A proximidade das festas de Ano Novo causa apreensão em quem tem animais de estimação e nas ONGs de proteção animal de Mato Grosso do Sul. Isso porque, mesmo que a queima de fogos de artifício barulhentos seja proibido no Estado, a prática ainda é comum.
Com os ouvidos mais sensíveis, os animais podem entrar em pânico quando têm início as comemorações de Réveillon. Os fogos não assustam apenas os animais. O som também prejudica os idosos, as crianças e os autistas.
Não é a toa que o debate sobre a utilização de fogos de artifícios ruidosos ressurge em todo fim de ano: os relatos que narram acidentes envolvendo bichos de estimação, como cães, gatos, roedores e aves são supercomuns no primeiro dia de cada ano. E os tutores querem dar um basta.
No caso dos bichos, a dor no ouvido aliada ao medo do desconhecido pode fazer com que muitos animais tentem fugir de casa ou procurem se esconder – o que muitas vezes pode resultar em acidentes. São comuns histórias de animais, principalmente, cães, que se machucam, fogem de casa e até morrem porque se assustam com os fogos nesta época do ano.
LEI ESTADUAL
Em 2021, os deputados estaduais de Mato Grosso do Sul aprovaram uma proposta que altera dispositivo da Lei 1.268, que restringe o comércio de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos no Estado.
Com a mudança, o artigo 7º teria mais um parágrafo, com a seguinte redação: “Fica proibido o manuseio, a utilização, a queima e a soltura de fogos de artifícios com efeito sonoro/estampido, assim como de quaisquer artefatos pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso em todo território do Estado de Mato Grosso do Sul”.
Cerca de 17 a 49% dos cães podem ter aversão ao ruído (LANDSBERG et al; 2015). Os medos e as fobias que os cães podem sentir quando ouvem barulhos excessivos geram estresse recorrente e situações de ansiedade, principalmente quando se trata de ruídos muito altos e repentinos, como os de trovões, fogos de artifício, tiros, bombas e etc.
MEDO E SEQUELAS
A Luna é o bichinho de estimação da estudante Fabiola Marques. O animal corre, brinca e quer colo o tempo todo, principalmente quando tem barulho. A tutora conta que por causa dos trovões, no período chuvoso, a atenção é redobrada. “Ela sempre foi muito medrosa”, disse Fabiola.
A perturbação causada pelo barulho excessivo pode trazer diversos prejuízos para a saúde dos animais. Entretanto, existem formas eficazes para protegê-los, visando minimizar o desconforto auditivo, além de promover o bem-estar, prevenir o surgimento de doenças que podem eventualmente surgir em virtude de alterações hormonais e imunológicas provocadas pelo estresse prolongado e também proporcionar melhor qualidade de vida e maior longevidade.
Pensando nisso, veremos a seguir as diversas estratégias que são eficazes para orientar os tutores sobre como amenizar o barulho de fogos para cachorros, gatos e até mesmo outros pets.
Por que o barulho de fogos é tão prejudicial?
O barulho alto, repentino e em excesso dos fogos e semelhantes é prejudicial para animais e também para os humanos. Pacientes hospitalizados, além de crianças, idosos ou indivíduos que possuam outras condições, como autismo e esquizofrenia, podem ser afetados.
Além disso, o medo ou a fobia de barulho afeta cães, gatos, animais em situações de vulnerabilidade e sem abrigo e também muitas outras espécies de animais domésticos, silvestres e selvagens, como as aves de vida livre. Todo esse cenário pode até levar a óbito.
Em comparação aos seres humanos, os cães possuem maior sensibilidade auditiva aos estímulos sonoros, fator essencial para a defesa e a sobrevivência de determinadas espécies que possam ser presas fáceis quando em vida livre. Dessa forma, as funções de guarda e caça são facilitadas, pois estão fortemente associadas ao sistema auditivo.
O sistema auditivo canino consegue captar sons de até 40 mil hertz, já o dos seres humanos pode captar sons de até 20 mil hertz. Ou seja, é apenas metade da capacidade canina (HOROWITZ, 2010).
A função auditiva é essencial para diferenciar as frequências e intensidades de sons, possibilitando o reconhecimento de situações que possam representar perigo. Ainda por meio da conexão direta do ouvido interno com os mecanismos neurais, é possível enfrentar situações possivelmente ameaçadoras, facilitando a defesa dos indivíduos.
Vale ressaltar que nas épocas do ano em que a queima de fogos costuma ser mais frequente, há um aumento nas buscas por atendimento veterinário, principalmente nas clínicas e hospitais 24h. Há muitos casos de animais que procuram refúgio em lugares impróprios e perigosos, há maior risco de atropelamento e os pets podem ficar em estado de choque em virtude do barulho excessivo.
Barulho de fogos e os pets: dicas para tutores de cães e gatos
Um estudo realizado com 45 cães da raça Beagle, com idades entre 2,7 e 17 anos, destacou importantes diferenças individuais na manifestação do comportamento de medo e ansiedade entre os animais, evidenciando as individualidades de cada animal em relação a forma na qual o mesmo pode vir a manifestar o estresse e ansiedade, assim como a forma que determinados fatores podem ser mais estressantes para alguns indivíduos do que para outros.
