O secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento, Jaime Verruck, diz estar otimista sobre a retomada das obras da UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III), mas o prazo para o empreendimento entrar em operação continua distante. Conforme o chefe da pasta, a construção pode ser retomada em um ano, mas a conclusão do trabalho deve demorar, no mínimo, mais três anos.
“Estamos em tratativas com a UFN3 há um ano. A Petrobras informou nesta semana que está terminando a contratação de uma empresa que vai fazer uma avaliação do projeto. As propostas já foram recebidas e a expectativa é que até o final de fevereiro ou no início de março vamos conseguir saber qual empresa vai realizar a avaliação da Unidade. Pois só a partir dessa avaliação a Petrobras consegue saber qual o valor do montante que vai precisar ser investido”, disse o secretário.
A fábrica foi lançada no governo Dilma Rousseff e paralisadas desde 2014 com 80,95% do projeto concluído. A Petrobras chegou a negociar a unidade com a russa Acron, mas as conversas foram suspensas em 2022.
AGENDA CANCELADA
No final do ano passado, estava agendada uma visita do presidente da Petrobras, Jean Prades, a obra paralisada desde 2014. No encontro, também estava prevista a presença do vice-presidente, Geraldo Alckmin, do governador do Estado e também da ministra do planejamento, Simone Tebet.
“O Brasil precisa de nitrogenados e estamos convictos que a obra vai sair. Pelo que sabemos a empresa vai ter um período de 12 meses para realizar a avaliação. Depois mais dois anos de obra. Em uma avaliação minha, em três anos a UFN3 pode estar operando”, adiantou Verruck ao Perfil News.
Apesar de não estarem incluídas no PAC, autoridades dizem que as obras da UFN3, paralisadas, serão retomadas. A ministra Simone Tebet, anunciou que as coisas ‘vão caminhar’.
A UFN3 também será capaz de produzir gás carbônico, produto usado como matéria-prima de vários segmentos da indústria, de equipamentos médicos a refrigerantes.
A UFN3 também teve suas obras paralisadas no auge da Operação Lava Jato. A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi uma iniciativa de um consórcio liderado pela Petrobras, que era composto pela estatal de petróleo chinesa Sinopec e também pela Galvão Construtora.
A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi projetada para ser a maior do segmento na América do Sul, e que poderá ser capaz de suprir quase 20% da demanda interna do produto, que é majoritariamente importado de países em conflito, como Rússia e Belarus, mas desde que a construtora Galvão e diretores da Petrobras foram citados na operação comandada por Sérgio Moro a continuidade dos investimentos foi se tornando inviável.
TENTATIVA DE VENDA
Depois da Operação Lava Jato, a Petrobras, em seu programa de reestruturação, deu início a uma estratégia de venda de ativos e de parar de investir em qualquer atividade que não fosse a extração de petróleo bruto.
A produção de fertilizantes foi incluída neste programa. A estatal, de lá para cá, tentou vender a UFN3 por três vezes, mas não teve êxito em nenhuma delas, dada a complexidade e a dimensão da operação.
Chegou mais perto em 2019, quando a Acron, com fortes ligações com o governo russo, compraria a unidade em consórcio com a estatal boliviana YPFB. A destituição de Evo Morales, porém, fez com que os russos mudassem de planos.
Mais tarde, houve uma nova investida com a Acron, sem êxito, sobretudo após autoridades brasileiras exporem a intenção da Petrobras: a de tentar rebaixar a unidade de processadora e indústria de nitrogenados para uma mera misturadora.
Após o fornecimento de fertilizantes para o mercado brasileiro ficar ameaçado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a paralisação das unidades produtoras no Brasil e a dependência local ficaram expostas.
Foi preciso um esforço diplomático da ex-ministra da Agricultura e senadora eleita Tereza Cristina (PP-MS) para garantir o fornecimento pela Rússia. Ainda assim, os preços desses produtos essenciais para a produção agrícola dispararam no mercado internacional no ano passado.
Ano passado, os fertilizantes já tiveram uma queda, mas o entendimento, no núcleo do governo federal, é que o setor de fertilizantes é estratégico para o Brasil, que não pode ficar a mercê da flutuação dos preços em função da instabilidade das regiões produtoras.
Em 2018, quando uma due dilligence (vistoria para compra) foi realizada na UFN3, foi constatado que a unidade precisaria de pelo menos US$ 1 bilhão para ser concluída. Em reais, foram aplicados mais de R$ 3 bilhões em sua construção. Atualmente, não há uma avaliação do investimento necessário para retomar a obra.