10/10/2015 12h11 – Atualizado em 10/10/2015 12h11
Índice que mede a inadimplência cresce 5,45% em setembro. Pressionada pelo desemprego, pela inflação e pelos juros elevados, quase 40% da população – ou 57 milhões de pessoas – não têm como pagar as contas. Tarifaço do governo pesa muito
Redação
A inflação próxima de 10%, os juros altos e o aumento do desemprego estão empurrando os consumidores para a inadimplência. Em setembro, o índice de calotes subiu 5,45% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo o maior nível desde janeiro de 2013 — quando a taxa ficou em 5,62% —, segundo divulgaram recentemente o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). Pelas estimativas das entidades, que levaram em consideração nomes registrados em cadastros de devedores de todo o país, 57 milhões de pessoas estavam sem condições de pagar as dívidas em dia no mês passado, o equivalente a 38,9% da população adulta do país.
A inadimplência atinge principalmente as contas de água e de luz. Em setembro, o número de dívidas em atraso subiu 12,55%, 6,22 pontos percentuais acima da média geral. No Centro-Oeste, os débitos não pagos nesse segmento cresceram 22,39%, o maior aumento entre as cinco regiões do país (veja arte). Em 12 meses, as tarifa de energia elétrica ficaram 52,79% mais caras, enquanto as taxas de água e esgoto avançaram 14,36%, de acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Deterioração
A queda da atividade econômica está destruindo a capacidade das famílias de honrar os compromissos e levando o calote a um patamar próximo ao do fim de 2012. Mas, diferentemente daquele período, em que as altas taxas de inadimplência decorriam do alto endividamento das famílias, o momento atual está sendo agravado pela deterioração do mercado de trabalho e pelo aumento do desemprego. “No caso das contas de água e luz, a causa não é apenas o encarecimento das tarifas. Sem emprego e com a renda em queda, os consumidores estão tendo mais dificuldades de honrar os compromissos”, destacou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Diante do atual ambiente recessivo, a expectativa é de que a inadimplência siga ganhando força. As empresas continuarão demitindo e freando contratações. E, com a alta da inflação, em decorrência da pressão exercida por preços administrados e pelo aumento do dólar, a desaceleração das taxas de juros será mais lenta. Em relação a agosto, a quantidade de pessoas com dívidas em atraso no mês passado caiu 0,59%, queda puxada pelo recebimento do 13º salário pelos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), além de feirões de negociações de dívidas. O resultado, no entanto, pouco muda o panorama.
“O aumento do desemprego e a redução da massa de rendimentos reduz a possibilidade de algumas famílias manterem as contas em dia. Em dezembro, em vez de observamos uma queda próxima de 1% em relação a novembro, como ocorreu no ano passado, poderemos ter um recuo menor”, explicou Marcela, que garante: a luz no fim do túnel não está no começo de 2016. “Enquanto não tivermos uma solução para a crise política, o empresariado continuará sem confiança e reduzindo investimentos, o que produzirá uma recessão mais prolongada”, acrescentou.
Com a baixa confiança dos consumidores, que estão menos propensos a comprar bens duráveis e atrelar mais dívidas ao orçamento, a queda no consumo prevista para 2015 e 2016 pode ser um fator determinante para impedir que mais pessoas fiquem com as contas em atraso. No entanto, para José Luís Oreiro, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a curto prazo, o cenário ainda é de aumento do calote. “A queda do consumo ajuda um pouco a reverter o aumento da inadimplência, mas não a ponto de contrabalancear o efeito da taxa de desemprego”, afirmou.
(*) Correio Braziliense