(*) Por Fernando Jurado
Na publicação anterior desta coluna, defendemos que “Três Lagoas se tornou uma gigante da produção do interior do Brasil. Isso mesmo, (…) o fenômeno produtivo e os resultados econômicos advindos da produção industrial extrapolam os limites do Estado de Mato Grosso do Sul e elevam Três Lagoas a uma posição de destaque nacional.”
Comprovada a relevância de Três Lagoas no cenário brasileiro em relação ao tamanho do PIB, analisamos agora como essa pujança econômica impactou a estrutura financeira do município.
PIB: Potencial e Limitações
Embora o crescimento do PIB de Três Lagoas seja impressionante, é importante entender suas limitações. Um PIB elevado não reflete necessariamente riqueza ou qualidade de vida, pois não considera fatores como distribuição de renda, qualidade ambiental ou indicadores sociais relacionados à saúde e educação.
Essa ideia, que o economista Joseph Stiglitz chama de “fetichismo do PIB”, nos convida a analisar a realidade de Três Lagoas com objetividade. Para isso, um indicador mais direto e revelador é o desempenho da receita pública, que mostra como o crescimento econômico se traduz em benefícios concretos para o município.
Receita Pública: Reflexo do Crescimento Econômico
Os dados indicam que, em Três Lagoas, o crescimento do PIB se traduziu em uma melhora significativa na receita pública. “Em menos de 20 anos, passamos de um PIB de R$ 450 milhões (2000) para R$ 11,5 bilhões (2019). Os números são ainda mais impressionantes ao analisarmos a evolução do orçamento de Três Lagoas, que saiu de R$ 235 milhões em 2011 para cerca de R$ 1,3 bilhão atualmente” (Fernando Jurado, 25 anos de industrialização em Três Lagoas).
Reconhecida por sua forte produção agroindustrial, Três Lagoas ocupa a 136ª posição no ranking nacional de arrecadação, figurando entre as 170 cidades brasileiras que alcançam receita anual bilionária. Esse dado reforça a relevância nacional da cidade, que supera municípios maiores em população.
Comparações com Outras Cidades
A receita pública de Três Lagoas equivale, em números absolutos, à de cidades como Presidente Prudente (225 mil habitantes), Sinop (196 mil habitantes) e Franca (352 mil habitantes), todas com populações bem maiores.
Quando ajustamos esses números para uma perspectiva per capita, o desempenho de Três Lagoas é ainda mais notável: o município alcança a 26ª posição no ranking nacional, superando todas as capitais brasileiras, exceto Vitória, no Espírito Santo. Esse resultado evidencia a força econômica da cidade, que se destaca até mesmo em comparação com metrópoles como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
No contexto do Mato Grosso do Sul, Três Lagoas é um gigante regional. Embora seja a terceira cidade em termos absolutos de arrecadação no estado, lidera quando a análise é feita sob a ótica per capita, confirmando sua posição como o município de maior capacidade financeira proporcional no Mato Grosso do Sul.
Avanços e Desafios
Os recursos significativos que compõem a receita pública de Três Lagoas permitiram avanços notáveis na infraestrutura local, especialmente nos últimos oito anos. Investimentos estratégicos ajudaram a corrigir problemas históricos, como a ausência de ruas asfaltadas em áreas periféricas, deficiências na drenagem urbana e a necessidade de novos centros de educação e saúde.
Apesar desses avanços, o crescimento econômico e o aumento na receita pública ainda não foram suficientes para alinhar os resultados financeiros à percepção de melhoria na qualidade de vida da população. Esse descompasso é um ponto crítico que precisa ser analisado com atenção.
Na próxima publicação, discutiremos como Três Lagoas pode enfrentar o desafio de transformar sua robusta estrutura econômica em benefícios tangíveis para todos os seus cidadãos, reduzindo a distância entre os indicadores econômicos e a qualidade de vida.
(*) Fernando Jurado é empresário e vereador diplomado.