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Três Lagoas
segunda-feira, 22 de julho de 2024

Após dias inconscientes, trabalhadores resgatados da caixa d’água do CRASE já tiveram alta

Eles foram contratados por empreitada pele empresa 3PX, e trabalhavam aplicando produto químico no interior da caixa d’água, porém sem nenhum equipamento de proteção, quando ocorreu o acidente

Há exatamente uma semana, equipes do 5º Grupamento do Corpo de Bombeiros de Três Lagoas estavam realizando um salvamento considerado de alta complexidade. Era por volta das 8hs30 da manhã do domingo anterior (dia 4), quando um homem, identificado por Luiz Fernando, acionou a emergência informando a ocorrência de algumas vítimas que estavam trabalhando no interior da caixa d’água do Crase Coração de Mãe, na avenida Clodoaldo Garcia.

De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, o plantão teria recebidos duas chamadas para a mesma ocorrência, porém a uma delas não foi possível a identificação, porém a segunda chamada, foi feita coincidentemente por um Bombeiro Civil, identificado por Luiz Fernando que estava a caminho de casa, após seu plantão na empresa LF Soares, que atua no segmento de prevenção de emergências no trabalho.

VEJA NO VIDEO ABAIXO COMO FOI O ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS EXPLICADAS PELO TENENTE DE SÁ, O PRIMEIRO SOCORRISTA QUE TEVE CONTATO COM AS VÍTIMAS

Provavelmente pela experiência do bombeiro civil, que passou as informações corretas, como também pela expertise do Corpo de Bombeiros, eles se deslocaram ao local com equipamentos para salvamento em ambiente confinado, provavelmente já antevendo o que o esperavam. Diante disso, 8 socorristas foram escalados para atuarem no salvamento. Eles saíram em 4 viaturas, munidos de vários equipamentos para salvamento, inclusive os cilindros de oxigênio, além da carretinha de ar respirável, equipamento que foi de suma importância para o sucesso da operação.

Após dias inconscientes, trabalhadores resgatados da caixa d’água do CRASE já tiveram alta

De acordo com o Tenente De Sá, (FOTO), toda operação levou 2 horas, desde a chegada ao local, até a extração das vítimas. Assim que chegaram n Crase os socorristas perceberam as dificuldades para o êxito da operação e diante disso, foi montada uma forca tarefa, composta da Polícia Militar, que fechou a avenida Clodoaldo Garcia, além de controlar a aproximação de curiosos que chegavam ao local, após ficaram sabendo através das lives de 3 veículos de comunicação transmitiam. Equipes do SAMU, com apoio de uma médica intervencionista completaram a força tarefa.

As imagens abaixo é da carretinha de ar respirável, que através de uma mangueira apropriada fornecia ar no interior da caixa d’água, possibilitando o trabalho dos socorristas

Conforme relatou De Sá, ele foi o primeiro a entrar no interior da caixa d’água e logo avistou as três vítimas que estavam inconscientes. Vendo a cena ele agiu de imediato, pois não sabia exatamente como estavam a situação, já que estavam desacordadas e casa segundo seria crucial para o sucesso do resgate. Ele tentou entrar no interior portando o cilindro de oxigênio, porém devido o espaço confiando e a pequena abertura da portinhola não foi possível. Disso foi necessário usar a carretinha de ar respirável, que através de uma mangueira apropriada fornecia ar no interior do cilindro, possibilitando o trabalho dos socorristas.

NO DESENHO FEITO PELO TENENTE DE SÁ, PERCEBE-SE COMO AS VÍTIMAS FORAM ENCONTRADAS NO INTERIOR DA CAIXA D’ÁGUA

Após dias inconscientes, trabalhadores resgatados da caixa d’água do CRASE já tiveram alta

Já no interior da caixa, De Sá conseguiu retirar a primeira vítima que estava inconsciente e enganchada na parte alta da escada interna da caixa, próximo a portinhola de saída. Essa foi a primeira vítima que foi resgatada, recebendo inclusive aplausos da plateia que assistia de longe a operação.

