Família do poeta homenageia autor de “Diálogos do Ócio” no lançamento do livro com a cesta de “Dona Stella” produzida em memória da avó pela neta Joana de Barros.
O lançamento de “Diálogos do Ócio” neste final de semana na Casa-Quintal Manoel de Barros foi marcado pela emoção e reuniu artistas, escritores, políticos, ativistas culturais e fãs do poeta Manoel de Barros. Acompanhado de uma grande celebração ao poeta, com apresentação especial de Geraldo e Celito Espíndola, cerca de 400 pessoas registradas no livro ata da Casa passaram pela Casa nas quatro horas de duração do lançamento. Uma grande fila se formou para a sessão de autógrafos com a venda de cerca de 180 livros na manhã de domingo.
Representando a família do poeta estava a bisneta, Stelllinha Barros (17 anos) acompanhada da avó Maysa Leite de Barros, viúva de João Wenceslau de Barros e avó da bisneta e mãe de três netos do poeta, Manoel Wenceslau de Barros, Lucas e Jona de Barros. Joana, a mãe da bisneta e terceira geração da família do poeta, enviou de presente ao autor do livro uma cesta de guloseimas da culinária mineira e que ela produz e revende “as Cestas de dona Stella” (Instagram @cestadeDonnaStella). Outro importante famíliar presente no lançamento foi Leonardo Leite de Barros, sobrinho do poeta e herdeiro de Abílio Leite de Barros. Ele é o idealizador da Bio Carnes, organic beef, uma das primeiras empresas do setor frigorífico a vender carne orgânica do Pantanal. Leonardo morou na casa do poeta e lembra do tio como uma pessoa atenta a tudo no ambiente, “para tudo ele tinha uma boa história pra contar, assim era o meu tio”.
Leonardo se emocionou ao revisitar a casa do tio: “Hoje voltei a casa do tio Nequinho, agora Casa Quintal, um museu como quis o sobrinho querido Silvestre. Desde a passagem da tia Stella, por motivos íntimos, não havia voltado. O lançamento do livro do Bosco Martins (Diálogos do Ócio) me fez voltar ao lar de Pedro, Marta e João, primos amados. A fila na lateral da casa, usada para aquisição do livro, me fez passar por um lugar desconhecido, um corredor nunca percorrido. Um sentimento estranho encheu minha alma, só me acalmei na lavanderia, ante sala da cozinha onde tia Stella me dava goiabada misturada com leite gelado, uma iguaria mineira. Entrar na sala de jantar com aquela multidão alegre e festiva voltou a me incomodar. A mesa do jantar e a cabeceira do poeta estão lá, o lugar da tia Stella está lá, a cadeira onde sentava a mesa para comer cassoulet da velha mineira está lá. Olhei para o lado e tudo fez sentido, lá estava Stellinha neta do João, me senti em casa. Passei do lado do sofá do poeta, o lugar onde sempre sentou está lá! Senti um sorriso maroto, mandei outro de volta. A foto do meu pai está lá, sempre junto do Irmao que amava. Hoje foi um bom domingo, parabéns Bosco, parabéns Silvestre!!”
O presidente da Academia Sul-mato-grossense de Letras (ASL), Henrique Medeiros, acadêmicos Sérgio Cruz e Abraão Razuk, a escritora Iolete Moreira, Albino Romero, presidente da Casa Paraguaia prestigiaram as celebrações. Políticos ligados à cultura também passaram pela Casa-Quintal Manoel de Barros – políticos como o ex-secretário de saúde do Estado e deputado federal Geraldo Resende, ex-deputado e presidente do PSB Paulo Duarte, ex-senador Valter Pereira, e ex-vereador Athayde Nery. Geraldo Resende disse que o livro “mostra o quanto a obra de Manoel de Barros significa para Mato Grosso do Sul e chega escrito por alguém que tinha uma proximidade grande com ele”.
