A equipe da Polícia Federal (PF) responsável pela investigação do acidente aéreo que vitimou 62 pessoas em Vinhedo, interior de São Paulo, na última sexta-feira (9), aguarda os laudos do Instituto Nacional de Criminalística (INC) e da Força Aérea Brasileira (FAB) para determinar a causa da tragédia e identificar possíveis responsáveis.
Fontes ligadas à investigação informaram ao site Metrópoles que, embora seja prematuro apontar suspeitos, não se descartam as hipóteses de crime culposo, por negligência ou imprudência, e até mesmo crime doloso com dolo eventual, onde há a assunção do risco do ato, mesmo sem intenção de causar o acidente.
A PF irá verificar se a aeronave ATR 72 da VoePass, prefixo PS-VPB, estava com a manutenção em dia e se todos os equipamentos essenciais para o voo estavam funcionando adequadamente. Relatos de ex-funcionários da companhia aérea mencionam diversos problemas em aeronaves da empresa, como o uso improvisado de um palito de fósforo para solucionar um defeito no botão que aciona o sistema antigelo.
Uma falha no sistema anticongelamento é uma das principais suspeitas para a queda do avião, que despencou cerca de 4 mil metros em 1 minuto, realizando um movimento conhecido na aviação como “parafuso chato”. Dados meteorológicos indicam a presença de formação de gelo na altitude em que o avião estava voando no momento do acidente.
A conduta do piloto também será investigada, com base nas gravações das caixas-pretas do avião, que estão sendo analisadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). De acordo com reportagem da TV Globo, o gravador de voz da cabine registrou o copiloto discutindo sobre “dar potência” à aeronave minutos antes da queda, além de gritos dos passageiros.
Os investigadores destacam que a análise preliminar do áudio da cabine, por si só, não é suficiente para determinar a causa do acidente, que resultou na queda da aeronave no jardim de uma residência em um condomínio de Vinhedo.
Esse mesmo avião da VoePass havia sofrido um “dano estrutural” na cauda durante uma aterrissagem no aeroporto de Salvador (BA), em 11 de março. Uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, revelou que a aeronave ficou inoperante por quatro meses após o incidente, voltando a operar apenas em 9 de julho, um mês antes da tragédia.
Quatro dias após o acidente, na terça-feira (13), o presidente e cofundador da VoePass, comandante Felício, se pronunciou pela primeira vez. Em um vídeo, ele expressou seu pesar pelo ocorrido e afirmou que a empresa está empenhada em prestar todo o apoio necessário às famílias das vítimas.
Investigação
O relatório preliminar do Cenipa sobre as causas do acidente deve ser concluído em até 30 dias. Na segunda-feira (12), o órgão informou que completou a primeira fase de sua investigação técnica, recolhendo informações no local da tragédia.
O brigadeiro do ar Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, afirmou que o conteúdo das duas caixas-pretas da aeronave foi extraído com sucesso. O CVR, gravador de voz da cabine, capturou os diálogos entre a tripulação e a torre de controle.
Em um prazo de 90 dias, o Instituto Nacional de Criminalística (INC) deve apresentar um laudo detalhado sobre o local da queda, utilizando escaneamento 3D para reconstituir como a aeronave estava antes da remoção dos escombros.
Um segundo laudo, a ser concluído em até um ano, incluirá a análise das condições da aeronave, os “fatores humanos” envolvidos, o perfil dos envolvidos, a cronologia do acidente e os dados meteorológicos.