Cana de açúcar segue como a maior produção, seguida da soja; na pecuária, dados da Semadesc mostram que as aves tiveram produção em alta em comparativo anual
Por: Nathalia Santos
A nova estimativa da safra 24/25 em Mato Grosso do Sul traz dados positivos para a produção agrícola, com crescimento significativo em diversas culturas. De acordo com a Conab, divulgados pela Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), algumas lavouras registraram aumento expressivo tanto na área colhida quanto na produção total.

Segundo os dados da Semadesc, a cana-de-açúcar continua sendo a cultura de maior volume, atingindo 51,88 milhões de toneladas, um aumento de 2,7% na produção em relação à safra anterior. A soja também apresentou crescimento significativo, com 13,98 milhões de toneladas, um avanço de 13,2% na produção e um aumento de 6,8% na área cultivada.

Outras culturas também tiveram alta relevante. O milho total registrou crescimento de 44,3% na produção, alcançando 11,66 milhões de toneladas. O sorgo se destacou com um impressionante aumento de 26,3%, atingindo 299,8 mil toneladas. O trigo também teve um acréscimo significativo de 30,6%, chegando a 114,7 mil toneladas.
Por outro lado, algumas culturas tiveram redução. O algodão caroço sofreu uma leve queda de 1,5% na produção, enquanto o feijão 3ª safra apresentou a maior retração, com 79% de queda na produção, reduzindo-se para apenas 0,5 mil toneladas.

O arroz, por sua vez, registrou um crescimento expressivo na produção, com alta de 51,3%, totalizando 100,3 mil toneladas. A aveia também teve um bom desempenho, com aumento de 30,4% na produção.
MS EM RANKING DOS MAIORES PRODUTORES
Mato Grosso do Sul desempenha um papel significativo na produção agrícola brasileira, especialmente nas culturas de cana-de-açúcar e soja. Os dados do Governo do Estado reforçam protagonismo do estado, que está em ranking de maiores produtores.

Na produção de cana-de-açúcar, MS ocupa a quarta posição no ranking nacional de produção de cana-de-açúcar. Na safra 2023/24, o estado colheu aproximadamente 51,79 milhões de toneladas, representando cerca de 7% da produção brasileira. A área dedicada ao cultivo foi de 660.722 hectares, com destaque para o município de Nova Alvorada do Sul como maior produtor estadual, conforme divulgado pelo portal Agro Sustentar.
Já no cultivo da soja, MS também se destaca como um dos principais produtores de soja do país. Na safra 2023/24, a produção estadual atingiu 14,19 milhões de toneladas, correspondendo a aproximadamente 9% do total nacional. A área plantada foi de 3.884.468 hectares, com o município de Maracaju liderando a produção estadual.
PRODUÇÃO ANIMAL TEM CRESCIMENTO DE AVES, MAS QUEDA EM PEIXES
A produção animal em Mato Grosso do Sul apresentou variações significativas entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, conforme dados do IAGRO e divulgados pela Semadesc. Entre os destaques positivos, o setor de aves registrou um crescimento expressivo de 19,26%, passando de 114,47 milhões para 136,51 milhões de cabeças. Já a criação de peixes sofreu a maior queda do período, com uma redução de 35,34%, caindo de 925,79 milhões para 598,65 milhões.
Outros setores também apresentaram mudanças significativas. A produção de suínos teve um leve crescimento de 0,63%, alcançando 1,83 milhão de cabeças. O grupo classificado como “outros” teve a maior variação positiva percentual, com alta de 26,76%.
Por outro lado, algumas categorias registraram queda, como os bovídeos (-1,57%), caprinos (-23,26%), equídeos (-2,98%) e ovinos (-2,41%), indicando desafios para esses segmentos da pecuária. A produção de répteis (jacaré) também teve uma leve retração de -1,14%.

A produção de abelhas foi um dos pontos positivos do período, com crescimento de 9,92%, reflexo possível de incentivos ao setor apícola e maior conscientização sobre a importância da polinização. Já o bicho-da-seda apresentou um leve aumento de 0,75%, mantendo estabilidade.
EM TRÊS LAGOAS, SAFRA RECORDE, MAS DE DESAFIOS AO PRODUTOR
A produção agropecuária em Três Lagoas vive um momento de safra recorde e com boas expectativas como mostram os dados da Semadesc, a recente estiagem e a alta nos insumos têm impactado a lucratividade dos produtores da região de Três Lagoas e gerando desafios. Ao Perfil News, Bruno Ribeiro, presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, analisou o atual cenário e os desafios enfrentados pelo setor.

Para ele, a região é fortemente dependente da pecuária, e a arroba do boi tem se mantido firme na casa dos R$ 300, enquanto a fêmea está cotada em R$ 270. Apesar dos bons preços, o aumento dos custos de produção tem reduzido a margem de lucro dos pecuaristas. “O milho subiu, a soja subiu, o óleo diesel também subiu. Isso impacta diretamente na produção. Há grande volume produzido, mas o lucro acaba sendo apenas suficiente para cobrir os custos”, explica Ribeiro.
Quando questionado sobre a satisfação dos produtores com os resultados da safra, ele destacou que a percepção é de um resultado apenas razoável. “Se os insumos fossem mais baratos, a história seria diferente. A arroba do boi a R$ 300 é um bom preço, mas tudo aumentou junto, então os produtores não estão com margens tão altas”, afirma.
Além da pecuária, Ribeiro destacou a crescente relevância da produção de laranja e da celulose em Três Lagoas. “A laranja está vivendo um momento muito bom, e a celulose também segue forte, impulsionada pelo setor de eucalipto”, pontuou. O cenário cambial também tem influenciado as dinâmicas de produção. “O dólar alto impacta os nossos insumos, como a soja e o milho, que são produzidos na região, especialmente em sistemas de irrigação com pivô. Para quem usa essa tecnologia, os resultados são positivos. Já quem plantou no sequeiro enfrentou perdas devido à falta de água.”
IMPACTOS DA TAXA SELIC
Outro desafio apontado por Ribeiro é a alta taxa de juros, que dificulta novos investimentos no setor. “A Selic está muito alta e isso encarece o crédito rural. O produtor depende de financiamentos com juros subsidiados para planejar novos ciclos de produção e replantio. Com os juros elevados, fica mais difícil investir.”
Em sua avaliação final, o presidente do sindicato enfatizou que o balanço da safra é positivo, mas longe do ideal. “O setor trabalhou para pagar as contas, mas não foi um resultado extraordinário. Poderia ter sido melhor, especialmente se os insumos estivessem mais acessíveis e o custo do crédito fosse menor.”
Com um mercado aquecido e desafios estruturais a serem superados, os produtores de Três Lagoas seguem atentos aos próximos passos do setor agropecuário e às políticas econômicas que impactam diretamente sua produtividade e rentabilidade.