Em sua manifestação processual o advogado sul-mato-grossense, Enio Murad diz que o ministro teria usado aeronave da FAB para assistir partida de futebol
Após denúncias feitas pelo advogado de Bataguassu, Enio Murad, Tribunal de Contas da União (TCU), decidiu abrir uma investigação sobre o uso de avião da FAB (Força Aérea Brasileira) pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, para viagens que, segundo o advogado sul-mato-grossense seriam pessoais.

Desde 2015 Enio elabora denúncias contra vários, alguns resultando em operações da Polícia Federal. A decisão do TCU foi tomada nesta quarta-feira (23). Na denúncia, o advogado também pede o desconto da remuneração de Moraes pelos dias em que ele teria faltado ao trabalho devido às viagens.
“Existem fortes indícios de que o Excelentíssimo Senhor Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes utilizou avião da Força Aérea Brasileira para deslocar-se da Capital Federal para São Paulo/SP, sem, contudo, justificar se houve atendimento ao interesse público relevante e que autorizasse a realização dessa despesa custeada pelo Povo Brasileiro”, diz trecho da denúncia.
ARQUIVADO PELO MPF
Na contramão, o MPF (Ministério Público Federal), arquivou a denúncia sumariamente. Conforme as denúncias, o uso do voo teria acontecido no final do mês de março, quando Moraes supostamente teria usado a aeronave para acompanhar o jogo entre Corinthians e Palmeiras, em São Paulo.
O advogado sul-mato-grossense, responsável pela denúncia que desbaratou esquema de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul (TCE-MS), em 2021, e cuja investigação feita pela Polícia Federal (PF) identificou indícios de venda de sentenças por parte de desembargadores do Tribunal de Justiça (TJMS) em 2024, diz que aguarda por Justiça.
ENTENDA
Natural de Bataguassu, Enio Murad é conhecido por realizar várias denúncias que resultaram em muitas operações da Polícia Federal em MS. Com isso, o advogado sofreu perseguições e até ameaças. Tudo começou em 2015, quando o advogado era secretário-geral do Ministério Público de Contas de Mato Grosso do Sul (MPC-MS).
À época, a PF investigava indícios de fraude em licitação e superfaturamento no contrato da coleta de lixo em Campo Grande. Em razão do cargo que ocupava, Murad foi procurado para prestar esclarecimentos e relatou a “vista grossa” feita pelas instituições do estado em relação ao caso.
Após realizar as denúncias contra os conselheiros Waldir Neves Barbosa, a vida do advogado virou de cabeça para baixo. Ele chegou até a pedir exoneração do cargo que ocupava devido às graves perseguições e ameaças.
Depois das denúncias feitas por Murad, cinco desembargadores foram afastados dos cargos, após determinação do STJ. São eles: Sérgio Fernandes Martins, presidente do TJMS, Vladimir Abreu da Silva, Alexandre Aguiar Bastos, Sideni Soncini Pimentel e Marco José de Brito Rodrigues.
Ao denunciar, há aproximadamente quatro anos, os conselheiros afastados acusaram Enio por calúnia e difamação. O advogado chegou a ser processado por calúnia e difamação. O processo foi arquivado e ele provou que é inocente. Hoje em dia, Murad pede a indenização dos sete conselheiros. O valor total é de R$ 2 milhões, mas pode chegar a R$ 14 milhões.
PERSEGUIÇÃO, SOFRIMENTO E SUPERAÇÃO
Enio conversou com a equipe do Perfil News e comentou sobre a sensação de ver um esquema de corrupção ser investigado após a sua coragem de denunciar. Olhando para trás, o advogado diz que percorreu um longo caminho que atingiu, inclusive, e muito a sua vida pessoal.

“Apesar de eu ter sofrido perseguições, assédio moral e coação. Perdi a maior parte do meu patrimônio em razão dessa luta contra a máfia da toga que foi instalada em muito sacrifício. Se hoje eu tivesse que fazer tudo de novo, talvez eu não teria a mesma coragem, a mesma determinação, porque eu coloquei em risco a minha vida, a minha família, a minha carreira que, atualmente, eu consegui me reerguer. Hoje eu sou advogado de renome profissional, dou entrevista para Globo, CNN, Folha de São Paulo, Veja, mas eu passei durante quase uma década pelo Vale das Sombras, por um deserto muito árido e hoje eu não sei se eu teria coragem de enfrentar isso tudo de novo em razão do desgaste emocional e financeiro que eu suporto e suportei até hoje”, explicou.