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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Conselheiros do CGIAR conhecem tecnologias sustentáveis para o Cerrado

Algumas das principais soluções tecnológicas desenvolvidas pela Embrapa Cerrados (DF) e parceiros para uma agricultura mais sustentável foram apresentadas em Dia de Campo na manhã do dia 14 de junho a 46 integrantes do Conselho do Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR). O evento encerrou o encontro do Conselho, realizado de 10 a 14 de junho na Embrapa Sede, que culminou na assinatura de um memorando de entendimento entre a Embrapa e o CGIAR para fortalecer a colaboração no desenvolvimento de pesquisas sobre sistemas alimentares resilientes frente às mudanças climáticas.

Maior grupo mundial de centros de pesquisa de sistemas agroalimentares com financiamento público, o CGIAR reúne 15 centros de pesquisa agropecuária temáticos, de produtos ou ecorregionais, distribuídos em diferentes países, principalmente no Hemisfério Sul, com missão e estratégia semelhantes à da Embrapa e com foco sobretudo em pequenos produtores fragilizados. 

O Conselho do CGIAR (CGIAR System Council) é responsável pela definição e implementação da visão, estratégia, programação financeira e desempenho, além de avaliações e análises de impacto do CGIAR. É composto por representantes dos países e entidades doadores, países anfitriões (que sediam centros de pesquisa do CGIAR), países receptores das pesquisas, países com relevante pesquisa agropecuária (como o Brasil, com a Embrapa) e parceiros. O pesquisador Pedro Machado, da Embrapa Arroz e Feijão (GO), representa a Empresa no Conselho desde 2016 e conduziu o grupo que visitou a Embrapa Cerrados.

Na abertura do Dia de Campo, Sebastião Pedro, chefe geral da Embrapa Cerrados, destacou a missão da Unidade de gerar soluções tecnológicas para os problemas da agricultura e da pecuária brasileira. “Ao longo de 49 anos, nossa preocupação tem sido a produção de alimentos, de fibras, de biocombustíveis e, atualmente, a sustentabilidade do Bioma Cerrado, mantendo a capacidade produtiva para a geração atual e as seguintes”, comentou. 

Ele citou o envolvimento do centro de pesquisa com o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestas Sustentáveis (PNCPD). “Temos cerca de 40 milhões ha de pastagens degradadas, o que equivale a quase a mesma área que o País utiliza para produzir alimentos. A reconversão dessas pastagens degradadas em ambientes produtivos e revitalizados nos dará uma capacidade enorme de produção de alimentos para o mundo, bem como permitirá uma grande captura de carbono e a melhoria dos solos”, comentou, acrescentando que a ideia é utilizar um novo modelo de agricultura, baseado em processos biológicos, e não mais em insumos químicos.

Bioanálise de Solo

A pesquisadora Ieda Mendes palestrou sobre saúde do solo e a tecnologia Bioanálise de Solo (BioAS), destacando que a evolução a agricultura brasileira tem estreita ligação com a adoção de tecnologias que contribuem para a saúde do solo, como o Sistema Plantio Direto (SPD), os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e do uso do capim braquiária, considerado um dos melhores insumos biológico, químico e físico para os solos tropicais brasileiros.

Lançada em 2020, a BioAS consiste na inclusão de duas enzimas relacionadas ao funcionamento da maquinaria biológica solo (beta-glicosidase, do ciclo do carbono, e arilsulfatase, do ciclo do enxofre) nas análises de solo de rotina. Elas atuam como bioindicadores da saúde do solo. “É como um ‘exame de sangue’ do solo, permitindo a antecipação de problemas assintomáticos de saúde do solo antes que eles se reflitam em perdas de produtividade na lavoura”, comparou a pesquisadora, lembrando que solos saudáveis são mais produtivos, mais resilientes a condições adversas, como a falta de chuvas, além de produzirem grãos de melhor qualidade nutricional.

Mendes explicou que as enzimas são mais sensíveis que a matéria orgânica para a detecção de mudanças no solo em função das práticas de manejo adotadas, têm correlação com a produtividade de grãos e podem ser analisadas de forma simples. “Elas podem ser mensageiras de boas ou más notícias”, afirmou, acrescentando que a escolha das duas enzimas é resultado de mais de 20 anos de pesquisas na Unidade.

