A venda do pacote de frigoríficos foi fechada em R$ 7,5 bilhões, mas a incidência de juros e bônus pode inflar a conta
A venda de um pacote de frigoríficos da Marfrig à Minerva Foods foi fechada, tecnicamente, em R$ 7,5 bilhões, mas os juros embutidos na operação podem transformar a transação em mais de R$ 8 bilhões, engordando o caixa da companhia de Marcos Molina.
No início desta tarde, as duas rivais concluíram a mais importante etapa do M&A, transferindo a titularidade de 13 frigoríficos — 11 no Brasil, um no Chile e outro na Argentina —, restando apenas os três abatedouros no Uruguai que a Minerva comprou da Marfrig, mas ainda aguardam a aprovação da autoridade antitruste do país sul-americano.
Para assumir os ativos no Brasil, Argentina e Chile, a Minerva pagou nesta segunda-feira R$ 5,68 bilhões, o que incluiu R$ 5,3 bilhões relativos ao preço dos ativos, R$ 265 milhões de juros e outros R$ 90 milhões de ajustes de preços que estavam previstos em contrato, como um bônus por novas habilitações — o frigorífico de Bataguassu, por exemplo, foi autorizado para exportar à China.
Somado ao montante de R$ 1,5 bilhão que a Minerva pagou em 28 de agosto de 2023 como adiantamento para fechar a transação, a Marfrig já recebeu R$ 7,18 bilhões pela venda dos ativos.
Como a companhia de Marcos Molina ainda tem cerca de R$ 750 milhões a receber pela venda dos ativos no Uruguai (R$ 675 milhões pelos ativos e o restante, em juros), a transação total poderia chegar a R$ 7,9 bilhões.
Os quase R$ 8 bilhões serão o desembolso efetivo da Minerva — um preço mais salgado do que o originalmente previsto — se a operação for aprovada pelas autoridades uruguaias.
Caso Montevidéu vete a operação, a Minerva não precisaria pagar mais R$ 750 milhões. Em compensação, ainda teria de honrar uma multa de 30% prevista em contrato, o que dá cerca de R$ 200 milhões, levando o desembolso total da empresa dos Vilela de Queiroz para R$ 7,38 bilhões.
Para a Marfrig, o benefício econômico é maior. Por ter recebido R$ 1,5 bilhão antecipadamente enquanto manteve a posse dos frigoríficos vendidos, a companhia pode ter gerado R$ 200 milhões em juros com esse capital — ou até mais, considerando que a empresa usou o dinheiro para comprar mais ações da BRF, um ativo que se valorizou desde então.
Assim, o M&A poderá render R$ 8,1 bilhões, caso a transação no Uruguai seja aprovada. Sem o Uruguai, mas incluindo a multa e juros, o negócio ficaria em pouco mais de R$ 7,5 bilhões.
No mercado, os valores envolvidos na transação castigaram a Minerva desde o anúncio, com os analistas considerando o preço salgado demais. Depois de mais de um ano, a conta ficou ainda maior.
Agora, a Minerva terá a oportunidade de extrair as sinergias e os benefícios de uma plataforma que se tornará líder disparada na exportação de carne bovina na América Latina, provando que a tese defendida no M&A vai se sobrepor aos sinais de recrudescimento do ciclo da pecuária — o boi gordo, que estava perto de R$ 200 por arroba quando o deal foi anunciado, agora passa de R$ 300.
Para a Marfrig, o ingresso de caixa será um teste de alocação de capital. Recentemente, analistas de casas como BTG Pactual e XP Investimentos demonstraram receio com a alta alavancagem da companhia, especialmente quando se exclui a controlada BRF dos cálculos.
Nas contas de Thiago Duarte e Guilherme Gutilla, do BTG, o índice de alavancagem da Marfrig sem a BRF estaria em 8,9 vezes, um patamar excessivamente alto. Considerando apenas a participação de 51% que a Marfrig possui na dona da Sadia, o indicador estaria em 5,3 vezes.
A alavancagem isolada da Marfrig não tem consequências prática na precificação dos títulos de dívida e empréstimos tomados, que consideram o grupo consolidado, mas é inegável que possuem repercussão negativa no equity, limitando o potencial de retorno dos acionistas da companhia de Marcos Molina.
No consolidado, o índice de alavancagem da Marfrig estava em 3,3 vezes no fim de setembro, um múltiplo que provavelmente cairá com os bilhões recebidos nesta segunda-feira.
Luiz Henrique Mendes – The AgriBiz