22/09/2004 11h17 – Atualizado em 22/09/2004 11h17
FAS
A primeira etapa do seminário “La Buena Onda do Cinema Latino” aconteceu terça-feira, 21 de setembro, na programação do Festival América do Sul, reunindo cerca de 70 pessoas no auditório do Hotel Gold Fish. As discussões foram conduzidas pelo cineasta argentino Oliverio Torre, pelo diretor da cinemateca do Uruguai, Manoel Martinez Carril e a jornalista brasileira, crítica de cinema, Maria do Rosário Caetano.
Durante três horas os participantes falaram sobre a nova fase do cinema latino-americano no mercado internacional e responderam perguntas feitas pelo público presente. Com realidades diversas, a boa onda do cinema comprova que há uma produção pulsante, mas que essa fase não chega a ser um movimento, mas um rótulo segundo definiu a mediadora do seminário.
O primeiro a fazer uso da palavra foi o cineasta argentino, Oliverio Torre. Ele fez uma pequena abordagem sobre a produção do filme “Vereda Tropical”, vencedor de dois kikitos de ouro do Festival de Gramado deste ano e exibido segunda-feira em Corumbá. “Acredito que o público está acompanhando esta boa fase do cinema latino-americano e adquirindo o hábito de assistir aos nossos filmes”, comentou.
Oliverio pertence à quarta geração de uma família de cineastas argentinos, um caso único na América Latina. Segundo ele, seu pai, Javier Torre, é um dos principais responsáveis pelo amor à profissão, mas disse também que é preciso capacidade técnica e intelectual para ser cineasta e se ele não tivesse tais características, não teria o incentivo paterno.
Como um jovem representante do cinema latino, Oliverio disse ainda que as facilidades por pertencer a uma família ligada ao setor, também tem seus prós e contras e que é preciso ser profissional. “Sou um apaixonado por cinema e só se faz cinema com paixão”, comentou, acrescentando que é uma atividade pesada, cansativa e dificilmente as pessoas vêem virtudes.
O responsável pela cinemateca uruguaia, Manoel Martinez Carril, tratou o cinema como um produto e uma atividade de alto risco, que se desenvolve baseada na economia e na criatividade de cada país. Ele acredita que a integração da indústria cinematográfica nos países sul-americanos deve seguir os moldes do “Projeto Raízes”, da Argentina. “É um acordo que tem o objetivo de facilitar a distribuição das cópias das películas nos países integrados. Funciona como um intercâmbio”, explicou. Ele esclareceu que o projeto argentino já tem acordo com a Espanha, França, Itália e Brasil.
A mediadora da mesa, jornalista Maria do Rosário Caetano, fez diversas intervenções durante o debate para falar sobre a indústria do cinema no Brasil. “O Canal Brasil lança ainda este ano o Programa Mercosul, no qual serão exibidos apenas filmes dos países que compõem o Mercosul. Esta é a primeira pequena janela que se abre para o cinema latino no país”, afirmou.
A crítica que fez consultoria para os filmes que são exibidos no Festival, traçou um panorama sobre a história do cinema no país e incluiu assuntos como a pornochanchada, o atual cinema brasileiro, o que chamou de ´cinema novo´, o incentivo à produção nacional e a lei do curta-metragem, que entrou em vigor em 1979. “Esta lei foi respeitada até o governo Collor. Nesta época, todos os órgãos de fiscalização da indústria cinematográfica foram extintos e, a partir de então, todos fingem que ela não existe mais”, declarou.
Rosário parabenizou o público que participou do seminário. Diante de sua experiência, especialmente na área de cinema, a jornalista disse que nunca participou de um evento em que tivesse tanto interesse em se discutir América Latina, o que, de certa forma, compra a “buena onda”.
Nesta quarta-feira, 22 de setembro, será realizada a segunda etapa do seminário de cinema, dando continuidade ao mesmo tema. O debate está marcado para as 14 horas no auditório do Hotel Gold Fish. Os convidados para compor a mesa são o cineasta e produtor argentino Maurício Beru, o secretário de Audiovisual do Ministério da Cultura do Brasil, Orlando Senna, o diretor da cinemateca do Uruguai, Manoel Martinez Carril, e a mediação será do cineasta e produtor brasileiro, Paulo Thiago. Ao final do seminário, será elaborado um documento oficial, “Carta do Pantanal”.