha basicamente com três áreas energia limpa: a eólica, a solar e a energia verde, que é o caso da usina de Três Lagoas.
Existem atualmente 271 usinas à biomassa em operação no Brasil, o que representa 12,7 gigawatts em capacidade, segundo dados da CCEE. A maioria, entretanto, funciona à base de bagaço de cana. O potencial representa quase uma usina de Itaipu, que soma 14 gigawatts em potência instalada.
A Eldorado pode estar liderando o processo de energia verde no Brasil. Além da Onça Pintada a empresa já tem o projeto de mais duas usinas – todas no Mato Grosso do Sul. “Temos uma floresta enorme aqui, é uma matéria-prima que está lá e fica no campo apodrecendo. Se você consegue transformar isso em energia você está agregando valor”, afirmou o diretor.
Impacto ambiental
O Imasul definiu a compensação ambiental a ser paga pela Eldorado para a construção da usina termoelétrica em R$ 1,7 milhão. Monteiro afirma que, por melhor que seja o projeto, ele sempre causa um impacto e, por isso, o Governo determina as compensações.
“Todo projeto, por melhor que seja em termos ambientais, ele causa um impacto no local onde ele é implantado. Normalmente são impactos positivos, mas acaba gerando algum transtorno. Os órgãos ambientais avaliam esse tipo de impacto e já tem um valor padronizado. Para esse tipo de projeto a compensação é de R$ 1,7 milhão”.
Uma das obras já executadas como compensação ambiental foi o parquinho da Lagoa Maior.