O uso dessas enzimas permite, ainda, o acesso à memória do solo. “Elas não estão associadas somente à porção viva dos organismos do solo. Quando as células morrem, as duas enzimas podem ser adsorvidas nas partículas de argila e na matéria orgânica do solo. Dessa forma, refletem gerações passadas de organismos que estavam presentes naquele local”, disse.

A pesquisadora falou sobre o protocolo desenvolvido para interpretar a atividade das enzimas. As coletas de solo seguem o mesmo procedimento usado nas análises químicas. A calibração para determinar os níveis adequados de atividade enzimática em cada tipo de solo é feita utilizando os mesmos princípios aplicados na calibração dos níveis de nutrientes do solo.

Com isso, foram geradas as curvas de resposta das enzimas em função da produtividade de grãos em experimentos realizados em sistemas de longa duração. Hoje, a pesquisa conta com um algoritmo interpretativo que estima a os níveis de referência das enzimas em função do teor de argila no solo. “Calibração é a palavra chave para o desenvolvimento dessa tecnologia”, afirmou.

Segundo Mendes, a BioAS, mais que determinar da atividade de duas enzimas do solo, envolve também o cálculo do Índice de Qualidade do Solo (IQS), que integra parâmetros químicos e biológicos com base em três funções – ciclagem, armazenagem e fornecimento de nutrientes. “Sabemos que IQS mais elevados correspondem a solos com grande potencial produtivo, e o oposto é verdadeiro”, apontou. Ela explicou que a interpretação dos dados é facilitada com o uso de um sistema de cores seguindo a mesma lógica de um semáforo.

“O ponto é que no Brasil estamos fazendo uma transição da tradicional análise de solo, totalmente baseada num conceito mineralista, para uma análise de solo mais holística e abrangente. Agora o produtor pode verificar a capacidade do solo de ciclar, armazenar e fornecer nutrientes. É uma visão que vai muito além de simplesmente abordar a falta ou do excesso de nutrientes”, destacou.

No momento, 33 laboratórios comerciais treinados pela Embrapa e credenciados da Rede BioAS estão habilitados a utilizar a tecnologia. Os laboratórios estão conectados a uma plataforma web que faz a interpretação dos resultados das determinações da atividade enzimática e calcula o IQS e a pontuação das funções ciclagem, armazenagem e fornecimento de nutrientes. Os dados são armazenados em uma grande base de dados.

“Agora podemos dizer se o solo está saudável, ficando doente, doente ou em recuperação a partir da combinação entre a função de ciclagem de nutrientes, associada às enzimas, e a função de armazenamento de nutrientes, associada ao carbono orgânico do solo e à Capacidade de Troca de Cátions”, disse, explicando que os solos saudáveis têm alta pontuação nas duas funções.

Mendes apresentou diversos exemplos de uso da BioAs em amostras de solos coletados em grandes e pequenas fazendas de diferentes estados do Brasil, bem como o mapa da saúde do solo no País que está sendo construído a partir das amostras do banco de dados da BioAS. Até junho, a base de dados da plataforma contava com mais de 35 mil amostras. Ela também mostrou dados do Paraná, de Mato Grosso e de Minas Gerais apontando a correlação da produtividade na cultura da soja com a saúde do solo em diversos municípios desses estados.

Ela apontou que um dos desafios da agricultura do século XXI é o de uma agricultura multifuncional, que não apenas produz alimento como também presta serviços ambientais. “A qualidade e a saúde do solo são um serviço ambiental muito importante. E agora queremos ser pagos por esses serviços ambientais. Para certificar as fazendas, precisamos de métricas, e a BioAS pode ser usada como métrica para separar os produtores que investem na saúde do solo daqueles que não fazem um bom manejo e causam problemas à saúde do solo”, disse, acrescentando que a melhor forma de manter a saúde do solo é imitar a natureza, diversificando os cultivos, com o mínimo revolvimento do solo, utilizando plantas de cobertura, palhada, animais e árvores. “Dessa forma, promovemos uma agricultura baseada em processos, com menor dependência de insumos químicos”, concluiu a pesquisadora.

