Estudo, que também incluiu Rondônia, entrevistou 22 pessoas de duas plantas da Marfrig em Bataguassu
Um relatório produzido em 2023 pela organização não governamental, Repórter Brasil, apontou falhas em diversos aspectos da relação de trabalho em frigoríficos de Rondônia e Mato Grosso do Sul.
Ao todo foram entrevistados 63 trabalhadores e ex-trabalhadores, bem como especialistas do setor, além da realização de pesquisas. Deste total, 23 são mulheres e 40 homens, dos quais 30 eram ex-empregados e 30 ainda trabalhavam nos frigoríficos.
Em Mato Grosso do Sul foram realizadas 22 entrevistas em duas plantas da Marfrigf, em Bataguassu, a 313 quilômetros de Campo Grande. As unidades são a de abate e a fábrica de hambúrgueres, considerada a mais moderna da empresa.
A maioria das entrevistas, 17 para ser mais preciso, foi realizada no abatedouro regular da Marfrig na cidade, um dos primeiros adquiridos pela empresa. Um ano depois, a Minerva anunciou que havia assumido o controle da unidade.
Entre os principais resultados das entrevistas nas plantas de Bataguassu, estão que 95% relataram problemas de saúde relacionados ao trabalho, 36% haviam sofrido acidentes de trabalho, 59% haviam sido expostos a vazamentos de amônia, 36% não faziam as pausas exigidas por lei, 73% faziam horas extras, 32% disseram não receber EPI adequado, 95% relataram desconforto térmico periódico.
As entrevistas também serviram para entender quais condições proporcionadas pela empresa os levavam a situações como as descritas anteriormente. Segundo os empregados da Marfrig, o ritmo acelerado de trabalho, cortes em dedos e mãos, dor nas costas, temperaturas extremamente baixas, ansiedade e depressão faziam parte do dia a dia dos empregados. “O trabalho é muito corrido; tinha dias em que eu tirava meu uniforme e tudo estava dolorido e queimado”, disse um trabalhador.
Outra trabalhadora contou que precisava continuar trabalhando, mesmo chorando de dor, e às vezes realizava tarefas que não estavam na descrição de seu cargo. Em licença médica havia quatro meses por ansiedade e depressão, ela disse que desmaiou dentro da fábrica e, ao voltar mais tarde para pegar seus pertences, foi obrigada a trabalhar: “É muita pressão e vai passando muito rápido. Eu estava chorando de dor, mas, mesmo assim, eles me colocaram para trabalhar.”
Dentro do próprio relatório a Marfrig se defendeu. “As afirmações sobre pressão psicológica, ritmo acelerado e acidentes de trabalho não refletem a realidade. As atividades dos empregados são realizadas dentro dos padrões legais de segurança, ergonomia e saúde, sem ritmo acelerado de trabalho, metas estabelecidas ou impostas, ou jornadas de trabalho extenuantes.”
Em último levantamento, de 2021, a área de pastagens do Brasil havia atingido 163,1 milhões de hectares. Cinco estados respondem por mais de metade do rebanho bovino do país: Mato Grosso (com 14,5%), seguido por Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará.
Propostas
De acordo com a Repórter Brasil, os atores envolvidos na indústria frigorífica brasileira que foram entrevistados concordam que o diálogo, a prevenção e a fiscalização são fundamentais para resolver os problemas que afetam o setor.
“Eles destacam três propostas para enfrentar áreas problemáticas: pausas para recuperação, exercícios no local de trabalho e redução da jornada de trabalho e das horas extras. A seguir, consideramos essas e outras medidas potencialmente importantes, antes de apresentar recomendações específicas para empresas e para as autoridades brasileiras”.
Acesse o relatório completo neste link.
Por Lucas Mamédio, Campo Grande News