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terça-feira, 19 de novembro de 2024

Artigo: Papel não desmata

Da mesma forma como se cultiva algodão para a fabricação de tecidos, ou cana, para produção de combustível, cultivam-se árvores para a produção de celulose e papel

*Por Manoel Manteigas de Oliveira

Artigo: Papel não desmata

Muita gente ainda fica surpresa quando descobre que a fabricação e o uso de papel, cartão e papelão faz crescer as florestas e a quantidade de árvores. Todos sabem que papel é feito de árvores. O que nem todos sabem é que essas árvores são plantadas para essa finalidade. 

Da mesma forma como se cultiva algodão para a fabricação de tecidos, ou cana, para produção de combustível, cultivam-se árvores para a produção de celulose e papel. Se o consumo de tecidos de algodão aumentar, será necessário ampliar as plantações para atender à demanda crescente. Se aumentar o consumo de álcool combustível, será necessário plantar mais cana. Da mesma forma, se mais pessoas utilizarem papel, mais árvores terão que ser cultivadas.

Por que é necessário cultivar as árvores que serão usadas para produzir celulose e papel? Não seria mais fácil usar as árvores nativas que já existem? Teoricamente, é possível obter celulose a partir de qualquer vegetal. No entanto, para que o processo industrial seja eficiente e financeiramente rentável, é obrigatória a utilização das espécies adequadas. É também indispensável que as árvores sejam o mais homogêneas possível. Para garantir o suprimento das árvores certas e todas homogêneas, os fabricantes de celulose têm que cultivá-las. É como cozinhar feijão: não dá certo misturar, na mesma panela, variedades diferentes, ou grãos mais novos com grãos mais velhos. 

No Brasil, as árvores usadas como matéria prima para celulose e papel são o eucalipto e, em menor quantidade, o pinus. O eucalipto é australiano e o pinus é norte-americano. Não há essas espécies nas matas nativas brasileiras. Essas árvores só existem aqui se forem plantadas. Para crescer, elas retiram carbono da atmosfera, ajudando a amenizar o efeito estufa e as mudanças climáticas. Temos hoje 2,7 milhões de hectares de plantações para papel. São cerca de quatro bilhões de árvores que estão ajudando a melhorar o meio-ambiente.  

Essa área é muito pequena – 0,32% do território nacional e menos de 1% das áreas utilizadas para atividades agropecuárias. Por isso, não se pode dizer que essa atividade agrícola dispute espaço com outras culturas.

O papel é intensamente reciclado. No Brasil, segundo a Associação Nacional dos Aparistas – ANAP – a taxa de reciclagem chegou a 68,7% em 2018. E o que não é reciclado tem impacto ambiental mínimo porque é biodegradável. 

Não há provas de que a mídia eletrônica seja melhor para o meio ambiente. Os equipamentos eletrônicos são de difícil reciclagem e descarte. Os centros de computação (a famosa “nuvem”) consomem imensas quantidades de energia e são responsáveis indiretamente por grande emissão de CO2. Segundo a Yale University, esses centros já consomem 2% de toda a energia mundial e essa taxa cresce rapidamente. Além disso, produzem tanto CO2 quanto o segmento de aviação. Por outro lado, há fortes evidências de que o papel é uma mídia mais sustentável em termos ambientais. 

Apesar disso, muitas empresas oferecem substitutos ao papel, com argumentos de “salvar árvores” e “preservar o meio-ambiente” quando, na verdade, seu principal objetivo é reduzir custos de operação ou vender seus produtos e serviços. Trata-se, portanto, de propaganda enganosa, que usa falsos argumentos ambientais, conhecida em inglês como “greenwashing”. Mas a verdade é que papel produz e conserva florestas!

*Manoel Manteigas de Oliveira é diretor técnico de Two Sides Brasil. Foi professor e diretor da Escola SENAI Theobaldo De Nigris, da Escola SENAI Felício Lanzara e da Faculdade SENAI de Tecnologia Gráfica. Graduado em Química Industrial e em Ciências Sociais. Técnico gráfico. Especializado em ensino profissionalizante pela Universidade Federal de Santa Catarina e pela Universidade de Chemnitz (Alemanha).

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