Ao chegar no base da caixa d’água, de Sá encontrou outras duas vítimas desacordadas. Ele mediu o pulso e constatou que estavam vivas e graças ao ar respirável fornecida pela carretinha, estava respirando com muitas dificuldades.

Vendo que o tempo era fator crucial para o resgate das vítimas com vida, por rádio ele se comunicou com a equipe que estava no lado de fora, ordenando que abrisse um buracão na caixa d’água, na altura de aproximadamente 1 metro. E assim foi feito, com equipamentos especial, um buraco foi aberto, por onde foram retiradas as duas vítimas, além dos socorristas que entraram no cilindro. (Veja no vídeo acima)

Um detalhe importante, foi a ação da equipe do SAMU que agiram rapidamente, entubando as vítimas ainda no local, para depois as levarem ao hospital.

Após concluído o resgate com sucesso total, os bombeiros foram muitos aplaudidos pela plateia que assistiram todo o desfecho da operação.

De Sá contou que os trabalhadores atuavam no local sem nenhum equipamento de proteção e ao adentrarem na caixa, eles começaram a aplicar uma resina epóxi, que serve para impermeabilização, que provavelmente foi misturada com outros produtos químicos, exalando forte odor, causando inconsciência aos trabalhadores.

Após dias inconscientes, trabalhadores resgatados da caixa d’água do CRASE já tiveram alta

O oficial do Corpo de Bombeiros relatou ainda que foi informado que havia uma quarta pessoa no local, que ela teria saído da caixa, antes dos efeitos do produto. Entretanto, até o momento esse trabalhador não foi identificado. De Sá falou ainda ao Perfil News que em nenhum momento, antes durante ou depois da operação foi procurado pela empresa responsável pelo serviço, bem como algum parente das vítimas.

Ele inclusive opinou que se não fosse a rápida intervenção dos socorristas, dificilmente as vítimas seriam resgatadas com vida.

EMPRESA CONTRATADA

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Durante a semana o Perfil News conseguiu apurar que a empresa responsável pelo serviço de manutenção e reparos é a empresa 3PX Serviços Especializados Ltda, que ganhou o processo licitatório de número: 000036/21, através de pregão presencial, no valor de R$ 28 mil, conforme documento (foto) obtidos no Portal da Transparência da Prefeitura de Três Lagoas.

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O Perfil News ouviu um técnico de segurança do trabalho que informou que execução de serviços em espaço confinando, principalmente onde utiliza produtos químicos só deve ser feito com uso de equipamentos de segurança (EPIS), (VER FOTO), com assistência externa de um técnico de segurança, situação que não ocorreu nessa empreitada.

ALTA MÉDICA

As três vítimas, R. F. S, de 36 Anos, L.  S. C, de 20 anos e J. M. S, de 32 anos permaneceram internadas na UTI do Hospital Nossa Senhora Auxiliadora.  Na quinta-feira, dia 8, quando o hospital divulgou o boletim informando que Hospital Auxiliadora informa que os pacientes: “Lucas de Sousa apresentou melhora clínica com alta para enfermaria geral, calmo e comunicativo. Jordan Santos apesar da gravidade está estável, recebeu alta da UTI para enfermaria geral. Está calmo e consciente.” O hospital não forneceu as informações do estado de saúde do terceiro paciente, R.F.S.

No sábado, Lucas de Souza recebeu alta e já está em casa, se recuperando, disse a mãe do rapaz.

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Durante o decorrer da semana passada, a reportagem do Perfil News (VER IMAGEM AO LADO), entrou em contato com a senhora, Claudia Cristina de Souza, mãe de uma das vítimas de 20 anos. Ela disse que até aquele momento, na tarde do dia 6 de julho, seu filho ainda permanecia inconsciente e seu estado de saúde inspirava muitos cuidados. Claudia informou ainda que naquele momento, a única assistência da empresa com ela, foi através de um Pix no valor de R$ 100, para que ele pudesse se deslocar ao hospital.

