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quarta-feira, 5 de março de 2025

Conscientização sobre o HPV: como a desinformação e as barreiras sociais impactam a prevenção?

O papilomavírus humano (HPV) é um dos principais responsáveis por infecções sexualmente transmissíveis no mundo, podendo levar a complicações graves, como câncer de colo do útero e outras neoplasias. No Brasil, a alta prevalência do vírus reflete desafios na conscientização, acesso à vacinação e medidas preventivas. Especialistas reforçam a necessidade de combater a desinformação e quebrar barreiras sociais para ampliar a prevenção e o diagnóstico precoce.

No Brasil, o cenário é preocupante. O Instituto Butantan, estima que 9 em 10 milhões de pessoas estejam infectadas pelo vírus, com aproximadamente 700 mil novos casos surgindo anualmente. Um estudo nacional encomendado pelo Ministério da Saúde revelou também que a taxa de infecção genital por HPV de alto risco atinge 54,4% das mulheres sexualmente ativas e 41,6% dos homens.

O biomédico e professor da Estácio, Abel Melo, destaca que esses números refletem um comportamento da sociedade. “A elevada prevalência do HPV no Brasil está intrinsecamente ligada a fatores sociais e culturais. Práticas como o início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros e a falta de utilização de preservativos afetam significativamente a propagação do vírus. Além disso, barreiras socioeconômicas, culturais e o tabu sobre a vida sexual, podem limitar o acesso a informações e serviços de saúde, dificultando a prevenção e o tratamento adequado”, explica o docente.

Abel comenta que a preocupação sobre as infecções aumenta quando relacionado com o público feminino. “A alta prevalência do HPV no Brasil é alarmante, especialmente considerando sua associação direta com diversos tipos de câncer, como o colo do útero, que representa cerca de 90% dos casos relacionados ao vírus”, indica.

O biomédico revela que, na maioria das vezes, a infecção pelo HPV é assintomática, o que dificulta o diagnóstico precoce. “Quando presentes, os sintomas podem incluir verrugas na região genital, anal ou oral, conhecidas popularmente como ‘crista de galo’. Essas lesões podem variar em tamanho e forma, sendo geralmente indolores, mas potencialmente causadoras de desconforto físico”, orienta.

Prevenção e Conscientização

O enfermeiro e professor do Idomed, Bruno Ximenes, enfatiza a importância da vacinação como principal medida preventiva contra o HPV. “A vacina quadrivalente, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), protege contra os tipos mais comuns e oncogênicos do vírus. É fundamental que a população-alvo, especialmente os adolescentes antes do início da vida sexual, seja imunizada para reduzir a incidência de infecções e, consequentemente, de cânceres associados”, cita.

Além da vacinação, o médico ressalta a necessidade de práticas sexuais seguras e do uso consistente de preservativos, que, embora não ofereçam proteção absoluta, reforça significativamente o risco de transmissão. “A conscientização sobre o HPV deve ser contínua, abrangendo desde campanhas educativas até a inclusão do tema em currículos escolares, desmistificando preconceitos e incentivando o diálogo aberto sobre saúde sexual”, indica o docente.

Em 2024, o Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou a tecnologia de testagem molecular para detecção do HPV e rastreamento do câncer de colo do útero, um avanço significativo na saúde pública. “Essa nova estratégia permite um diagnóstico mais rápido e preciso da doença, aumentando a eficácia na detecção precoce. Além disso, o teste de DNA-HPV possibilita ampliar o intervalo entre os exames, passando de três para cinco anos, o que melhora a adesão e o acesso ao rastreamento”, indica o enfermeiro.

Estudos publicados na revista Nature mostram que essa nova abordagem pode antecipar o diagnóstico do câncer de colo do útero em até dez anos em comparação ao exame de citologia convencional, como o Papanicolau. Diante da alta taxa de mortalidade associada à doença, essa medida representa um avanço essencial para a meta do Ministério da Saúde de erradicar o HPV como problema de saúde pública no Brasil.

Importância do Diagnóstico Precoce

O diagnóstico precoce é fundamental para o combate eficaz das infecções por HPV e prevenção de complicações mais graves. “As mulheres devem realizar regularmente o exame de Papanicolau, que detecta alterações celulares no colo do útero indicativas de infecção pelo HPV. Os homens, embora não possuam um exame específico de rastreamento, devem estar atentos a quaisquer lesões ou alterações na região genital e procurar atendimento médico ao menor sinal de anormalidade”, orienta.

Os dados reforçam a urgência de ações coordenadas entre governo, profissionais de saúde e sociedade para combater a propagação do HPV. “Investir em educação, ampliar a cobertura vacinal e facilitar o acesso a exames diagnósticos são passos essenciais para revertermos esse quadro e garantirmos uma população mais saudável”, conclui.

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