Serviços ecossistêmicos

Ao fazer a apresentação sobre a integração entre serviços ecossistêmicos e boas práticas agrícolas no Brasil, o pesquisador Felipe Ribeiro falou sobre o Código Florestal, que determina a conservação de pelo menos 20% da área natural da propriedade, conforme a região. Ele explicou que os serviços ambientais são ações humanas de manejo nos sistemas naturais ou em agroecossistemas, enquanto os serviços ecossistêmicos refletem direta ou indiretamente benefícios gerados pelo funcionamento dos ecossistemas naturais.

“Temos que entender o que estamos fazendo com o nosso único planeta. Não há outro. Como parte da natureza, temos que entender como nós, tomadores de decisão, vamos ajudar na prestação destes serviços, fazendo da agricultura como um serviço ecossistêmico”, disse.

O pesquisador mostrou a posição central do Bioma Cerrado no Brasil e falou sobre algumas características necessárias à compreensão da savana, como a distribuição de chuvas ao longo do ano, com a estações das águas e de seca. “Precisamos lidar com essas condições ou encontrar outra solução. É o segundo maior bioma brasileiro, com 204 milhões ha”, afirmou, acrescentando que o bioma é um hotspot porque provê serviços ecossistêmicos como a regulação da água em diversas bacias hidrográficas, a preservação da biodiversidade, conservação da terra, o sequestro de carbono, a polinização de culturas agrícolas e a produção de alimentos, entre outros.

Ele explicou que o Cerrado é o grande berço das águas do País, onde nascem as bacias do São Francisco, do Paraná-Paraguai e do Araguaia-Tocantins, contribuindo para quase o suprimento de quase 70% das bacias hidrográficas brasileiras, com impactos inclusive na Bacia Amazônica. Também falou sobre os diferentes grupos fitofisionômicos do bioma – florestas, savanas e campos – e os potenciais de prestação de serviços ecossistêmicos e de uso de mais de 350 espécies vegetais nativas conhecidas, como o pequi e mangaba.

Outro ponto destacado foi a recomposição de áreas degradadas, um dos serviços ecossistêmicos que pode ser prestado pelo produtor com o auxílio da plataforma eletrônica e gratuita WebAmbiente, que integra uma política pública de adequação ambiental da paisagem rural do Ministério do Meio Ambiente.

“Podemos aprender com quais principais espécies de plantas podemos começar a recomposição de uma área. Temos no Cerrado quase 13 mil espécies nativas conhecidas. Com a plataforma, simulamos as estratégias adequadas para a recomposição”, explicou Ribeiro, citando a biblioteca digital disponível na página do WebAmbiente e apresentando um exemplar do Guia de plantas do cerrado para recomposição da vegetação nativa, disponível para download gratuito.

Entre as iniciativas de adequação ambiental da paisagem rural citadas pelo pesquisador está o projeto FIP Paisagens Rurais, realizado com recursos do Banco Mundial e em parceria com a empresa de cooperação alemã GIZ e instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), envolvendo a recuperação de pastagens degradadas, a recomposição da vegetação nativa e o monitoramento por sensoriamento remoto de 4 mil propriedades rurais, com assistência técnica aos produtores e análises econômicas.

“Agora apresentamos ao produtor como restaurar Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e como restaurar pastagens, no mesmo cardápio de soluções”, disse, citando como exemplo as ações de recomposição ambiental em atendimento à legislação ambiental na Fazenda Guzerá da Capital, no Distrito Federal, iniciadas em 2011 no âmbito de outra iniciativa já concluída – o Projeto Biomas, promovido em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ribeiro lembrou que as grandes fazendas ocupam 76% das áreas rurais, mas representam apenas 10% do total de propriedades rurais. “Por isso, temos que ter diferentes técnicas e estratégias para recuperar áreas degradadas nas pequenas e nas grandes propriedades. Em cada fazenda há serviços ecossistêmicos e espécies que devem ser entendidos não apenas pelo produtor, mas pela sociedade como um todo”, afirmou, citando o Programa União com Municípios, voltado à prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, com ações envolvendo assistência técnica e extensão rural e recuperação produtiva da vegetação nativa, entre outras.

Ele ainda mostrou os resultados do Balanço Social 2023 da Embrapa, destacando que cada real investido na empresa retornou R$ 21,23 para a sociedade. “Isso é importante porque indica que estamos no caminho certo como instituição de pesquisa para a sociedade brasileira”, finalizou.

