Senadora Soraya Thronicke pode ser o maior exemplo de “meteoro político”
Por Valfrido Silva
O maior exemplo de soberba no Brasil ainda é o do ex-presidente Fernando Collor de Melo, tanto que por isso teve o mandato cassado. Nem seria o caso de relembrar do campo-grandense Jânio Quadros, também soberbo, mas que só renunciou à Presidência da República por causa um porre homérico na noite anterior ao dia do ato tresloucado. No Mato Grosso do Sul, o ex-governador Pedro Pedrossian, derrotado em sua tentativa de voltar ao poder pela quarta vez. Durante um debate na TV, ainda no primeiro turno das eleições de 1998, ele disse que àquela altura de sua vida preferiria estar pescando em sua fazenda em Miranda do que disputando aquela eleição, vencida, no segundo turno, por Zeca do PT, contra Ricardo Bacha. Em Dourados seu pupilo Braz Melo também perdeu a chance de se eleger governador, depois de sua primeira brilhante administração como prefeito, por achar que já era a última bolachinha do pacote, como ele mesmo gostava de dizer, dando de ombros à lógica da tendência eleitoral para apostar num outsider.
Fernando Collor, chefe de poderoso clã político das Alagoas, ainda sobreviveria como Senador, mas até hoje ainda ameaçado de acabar seus dias de mandato na prisão. Para Pedrossian, o engenheiro que virou governador quando chefe da Noroeste do Brasil, já era, mesmo, o fim da linha. Braz Melo ainda conseguiria voltar à prefeitura para um segundo mandato, depois de eleito vice-governador de Wilson Martins, mas aquele equívoco lá detrás impediu sua tentativa de se eleger deputado estadual, depois encerrando melancolicamente a lida na política como vereador com o mandato cassado exatamente por equívocos na segunda gestão como prefeito.
São muitos os exemplos desses pecados capitais da política. Ainda bem, para o MS, que Pedrossian só foi acometido pela soberba já no final da carreira, depois de consagrado como o melhor governador dos dois Mato Grossos, com passagem também pelo Senado por Mato Grosso do Sul. No caso de Braz Melo, foi a lembrança do deslumbre do primeiro mandato que fez Dourados perder uma de suas mais promissoras lideranças políticas. Depois dele, Murilo Zauith, também na conta dos que poderiam virar governador, nem deslumbrado nem soberbo, mas tristemente mal assessorado; depois, mais triste ainda, como sobrevivente da COVID-19, com sequelas que encurtaram ainda mais seus passos rumo ao Parque dos Poderes, a razão de ser de sua permanência na política até hoje.
É assim a política, muitas vezes vista como uma arena de poder e prestígio, atraindo indivíduos de diferentes esferas sociais que veem nela uma oportunidade de transformação e ascensão. Trajetórias que começam repletas de desafios e armadilhas. A falta de experiência, aliada à ilusão de poder eterno, contribui significativamente para o fracasso de muitos que, inicialmente promissores, acabam encerrando suas carreiras de forma prematura e desastrosa. Em Dourados, mesmo, foram vários os vereadores e deputados de apenas um mandato. Não que se encaixassem, necessariamente, nesses dois quesitos, mas perdendo grandes oportunidades e frustrando o eleitorado, como parece se repetir agora, pela conduta, até histriônica, de alguns dos atuais legisladores, tanto no Jaguaribe, no Guaicurus, quanto no Congresso Nacional, ou seja, deputados federais e senadores.
Deslumbre e soberba. Quanto mais alto, ou mais rápido, o pulo, maior o tombo, pelas armadilhas do poder. O deslumbre ocorre quando o político se deixa seduzir pelo novo poder adquirido, esquecendo-se das responsabilidades e promessas feitas aos eleitores. Muitos novatos, ao se depararem com a influência e os privilégios do cargo, perdem o foco no serviço público. Este desvio é frequentemente alimentado por bajuladores e interesses pessoais, que fazem com que o político acredite estar acima das críticas e das regras.
Pior e mais fulminante ainda é quando o deslumbramento vem acompanhado pela soberba: Soraya Thronicke. A advogada douradense que virou senadora por Campo Grande deve passar à história, daqui a dois anos, podendo até se equiparar a Fernando Collor de Melo, até pelo fato de ter tentado se sentar na mesma cadeira que foi do alagoano por tão curto espaço de tempo. Tombo cantado em prosa e verso, desde já, muito menos pela combinação desses dois fatores, mas, e mais por ter virado as costas a Jair Bolsonaro, sem o apoio de quem não se elegeria sequer vereadora em Campo Grande, até porque essa é a mais difícil das eleições.
O perigo do ego inflado
Além do deslumbre e da soberba, muitos dos novatos são também contaminados pela amnésia política, acreditando que seus mandatos são eternos, não querendo ou parecendo não querer acreditar no quanto a política é um campo dinâmico e volátil. Essa falta de visão estratégica impede que construam uma base sólida de apoio e que mantenham uma conexão genuína com a população. Foi o caso de Dilma Rousseff. Apesar de ter sido reeleita, sua falta de habilidade política para negociar com o Congresso e entender as necessidades mutáveis do país contribuiu para sua queda. O impeachment de Dilma em 2016 foi resultado não só de questões econômicas e políticas, mas também de uma falta de percepção sobre a temporariedade e fragilidade de seu mandato.
O deslumbre e a soberba são, pois, inimigos silenciosos, mas mortais, não só para políticos novatos. A política requer não apenas a capacidade de conquistar o poder, mas, sobretudo, a sabedoria de exercê-lo com humildade, responsabilidade e constante vigilância. A história política brasileira está repleta de exemplos que servem como lição para os novos aspirantes ao poder: o mandato é temporário, e a queda pode ser tão rápida quanto a ascensão. Para evitar um fim precoce e inglório, é essencial que os novos políticos – e o prefeito Alan Guedes e o governador Eduardo Riedel são os mais notórios exemplos – mantenham os pés no chão, cultivem alianças e permaneçam focados no serviço público genuíno.
Contraponto MS
Foto capa: Agência Senado