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terça-feira, 29 de abril de 2025

Friboi admite cartel e regulação de preço em mais 4 Estados

27/11/2005 11h28 – Atualizado em 27/11/2005 11h28

Midiamax

A indústria frigorífica, Friboi, maior abatedouro de bovinos da América Latina e a quarta maior do mundo – uma das empresas existentes em Mato Grosso do Sul e investigadas desde o início do ano pela Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) por combinação de preços, confessa operar em regime de cartel junto com pelo menos outros três frigoríficos brasileiros. Reportagem publicada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo traz gravações do proprietário do Friboi, José Batista Junior, em que ele admite a operação. “Nós, o Bertin, o Independência… os três põe o preço do boi em tudo quanto é Estado. Mato Grosso nós peita… Nós sozinho regulou o preço. Estamos fazendo o preço do Mato Grosso, e os outro acompanha [sic]”, diz José Batista Junior, dono do Friboi. “Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas, agora nós estamos em cinco Estado, e nos cinco Estado nós combina com três”, diz, nomeando os frigoríficos Independência, Bertin e Mataboi – que negam participação no esquema. O esquema descrito por Batista Junior força o pecuarista a vender o rebanho aos frigoríficos a um preço abaixo da lei da oferta e procura, deturpando o mercado. No ano passado, a arroba do boi gordo chegou a ser cotada a R$ 63 e neste ano – antes da constatação da febre aftosa – o valor da arroba permaneceu por um longo período em torno de R$ 47. A investigação por formação de cartel partiu de denúncia feita pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) ao Cade atrás de provas sobre a prática de combinação de preços no setor. Ao todo, são nove as empresas frigoríficas investigadas, sendo quatro de Mato Grosso do Sul – Friboi, Independência, Bertin e Marfrig – e ainda Frigoalta, Minerva, Mata Boi, Boifran e Brasboi. Junior, que na semana passada anunciou ser candidato ao governo de Goiás, pelo PSDB, fez as declarações diante de testemunhas que estão em guerra comercial com o Friboi, sem saber que estava sendo filmado e gravado durante as conversas. BNDES Além da confirmação da formação de cartel, o irmão de Batista Junior, Joesley Mendonça Batista, confirma ter um “contrato de gaveta” com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), pelo qual assumiu uma dívida de R$ 11,2 milhões do grupo concorrente Araputanga. Os dois frigoríficos firmaram em 1999 compromisso de arrendamento com opção de compra do frigorífico Araputanga (MT). Os dois protagonizam disputa há anos na Justiça, a qual põe o BNDES em situação delicada. O banco nega o “contrato de gaveta”, mas reconhece ter cometido “erros” na operação e é acusado pelo Araputanga de favorecer financeiramente o Friboi, empresa que concentra R$ 568 milhões em empréstimos do BNDES. A formação do cartel e o contrato “heterodoxo” com o BNDES foram admitidos pelos proprietários do Friboi em pelo menos três reuniões. Os encontros foram registrados pelo Araputanga, e as gravações, obtidas pelo jornal Folha de São Paulo. Antes da publicação, o vídeo e o áudio dos registros foram periciados e atestados como autênticos por Ricardo Molina, perito do Laboratório de Perícias da Unicamp e conhecido por sua atuação no caso da morte de PC Farias, em junho de 1996. Wesley Mendonça Batista, sócio de Batista Junior e Joesley, dá duas explicações para a formação do cartel que seu irmão mais velho confessa nas gravações: acha que a fita ou é “montada” ou não faz sentido, já que os cinco maiores frigoríficos do país teriam um poder de abate de bovinos equivalente a 15% do total nacional.Sobre o “contrato de gaveta” com o BNDES, Wesley afirma que se trata da assunção regular de uma dívida, mesma versão dada pelo banco oficial. O BNDES reconhece, porém, que, mesmo após transferir a dívida do Araputanga para o Friboi, continuou a enviar boletos de cobrança ao Araputanga. A empresa diz ter constado como inadimplente no sistema do Banco Central, o que a impediu de tomar outros empréstimos na praça. O BNDES também deixou de retirar o proprietário do Araputanga, José Almiro Bihl, como fiador do empréstimo. “Estamos providenciando exatamente isso agora [a retirada de Bihl como fiador]. A gente está com problema aqui no banco, de muito trabalho”, afirma Jaqueline Ferreira Lemos, assessora da área industrial do BNDES. A operação no BNDES é considerada “heterodoxa” pelo fato de a unidade do Araputanga, garantia do empréstimo, não ter sido transferida legalmente ao Friboi, segundo os advogados de Bihl. Já Wesley diz que nunca arrendou, mas que comprou o frigorífico. Wesley diz que o Araputanga quer dar “um golpe”. Segundo ele, depois que o Friboi pagou dívidas do frigorífico, o Araputanga quer o negócio de volta. Para Marcelo Merlino, advogado do Araputanga, o Friboi não cumpriu obrigações, por isso deveria providenciar a devolução do frigorífico. O caso está na Justiça.

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