Com tantos registros de acidentes acontecendo na BR 262, principalmente no trecho que liga Três Lagoas a Campo Grande, a reportagem do Perfil News conversou com vários motoristas que trafegam pela rodovia para trabalharem. São profissionais do volante, testemunhas oculares de várias ocorrências registradas nessa BR.
Porém, um desses personagens é uma mulher, que de segunda a sábado enfrenta os mais de 320 quilômetros o percurso que liga, Três Lagoas à capital do Estado, percorrendo mais de 600 quilômetros, diariamente.
Nos parágrafos seguintes a história real da Edilene Ferreira, uma mulher de 41 anos, duas filhas e há anos trafega diariamente pela rodovia da morte.
COMO COMEÇOU…
Em Três Lagoas, no começo dos anos 2000, Edilene Ferreira afirmou que iria se tornar motorista de van, hoje, a mulher não só ama o que faz da vida, como ainda é pioneira na profissão, ainda cercada por homens.
Quem a vê trabalhando não imagina o caminho percorrido até o volante. Tudo começou há 18 anos, quando o pai de Edilene adquiriu a empresa de vans. Já tem 12 anos que ela trabalha no setor de transporte, onde prestou serviços no escritório, foi cobradora e agora motorista.
Com mais de uma década de estrada, Edilene conta que já viu de quase tudo nesta vida. Realizando o trajeto Três Lagoas- Campo Grande há anos, a motorista diz que já presenciou coisas boas e ruins.
“Já vi acidentes com pessoas mortas na estrada. Já prestei socorro às vítimas. Uma vez a polícia me pediu para encaminhar uma pessoa até o hospital. Mas também existem ótimos fatores envolvendo a minha profissão. Faço o que eu amo e quando estou na estrada estou feliz”
As estradas também mudaram bastante ao logo de mais de uma década, mas ainda existem trechos extremamente perigosos. Edilene conta que um dos piores é o que liga Água Clara até o Bar do Pombo, já que grande parte do trajeto não tem acostamento.
TRECHO PERIGOSO
Outro trecho perigoso na visão da motorista é a mesma rodovia que diariamente é comentada no Perfil News. A BR-262, que também é conhecida como ‘rodovia da morte’ por colecionar acidentes, sendo vários deles presenciados por Edilene.
Durante a viagem, Edilene já presenciou e registrou inúmeros acidente ao longo da rodovia, como esse da foto abaixo ocorrido em abril deste ano, na travessia férrea próximo do trevo do distrito de Garcias
A motorista conta que o fluxo de veículos da BR-262 aumentou muito devido a instalação de uma nova fábrica de celulose na cidade de Ribas do Rio Pardo. Os condutores e até os clientes estão com receio de trafegarem pela rodovia devido às possibilidades de acidentes.
“O movimento da BR-262 movimento aumentou demais. Estamos entrando em contato com a Agems (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Mato Grosso do Sul) para mudarmos o nosso horário de passagem por Ribas do Rio Pardo e assim, desviar o fluxo de veículos. Passamos pela cidade às 17h30, momento que as pessoas estão saindo do trabalho e o movimento de veículos é muito grande. Até os clientes estão com medo. Queremos regularizar um novo horário para nós motoristas viajarmos tranquilamente e também atender a demanda dos passageiros. A estrada é muito perigosa. O percurso para sair da cidade de Ribas do Rio Pardo aumentou o tempo de 40 minutos devido ao fluxo de veículos”.
LUGAR DA MULHER É ONDE ELA QUER
Mulher no volante, perigo constante? Nada disso! Edilene prova que as mulheres estão ocupando espaços que antigamente eram exclusivamente masculinos. Nesses mais de 10 anos de estrada ela já fez de tudo. Trocou pneus, óleo, e claro, ouviu piadas machistas, mas que foram diminuindo com o passar do tempo.
Alguns registros da rodovia BR 262, captados durante a viagem à Campo Grande
“Antigamente eu ouvia muitas piadas por ser mulher e estar dirigindo, mas hoje em dia as coisas estão mais tranquilas. Raramente alguém tenta fazer uma piada, mas eu levo brincadeira e tudo se resolve”.
QUEM ACREDITA SEMPRE ALCANÇA
Com a garra de quem conseguiu realizar um antigo desejo, Edilene fala de seu amor pela profissão. Quando a equipe do Perfil News foi entrevistá-la em Campo Grande, a motorista já estava se preparando para retornar à Três Lagoas.
Mais um registro mostra abusos e irregularidade, no qual o condutor da carreta tanque faz uma ultrapassagem em faixa contínua
Mesmo que ela não ganhe nenhuma condecoração, o maior prêmio foi o que Edilene já deixou na cidade, não apenas pelo fato de ser mulher, mas como dizia a música, ‘Quem acredita sempre alcança’ e hoje pode até existir barreiras e aquele velho preconceito no mercado de trabalho, mas a motorista é categórica em dizer “Eu amo estar na estrada. Amo ter contato com as pessoas. Não desejo outra profissão. Quero continuar na mesma que estou até quando for possível”.