Marcelo Miranda, secretário de Cultura do Estado, representando o governador, destacou a importância da publicação para a afirmação do patrimônio literário do Estado e, também, do Brasil. “Manoel de Barros colocou Mato Grosso do Sul no mapa da cultura brasileira e se tornou um patrimônio da Literatura Brasileira. Trazer essa contribuição ao legado e memória desse grande poeta é de uma importância sem tamanho”. Miranda aproveitou para comemorar no ato a valorização da política cultural no Estado.
Edu Mendes, diretor-presidente da Fundação de Cultura, disse que o livro “Diálogos do Ócio” é uma “contribuição de impacto” para o acervo histórico da produção cultural. Reforçou a imortalidade e o legado de Manoel de Barros e revelou que o livro já faz parte do acervo bibliotecário do Estado. Ao agradecer a produção e organizadores da semana comemorativa aos 107 anos de Manoel de Barros, Bosco Martins propiciou momentos de descontração tomando depoimentos e pedindo declamações de poesias. Chegou a se emocionar ao se referir a Geraldo Espíndola e Celito Espindola a família de artistas que segundo ele “se tornou um ícone da literatura musical de Mato Grosso do Sul”
e contribuiu, “para junto de Manoel de Barros, Zé Hamilton Ribeiro, os Espindolas, Tetê, Humberto, Geraldo, Celito, Jerrry e Sérgio como vanguardistas na divulgação de MS no Brasil e no mundo.”
Bosco destacou no evento de lançamento, também, a presença de um antigo fornecedor de nutrição animal que por muito tempo trabalhou para o filho do poeta, João Wenceslau, e tornou-se da família. Todos que lembravam de momentos alegres com Manoel de Barros também trazem na memória estrofe de algum poema.
Cezinha, apenas, como ele se apresentou quando o assunto é a relação com o poeta, se lembrou de frases ouvidas no dia a dia e que acabaram se constituindo em releitura da obra do poeta, como “Socó, socando”; “Borboleta são asas voando”, etc. Frases ditas, por ele e observando aquilo que o mundo real despreza e não enxerga, como o que encontrar debaixo de uma pedra.
Athayde Nery, ex-vereador, ativista cultural e poeta que assim como Bosco fazia declamações quando visitava Manoel de Barros, declamou poemas do dele encantando a plateia. Bosco, declamou um poema de outro Manoel, o Manuel Bandeira do qual Barros gostava muito denominado “Infância” e que finaliza com o seguinte trecho: “E, eu não sabia, eu não sabia, que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé”.
“A liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças”, citou citou o autor. O que chama a atenção e o livro de Bosco Martins proporciona isso, segundo o editor e escritor Douglas Diegues, é a possibilidade de se entender de forma muito leve, a conjugação de sonho com realidade. Nesse aspecto Manoel de Barros não tinha nenhum pudor com a realidade e poetizou sua aclamação como “idiota”, o deixou “soberbo”, desafiando a lógica e a imaginação, tudo que estiver ao alcance do seu quintal, na área urbana e rural. O livro “nos faz penetrar no universo da Manoel de Barros e penetrar no universo da Manoel de Barros é mergulhar na poesia”.
Na sessão de autógrafos, dois escritores corumbaenses retribuíram entregando livros de autoria deles para o jornalista Bosco Martins. Alessandro Sputinicki entregou exemplar de “Doce Diabo” e Wandersony Ligier a publicação “Loisa e o Diabo”. Sobre os títulos das publicações, Bosco brincou com os autores na coincidência do Diabo, no título, ao que recebeu a justificativa: “cidade muito quente”. Corumbá é uma das cidades do Estado onde a literatura é muito intensa, berço de vários autores relevantes.
A semana de diálogos
A semana dos 107 anos de nascimento do poeta Manoel de Barros segue nesta segunda-feira, 18, exibição de audiovisual; terça-feira, 19, Diálogos com Escritores; quarta-feira, 20, Diálogos com Educadores; quinta-feira, 21, Diálogos da Cultura; sexta-feira, 22 de dezembro, Uma Prática Casa-Quintal, Diálogo Capacitistas, e Brincar Heurística.