Ela informou à reportagem que seu não era registrado na empresa, trabalhava há duas semanas. Ele teria sido contratado “de boca” por uma pessoa para trabalhar especificamente no serviço de manutenção da caixa d’água. Claudia disse ainda que seu filho não tinha nenhum curso ou preparação e nem seu colega que foram contratados para o serviço. “A empresa contratou o Jordan, que por sua vez contratou meu filho para o serviço”, reiterou.

Ela disse ainda que estava revoltada de ver seu filho naquela situação e pensar que poderia tê-lo perdido, em um acidente de trabalho que nem registro tinha. Claudia disse ainda que teme seu filho ficar com alguma sequela em decorrência de ter inalado produto tóxico. “Ele se acidentou prestando serviço para uma empresa que não deu nenhum equipamento e nem suporte para eles”, disse indignada.

Conforme informações repassadas pela mãe da vítima, no outro dia, uma engenheira da empresa, identificada por Fernanda, entrou em contato pelo aplicativo WhatsApp solicitando para que ela levasse os documentos (carteira de trabalho, comprovante de residência, Cipa, RG e CPF) do rapaz à empresa, para dar entrada no seguro da empresa.  

POSIÇÃO DA EMPRESA

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Após obtidas essas informações, o diretor do Perfil News, jornalista Ricardo Ojeda entrou em contato com a engenheira Fernanda, que por sua vez disse que a empresa está apoiando a família e o paciente e que mais informações era para entrar em contato com o advogado Jorge, responsável pelo Jurídico da empresa.

Em contato com o advogado, ele disse que a empresa não iria se manifestar para nenhum veículo de imprensa e que só prestaria qualquer posicionamento através de meios oficiais, quando assim fosse exigido.

No mesmo dia, por volta das 19hs16, foi feito uma transferência no valor de R$ 1 mil, via pix para a mãe do trabalhador, usando a conta corrente do seu filho mais velho. “Eu não pedi nada à empresa e por esse fato pedi ao meu filho que não usasse o dinheiro”, disse ao Perfil News.

No mesmo horário, o advogado da empresa enviou uma mensagem em áudio e em texto, (VER IMAGEM), informando que o valor seria para auxiliá-la, caso necessitasse de alguma coisa. No momento é o que a empresa pode fazer pela senhora”.

Após dias inconscientes, trabalhadores resgatados da caixa d’água do CRASE já tiveram alta

Provavelmente preocupado com essa ocorrência, o prefeito de Três Lagoas, Angelo Guerreiro convocou uma reunião no dia 5, com integrantes da gestão para discutir medidas mais taxativas quanto a prevenção de acidentes e segurança de trabalhadores, principalmente a obrigatoriedade do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), tanto dos servidores municipais quanto das empresas terceirizadas.

A obrigatoriedade é lei e vem sendo fiscalizada à risca pela administração. Entre 2017 e 2020 não foi registrado nenhum incidente grave devido a fiscalização. No acidente envolvendo trabalhadores que faziam manutenção em uma caixa d’água, acredita-se que ocorreu descuido quanto ao uso adequado dos EPIs pelos colaboradores.

OUTRA OCORRÊNCIA SEMELHANTE

Conforme informado pelo Tenente de Sá, no dia 4 de maio passado, um acidente com as mesmas características ocorreu em um lava jato, localizado ao lado do Shopping Três Lagoas. Na ocasião 2 trabalhadores faziam limpeza em um tanque de caminhão sem o uso de EPIs e vieram a passar mal. Devido a rapidez do deslocamento e o uso de equipamentos corretos as vítimas foram retiradas do tanque com vida e encaminhadas ao Hospital Nossa Senhora Auxiliadora.

O tenente De Sá, fez questão de frisar que equipamentos de proteção é indispensável, principalmente quando trabalha em ambientes que usam produtos químicos. Nesse caso, a ausência de uso de EPIs pode causar a morte do trabalhador se não for socorrido a tempo. “Nessas duas ocorrências tivemos êxitos, graças a agilidade da nossa equipe, bem com os equipamentos que o 5º Grupamento dispõe, como a carretinha de ar respirável móvel, que apenas a unidade de Três Lagoas possui”, finalizou.

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