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

O pesquisador Júlio César dos Reis mostrou resultados dos estudos realizados pela Embrapa Cerrados em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Esses sistemas podem ser usados em propriedades de qualquer porte e permitem, numa mesma área, diferentes sistemas produtivos (lavoura de grãos, pecuária e floresta) por meio do consórcio, da rotação e da sucessão de cultivos, permitindo três ou mais safras ao longo do ano agrícola. Com isso, proporcionam a diversificação da produção, melhoram a qualidade do solo, incrementam a produtividade agrícola e pecuária, reduzem riscos de mercado e oferecem mais alternativas de renda para os produtores.

Ele apresentou informações sobre o cenário atual, como dados de 2019 a 2024 do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), principal programa de seguro rural brasileiro, indicando que a maior soma de dinheiro repassada aos produtores leva em conta fatores decorrentes das mudanças climáticas, como seca (62%), excesso de chuvas (20%), geadas (9%), entre outras. “Podemos constatar a relevância de sistemas como a ILPF para enfrentar as mudanças climáticas”, apontou.

Reis apontou outra importância dos sistemas integrados, que ao intensificarem o uso de insumos, contribuem para reduzir a dependência brasileira da importação de fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos. A guerra entre Rússia e Ucrânia, a partir de 2022, ocasionou o aumento dos preços dos fertilizantes no mundo. “Isso impacta na nossa economia e na agricultura, por isso precisamos aumentar a adoção de sistemas menos dependentes de insumos externos, como os sistemas integrados”, explicou o pesquisador.

Diferentes espécies de árvores podem ser utilizadas no sistema, inclusive combinadas. Além do eucalipto, mais comumente usado no Brasil, é possível utilizar espécies nativas como pequizeiro e baruzeiro, avaliadas em experimentos na Unidade. 

Um conjunto de tecnologias compõem os sistemas ILPF, como o sistema Antecipe, que mitiga os riscos da segunda safra com milho (após soja) com o plantio antecipado do milho, em consórcio com a soja, com o uso de uma semeadora adaptada. “Considerando as dificuldades causadas pelas mudanças climáticas e a estação seca aqui no Cerrado, esse tipo de tecnologia pode aumentar a resiliência do sistema, a intensificação do uso do solo e melhores resultados econômicos”, comentou o pesquisador.

Reis explicou que os sistemas de integração seguem os preceitos da agricultura conservacionista, como a diversificação de espécies, a manutenção do solo coberto durante todo o tempo e o mínimo revolvimento do solo. Segundo levantamento da Embrapa, os sistemas ILPF são utilizados em mais de 17,4 milhões ha no Brasil, sendo o sistema Integração Lavoura-Pecuária (ILP) a modalidade mais utilizada (83% dessa área).

Entre os ganhos de produtividade com o uso da ILPF, o pesquisador citou os resultados de estudos mostrando o aumento na produção de carne bovina com a melhoria da qualidade das pastagens quando em integração com lavouras de grãos; bem como na produção de leite e de impactos positivos na reprodução de bovinos leiteiros (raças Gir Leiteiro e Girolando) em virtude do conforto térmico proporcionado pelas sombras das árvores nos sistemas que utilizam o componente arbóreo.

Outro ganho do sistema apresentado por Reis é o aumento da eficiência do uso de fertilizantes. Ele citou o resultado de um estudo que mostra o melhor aproveitamento do adubo fosfatado residual em soja, que obteve volume de grãos por kg de fertilizante residual quando rotacionada com gramíneas forrageiras quase três vezes superior ao da soja solteira. Nas imagens apresentadas, as raízes das forrageiras no sistema integrado promovem maior ciclagem de nutrientes, o que ajuda a explicar esse resultado. Além disso, essas raízes abrem canais no solo que serão utilizados pelas raízes das culturas seguintes para a absorção de nutrientes em profundidade no solo. 

Também foi apresentada uma revisão de literatura científica sobre pesquisas com o uso dos sistemas integrados e o aumento da produtividade na cultura da soja em áreas onde gramíneas forrageiras foram usadas como plantas de cobertura, indicando incrementos de mais de 11 sc/ha. “A diversificação de culturas, a formação de matéria orgânica do solo e a cobertura do solo durante todo o ano e a dessecação do capim para a formação de palhada, juntas, podem explicar esses resultados”, disse Reis.

