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sábado, 28 de setembro de 2024

Paper Excellence começa a pensar na expansão da Eldorado

Futura controladora solicitou propostas de prestação de serviço a pelo menos três consultorias especializadas na área florestal, com o objetivo de mapear ativos

(*) Reportagem de Stella Fontes – Valor Econômico

Embora neste momento os esforços estejam concentrados em sacramentar a compra
do controle da Eldorado Brasil, a Paper Excellence (PE) já começou a se movimentar
para futuramente tirar do papel o projeto de expansão da fábrica de celulose de Três
Lagoas, estimado em mais de R$ 10 bilhões, apurou o Valor.

Segundo fontes de mercado, a PE solicitou propostas de prestação de serviço a pelo
menos três consultorias especializadas na área florestal, com objetivo de inventariar os
ativos da companhia e levantar informações de suprimento de madeira para a linha de
produção atual e para a nova capacidade, que poderá chegar a 2,3 milhões de
toneladas anuais.

Nova linha de produção vai depender da oferta de madeira em MS, que também vai receber outra fábrica da Suzano.

O início dos trabalhos ainda depende da conclusão da compra da Eldorado, o que não
deve ocorrer neste primeiro trimestre. Na semana passada, a arbitragem que julgava o
litígio entre a PE e a J&F Investimentos, controladora da produtora de celulose, acatou
as alegações da sócia minoritária e abriu caminho para o fechamento da transação mais de três anos depois da assinatura do contrato. Toda movimentação até a conclusão do negócio será supervisionada pelo tribunal arbitral.

O projeto de expansão já estava contabilizado nos investimentos divulgados pela PE. Em meados de 2019, quando o conflito entre as sócias ainda era analisado pelo tribunal arbitral, o empresário indonésio Jackson Widjaya, dono da PE, entregou ao vice presidente Hamilton Mourão e ao deputado federal Eduardo Bolsonaro cheques simbólicos de até R$ 31 bilhões, indicando o tamanho das pretensões da empresa no Brasil – esse montante incluiu os R$ 15 bilhões de valor atribuído à Eldorado e os gastos com crescimento.

Paper Excellence começa a pensar na expansão da Eldorado
O empresário indonésio Jackson Widjaya, dono da PE, entregou ao vice presidente Hamilton Mourão e ao deputado federal Eduardo Bolsonaro cheques simbólicos de até R$ 31 bilhões. Fotos: Divulgação

Entre o pagamento de dívidas da Eldorado que são garantidas pela J&F e a aquisição da fatia de 50,59% que ainda pertence aos Batista, a PE terá de desembolsar R$ 6,4 bilhões, conforme o Valor informou na semana passada.

O projeto Vanguarda 2.0, que demandará investimento de mais de R$ 10 bilhões somente na área industrial, está pronto há alguns anos e a terraplenagem chegou a ser iniciada. Mas não seguiu em frente porque a J&F colocou a Eldorado à venda junto com outros ativos em 2017, na esteira da delação premiada dos irmãos Wesley e Joesley Batista. Em 2018, quando as tratativas de compra e venda entre PE e J&F ainda caminhavam normalmente, o projeto de expansão voltou a ser discutido entre as sócias.

Com a briga, os planos mais uma vez voltaram para a gaveta. No ano passado, porém, a companhia arrendou por 25 anos o terminal STS 14, no Porto de Santos (SP), por R$ 250 milhões de outorga, já considerando os volumes futuros de celulose.

Com o levantamento dos ativos florestais, a PE pretende confirmar a produtividade das florestas que hoje abastecem a fábrica, cuja licença de operação é para 1,83 milhão de toneladas ao ano, e verificar a disponibilidade de madeira adicional. Ao contrário de outros grandes produtores, a Eldorado optou pelo modelo em que arrendamento de terras e parcerias são majoritários, o que a torna dependente desses contratos inclusive para operação atual.

De acordo com o resumo público de manejo florestal da companhia de 2020, cuja publicação atende às exigências das certificadoras Cerflor e FSC (do inglês Forest Stewardship Council), a área produtiva da Eldorado estava em 232 mil hectares, além de 109 mil hectares de conservação. Do total, apenas 4% correspondia a área própria e
a maior parte, 68%, a arrendamento.

Com esse modelo, a Eldorado garantiu velocidade para início de operação, em 2012, e não imobilizou recursos na compra de terras, mas ficou sujeita à renegociação dos contratos no futuro, quando as condições de mercado certamente seriam diferentes. A madeira representa cerca de 50% do custo caixa de produção de celulose da companhia – estava em R$ 612 por tonelada (US$ 112 por tonelada) no terceiro trimestre.

Os próximos passos da PE serão acompanhados atentamente pela indústria de celulose, cuja safra de novos projetos começa a chegar a mercado no fim deste ano, com a expansão da Arauco (Mapa). Também em Mato Grosso do Sul, em Ribas do Rio Pardo, a Suzano, maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, pretende ergue uma nova fábrica, de 2,2 milhões de toneladas, mediante investimento de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões. A expectativa é que a companhia anuncie a execução do projeto já no primeiro semestre se os preços da celulose seguirem em recuperação.

Internamente, na Eldorado, o resultado da arbitragem já provocou as primeiras mudanças. Na sexta-feira, o presidente Aguinaldo Gomes Ramos Filho, sobrinho de Wesley e de Joesley, renunciou ao cargo. Para assumir o comando da empresa foi eleito o diretor jurídico, Carmine De Siervi Neto.

Procurada, a Paper Excellence não comentou o assunto.

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