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domingo, 6 de outubro de 2024

Família resgatada após 17 anos de cativeiro: Jovens de 20 e 22 anos estavam com 20 kg

Acumulando os “papeis” de marido, pai e carcereiro, homem foi preso em flagrante; caso aconteceu em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro

Resgatada no último dia 28 de julho após 17 anos de cárcere privado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, em Guanabara, na zona oeste da capital fluminense, Maria [nome fictício], de 41 anos, se disse surpresa com a morte do cantor Michael Jackson, ocorrida treze anos atrás.

Ela era fã do cantor e só tomou conhecido da sua morte nesses cinco meses em que tenta recuperar o tempo roubado, mediante violência macabra, pelo homem que deveria cumprir o papel de marido e pai dos seus filhos.

Maria e os dois filhos foram trancados em casa de 2005 a 2022, por Luiz Antonio Santos Silva, o “companheiro” dela, pai dos dois filhos, e carcereiro dos três. No ato do resgate da família meses atrás, Luiz Antonio foi preso em flagrante e só então Maria e os filhos puderam ter a noção exata do que havia mudado no mundo durante o tempo em que tiveram suas liberdades subtraídas.

As crianças, por exemplo, jamais foram à escola ou receberam atendimento médico nesses 17 anos.

Foram encontradas subnutridas, com a pele já amarelada, assim como a mãe, cerca de cinco meses atrás.

Com 20 e 22 anos, os jovens tinham 20kg e 27kg quando resgatados, e viveram apenas os seus primeiros anos de vida foram do cárcere privado – o que fez com que apresentassem características físicas e mentais de crianças pequenas.

A mais velha, segundo a mãe contou do jornal O Globo, aprendeu a andar com um ano e três meses e foi diagnosticada com autismo aos 3 anos.

Ela teria regredido mentalmente após o cárcere. O pai, e posterior carcereiro, achava que o tratamento da menina seria uma “besteira” e boicotou um possível acompanhamento.

O irmão mais novo, em cativeiro desde os 3 anos, sequer pôde ser examinado até o resgate.

Família resgatada após 17 anos de cativeiro: Jovens de 20 e 22 anos estavam com 20 kg
Cama onde mãe e filhos eram amarrados por Luiz Antonio Santos Silva Créditos: Reprodução

História do casal

Maria e Luiz Antonio Santos Silva são primos de primeiro grau, mas se conheceram apenas na adolescência dela – e juventude dele.

Santos Silva morava na Bahia e visitava um parente no Rio de Janeiro quando viu a futura vítima pela primeira vez.

Após o rompimento de um relacionamento em terras baianas, Luiz Antonio mudou-se para o Rio, onde começou o romance com a prima de 17 anos, 9 a menos que ele.

Pouco antes de concluir o ensino médio, ela engravidou e, após o nascimento da filha, ele a proibiu de seguir estudando.

Maria contou à imprensa que havia muito preconceito por ela haver engravidado do primo e que, por isso, e naquele momento, o homem começou a trancá-la em casa.

Nem a própria mãe podia visitá-la.

Cinco após o nascimento da primeira filha e apenas três do segundo filho, a família se mudou para Guaratiba e o patriarca não contou a ninguém sobre o novo endereço.

Ao entrar na casa nova, a mãe e os dois filhos só iriam sair novamente 17 anos depois.

A mãe conta que após o início do período, as crianças começaram a se agitar e gritar muito, com os problemas de natureza psicológica acentuando-se.

Para driblar a situação Luiz Antonio comprou enormes caixas de som, que mantinha o dia inteiro ligadas, rendendo-lhe o apelido de “DJ” na vizinhança.

Ele então passou a amarrar as crianças na cama, muito apertadas, durante todo o tempo. Quando a mãe, após a hora de dormir, dava uma afrouxada nas cordas, e ele percebia, a agredia.

Os relatos de estupros também se fizeram presentes.

Mesmo contra sua vontade, Luiz Antonio amarrava as crianças na sala e forçava o ato sexual com a mulher no quarto.

Também surrava as crianças com fio de cobre.

Além disso, a comida era fracionada e, quando começava a faltar, apenas o patriarca se alimentava.

Maria contou ao Globo que chegou a passar mais de quatro dias sem  comer nada.

Quando disse que gostaria de se separar e levar embora as crianças, ouviu de Luiz Antonio que seria morta se o fizesse.

Família resgatada após 17 anos de cativeiro: Jovens de 20 e 22 anos estavam com 20 kg

A vida após o resgate

Além de deixar a casa caindo aos pedaços, com chão de cimento cru e cama enferrujada para uma casa melhor acabada, a mãe e os dois filhos também puderam se alimentar, ganhar peso, receber atendimentos médicos e se inteirarem das mudanças que haviam ocorrido no mundo – no caso da mãe, e conhecer o mundo propriamente dito, no caso dos filhos.

Resgatada com apenas 27 kg, a jovem de 22 anos dobrou seu peso em apenas cinco meses. O irmão de 20 anos saiu dos 20 kg para os 52kg no mesmo intervalo.

A mãe ganhou cerca de 20 kg. Familiares das vítimas juntaram R$ 90 mil em uma vaquinha para ajuda-los e, com a grana, a mãe pôde comprar um barraco em uma favela carioca e alguns móveis novos para o novo lar. Mas as coisas não são nada fáceis.

O tempo de cárcere privado e confinamento faz com que os filhos desenvolvessem o impulso libertador de sair correndo ‘para o infinito’ quando se veem na rua, ou até mesmo no quintal da nova casa. Será uma tarefa e tanto acalmar esses corações.

De toda forma, a dupla apresenta grande capacidade de recuperação.

Acostumados a comerem com as mãos e jogados no chão, os filhos puderam aprender a alimentar-se sentados à mesa e com talheres nos últimos meses.

O principal objetivo da mãe recém liberta é que em 2023 possa encaminhar a educação e o atendimento à saúde dos filhos.

Fazê-los recuperar o tempo perdido é uma tarefa monumental e talvez jamais seja cumprida à risca, no entanto quanto mais se aproximar do objetivo, melhor pode ser a vida deles daqui em diante.

Da parte da mãe, o principal desejo é voltar a estudar: terminar o ensino médio e em seguida entrar no curso de enfermagem.

* Maria é um nome fictício; o nome real da vítima foi preservado por questão de segurança.

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Informações de O Globo.

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