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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Adeus, Zé Gotinha? Entenda a substituição da vacina oral para seringa contra poliomielite

Essa vacina tinha a vantagem de ser administrada em gotas e ainda podia imunizar outras pessoas que entrassem em contato com o vírus excretado no esgoto

A troca da gotinha contra a poliomelite levantou um debate nos últimos dias. Adotada a 35 anos, a gotinha sempre foi eficaz e sem registro das doenças em pessoas imunizadas.

“É muito mais fácil disseminar vacina que é uma gotinha do que por meio de injeção”, observa o deputado, médico e ex-secretário de Saúde do Rio Grande do Sul Osmar Terra (MDB-RS). Conforme a coluna de Cláudio Humberto do Diário do Poder, o parlamentar ainda lembrou que a injeção é muito mais cara porque exige a compra de milhões de seringas, agulhas etc., o que gerou suspeitas de interesse econômico por trás da medida do Ministério da Saúde.

Inclusive, conforme a coluna, até a deputada Roseana Sarney (MDB-MA) cobrou explicações da ministra Nísia Trindade (Saúde), nesta terça-feira (5), sobre a estranha mudança. “Preocupações financeiras e logísticas precisam ser abordadas”, justificou a deputada ao destacar regiões com limitações ao acesso à saúde.

EFICÁCIA

Por outro lado, o Ministério da Saúde, desde a última segunda-feira (4), iniciou a substituição da vacina oral poliomielite, disse que visa aumentar a eficácia do imunizante após as baixas na vacinação que vêm sendo registradas no Brasil desde 2016.

O esquema vacinal era feito, antigamente, com 4 doses orais, ministradas entre os dois, quatro, seis e 15 meses do bebê. Em 2016, porém, foi ajustado para cinco doses: três primeiras injetáveis e as últimas duas, gotinhas. Agora, o novo calendário prevê quatro doses feitas exclusivamente com a VIP. A nova atualização fica assim:

2 MESES – 1ª DOSE

4 MESES – 2ª DOSE 

6 MESES – 3ª DOSE 

15 MESES – DOSE DE REFORÇO

Adeus, Zé Gotinha? Entenda a substituição da vacina oral para seringa contra poliomielite

A nova política marca também o fim das campanhas de vacinação anuais com a gotinha em crianças de 1 a 5 anos. A transmissão da doença ocorre por contato direto com fezes ou secreções orais de pessoas infectadas. Fatores como falta de saneamento, más condições habitacionais e higiene inadequada aumentam o risco de contágio. 

ATÉ ADULTOS

Embora seja mais comum em crianças, a doença também pode afetar adultos não imunizados. Até os anos 1980, de acordo com a superinteressante, a Organização Mundial de Saúde (OMS), explica que a doença deixava, ao menos, mil crianças paralisadas ao redor do mundo por dia. Mas essa realidade mudou – na maioria, graças às vacinas.

A origem da gotinha nesse cenário alarmante, vários profissionais da saúde correram contra o tempo para criar um imunizante que lutasse contra o pólio. Jonas Salk criou a primeira vacina contra a poliomielite em 1952, usando o poliovírus inativado. Sua aplicação em três doses garante 99% de proteção. Em 1968, Albert Sabin lançou a vacina oral, feita com vírus atenuado, que se multiplicava no intestino sem causar a doença (mas garantindo a imunização). 

Essa vacina tinha a vantagem de ser administrada em gotas e ainda podia imunizar outras pessoas que entrassem em contato com o vírus excretado no esgoto. A vacina Sabin foi preferida por ser mais barata, fácil de administrar e eficaz, sendo adotada em muitos países, incluindo o Brasil. No Brasil, devido à intensificação da vacinação, não há registros de paralisia infantil desde 1990, e alcançou seus 47 anos de sucesso no uso das gotinhas. Assim, o país foi certificado como livre da circulação do poliovírus selvagem.

Hoje em dia, a poliomielite é endêmica do Afeganistão e Paquistão, com 5 casos registrados em 2021. Em casos muito raros, o vírus atenuado pode sofrer mutações e causar poliomielite por vírus derivado da vacina (VDPV). Um tipo do vírus derivado da vacina oral pode representar risco de infecção quando é excretado nas fezes. Embora não seja o poliovírus selvagem, o VDPV é altamente perigoso em áreas com baixa vacinação ou afetadas por desastres naturais e conflitos, que comprometem o saneamento e favorecem sua propagação. 

POR QUE MUDAR?

Desde 2016 as taxas de vacinação estão em baixa no país. Em 2022, a cobertura vacinal foi de 77,20%. Em 2023, subiu para 86,55% – mas ainda longe do ideal mínimo de 95%. Por isso, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS nas Américas, incluiu o Brasil na lista de nações que correm o risco de lidarem com a reintrodução do vírus já que, quanto menos pessoas vacinadas, mais chance da doença se espalhar. 

POR QUE VACINAR? 

A vacinação é a única forma de prevenir a poliomielite e evitar o retorno da circulação. Todas as crianças menores de cinco anos devem ser vacinadas de acordo com o esquema de vacinação de rotina e nas campanhas nacionais anuais. 

POR QUE EXISTEM ALGUMAS VACINAS ORAIS E OUTRAS INJETÁVEIS? 

A principal diferença entre as vacinas orais e injetáveis é a forma de contágio das doenças que combatem, de acordo com a Fiocruz. A vacina oral é indicada para doenças transmitidas por água ou alimentos contaminados. Ela utiliza vírus atenuado, que, ao ser ingerido, segue o mesmo trajeto do vírus selvagem, estimulando o organismo a produzir anticorpos sobretudo em áreas sensíveis, como boca, estômago e intestino. 

Outras vacinas administradas oralmente no Brasil incluem as contra o rotavírus, cólera e febre tifoide. O rotavírus é prevenido em duas doses orais para crianças, enquanto a vacina contra a cólera é indicada para populações em áreas endêmicas ou em situações de crise. A vacina oral contra a febre tifoide é recomendada em casos específicos, como para trabalhadores ou pessoas em áreas endêmicas, devido à sua imunidade de curta duração.

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