Não soltar fogos de artifício é a forma mais eficaz de prevenir os problemas causados pelo barulho. Porém, como na maioria das vezes não há como ter controle sobre isso, outras estratégias eficientes podem ser recomendadas aos tutores.
Algumas técnicas de relaxamento, oferta de brincadeiras como reforço positivo durante a exposição do animal aos barulhos causados pelos fogos de artifício e até mesmo o uso de medicamentos são algumas das possibilidades que podem ser recomendadas pelo Médico-Veterinário após avaliação de cada caso.
A administração de agentes psicoativos alopáticos e homeopáticos, além de nutracêuticos, feromônios sintéticos, florais de Bach e aromaterapia são estratégias terapêuticas que podem auxiliar, mas devem ser indicadas ao paciente de forma individualizada pelo Médico-Veterinário, que poderá identificar a real necessidade de tratamento, definindo o protocolo adequado para cada caso.
O profissional também deve alertar os tutores quanto ao perigo em fornecer medicamentos (incluindo os calmantes) aos animais sem a devida recomendação, já que pode causar, inclusive, quadros de intoxicação e em alguns casos até a morte.
Confira abaixo nove dicas para tutores de gatos e cães:
- Criar um ambiente aconchegante para o pet
O tutor deve preparar um local seguro para abrigar o pet, preferencialmente dentro de casa, por já ser um local ao qual o animal já está familiarizado. Portas, janelas e cortinas devem estar fechadas para reduzir a entrada dos sons e ruídos externos. E é imprescindível que elas sejam mantidas fechadas durante os eventos barulhentos, pois o animal assustado pode fugir desnorteado e ir para a rua ou até mesmo se ferir em grades, lanças etc.
- Manter o comportamento calmo e positivo, passando confiança ao pet
O tutor deve estar junto ao animal, proporcionando tranquilidade e segurança ao pet, visando acalmá-lo. Já há estresse e ansiedade em virtude do barulho de fogos de artifício, portanto, se o tutor demonstrar agitação, vai acabar fazendo com que o animal fique ainda mais agitado.
- Aumentar, gradativamente, volumes de sons internos
Ligar a televisão ou tocar música e aumentar, gradativamente, o volume durante a queima dos fogos de artifício pode ajudar o pet a não sentir tanto desconforto auditivo por causa do excesso de barulho externo.
- Usar a técnica “Tellington touch”
A técnica “Tellington Touch” também é conhecida como “TTouch” e “toque do pano”. Trata-se de um método usado por tutores e Médicos-Veterinários para amenizar fobias, traumas e o sofrimento proveniente de alterações neurológicas, ósseas e até gastrointestinais, além estimular a liberação de hormônios que ajudam na redução do estresse do animal.
A técnica envolve massagens com a ponta dos dedos e palmas das mãos. O corpo do animal, geralmente, é envolvido de forma confortável em um pano (com o uso de bandagens ou faixas de tecido), gerando certa pressão e resultando na ativação do sistema nervoso autônomo do animal.
Essa ação pode promover maior sensação de segurança e tranquilidade para os pets durante tempestades, queima de fogos de artifício e demais eventos que promovam altos ruídos.
- Não deixar o cão preso
O animal não deve estar preso a guias, pois pode se assustar com o barulho excessivo e se ferir gravemente. Coleiras do tipo peitoral são mais seguras, mas ainda assim não é recomendado que o animal fique preso nesses períodos. A coleira pode ser usada sem a guia, apenas para manter a plaquinha de identificação no animal.
- Não alimentar o animal perto do horário dos fogos
Não é indicado alimentar o animal minutos antes ou durante a queima de fogos, pois com o estresse e a agitação pode resultar em engasgos.
- Manter o pet identificado
A devida identificação pode auxiliar na localização do pet perdido em casos de fugas causadas pela queima de fogos. O tutor pode adotar:
placas na coleira do animal que contenham nome e telefone dos tutores;
microchip (dispositivo colocado sob a pele do animal com todos os dados que identificam o tutor e o endereço).
Ainda assim, é altamente recomendado o uso das plaquinhas, já que qualquer pessoa consegue facilmente identificar os dados do tutor.
- Não deixar o pet sozinho durante a queima de fogos
Durante a queima de fogos e tempestades, recomenda-se que os tutores permaneçam em ambiente seguro e apropriado junto aos seus animais para monitoramento e diminuição do estresse.
- Saber a localização da clínica veterinária 24h ou hospital mais próximos
Em casos de emergência é de extrema importância que o tutor esteja atento e leve o animal o quanto antes para a clínica ou hospital veterinário 24h mais próximo. O cuidado precoce pode fazer toda a diferença no prognóstico e desfecho do caso.
Por isso, é altamente recomendado que o tutor tenha registrado em local de fácil acesso o número do telefone e o endereço do local para atendimento veterinário, já que animais machucados ou em choque por consequência dos fogos podem precisar de socorro imediato!