O pesquisador destacou o papel dos sistemas de integração na mitigação dos gases de efeito estufa (GEE) no País, onde a mudança do uso da terra (38%) e as atividades agrícolas e pecuária (28,5%) representaram a maior parte das emissões nacionais de GEE em 2020, segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. “As reduções das emissões de GEE a adoção de sistemas como esses podem ajudar o Brasil a alcançar as metas internacionais de mitigação de GEE”, afirmou, apresentando exemplos de ações de certificação, pela Embrapa e parceiros privados, da produção de carne, soja e leite com redução da pegada de carbono, o que gera novas oportunidades de negócios para os produtores em mercados internacionais.

Ele também apresentou dados de uma análise sobre a dinâmica do carbono no solo em diferentes sistemas de produção, mostrando o maior poder de sequestrar e estocar carbono dos sistemas de integração em relação a pastagens de baixa produtividade e lavouras contínuas. “A ideia aqui é mostrar como esse tipo de sistema poderia melhorar o balanço de carbono, o que poderia gerar, por exemplo, créditos de carbono para venda no mercado de carbono”, comentou. Reis apresentou resultados de outro estudo mostrando que o uso do sistema ILPF em 15% da área de uma propriedade é capaz de neutralizar todas as emissões de óxido nitroso e metano (dois GEE) da fazenda.

Ao falar sobre os resultados econômicos do uso dos sistemas ILPF, o pesquisador afirmou que apesar do elevado custo de adoção, a diversificação da produção e a possibilidade de aumento da renda, a tecnologia pode retornar o investimento mais rápido que sistemas especializados de lavoura ou pecuária. Ele mostrou dados sobre o índice de lucratividade em diferentes sistemas, indicando o retorno para cada unidade monetária investida, além dos benefícios econômicos advindos da diversificação da produção na ILPF. “Podemos ver que o sistema integrado trouxe resultados melhores que os dos sistemas especializados. Portanto, é um sistema que pode ser mais lucrativo ao longo do ano, além de ser menos sensível às variações de preços dos grãos e dos produtos pecuários”, concluiu.

Reis concluiu a apresentação abordando as políticas públicas e de financiamento da adoção dos sistemas integrados – os Planos ABC e ABC+, relacionados à agricultura com baixa emissão de carbono. Com o financiamento de US$ 3,5 bilhões, o Plano ABC (2010-2020) alcançou 54 milhões ha com a implantação de tecnologias sustentáveis e conseguiu mitigar 193 milhões t de CO2-eq no Brasil. Já o Plano ABC+ (2020-2030), que somente na safra 2023/24 financiou US$ 1,3 bilhões, visa alcançar 72 milhões ha com essas tecnologias, reduzir as emissões de GEE em cerca de 1 bilhão t de CO2-eq no País, além de incrementar mais de 10 milhões ha a atual área com sistemas ILPF. “Esse programa oferece crédito a taxas de juros inferiores às do mercado em geral. Não são créditos subsidiados, a ideia é prover recursos para que os produtores adotem tecnologias sustentáveis como os sistemas de integração”, explicou.

Impressões positivas

“A reunião do Conselho do CGIR discutiu a construção de uma nova estratégia de pesquisa, e conhecer os trabalhos que vêm sendo feitos pela Embrapa Cerrados inspira os nossos colegas a construírem propostas e estratégias similares. Como a Embrapa assinou o memorando de entendimento de colaboração com o CGIAR, fica mais fácil o diálogo para identificar as temáticas com que podemos trabalhar”, disse Pedro Machado, acrescentando que a visita à Unidade complementou as discussões promovidas durante a semana e facilitou o entendimento sobre os sistemas de integração e a construção da paisagem rural.

Participante do Dia de Campo, Holger Meinke, presidente do Independent Science for Development Council (ISDC), estrutura que integra o Conselho do CGIAR, elogiou as pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Cerrados e disse que elas são altamente relevantes para o que o CGIAR faz em todo o mundo. “Pessoalmente, o que mais me impressionou foi a trajetória da agricultura brasileira desde a década de 1970 até hoje, de uma agricultura muito rudimentar para sistemas de alta performance, com ênfase na sustentabilidade e nos serviços ecossistêmicos. Isso é realmente impressionante. Penso que o CGIAR e o mundo têm conexão com a abordagem de vocês. Acredito que todos os que estiveram aqui na tiveram uma impressão muito positiva da visita”, comentou. 

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