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Três Lagoas
sábado, 20 de julho de 2024

Retomada da UFN3 reacende esperança de empresários que levaram mais de R$ 100 milhões de calote

Decorridos 8 anos e inúmeras negociações, protestos e até falências, empresários três-lagoenses acompanham com muita expectativa a possiblidade de retomada das obras do complexo UFN3

Uma das obras mais aguardadas de Mato Grosso do Sul, a UFN3, unidade industrial de fertilizantes nitrogenados, localizada na cidade de Três Lagoas, pode ter as obras retomadas. A construção teve início em 2011, mas foi interrompida em dezembro de 2014, com aproximadamente 80% de conclusão.

Retomada da UFN3 reacende esperança de empresários que levaram mais de R$ 100 milhões de calote

O Secretário da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, confirmou no último dia 18 de janeiro, que a construção da fábrica de fertilizantes, UFN3 de Três Lagoas será retomada.

Segundo o chefe da pasta, o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou que o Governo Federal vai retomar a construção de três fábricas de fertilizantes no Brasil, entre elas a UFN3 em Três Lagoas. Verruck defendeu que a produção de fertilizantes seja tratada como assunto de segurança nacional e disse que o presidente Lula (PT), determinou que a Petrobras retome a produção do insumo. 

Retomada da UFN3 reacende esperança de empresários que levaram mais de R$ 100 milhões de calote

“A notícia é extremamente importante para o Mato Grosso do Sul. Recentemente eu participei durante a transição do Governo Lula de uma apresentação sobre o projeto da fábrica que está paralisado desde 2015 no Estado. A retomada da obra da UFN3 é uma pauta prioritária do Governo Eduardo Riedel- PSDB- e nos anima saber que será levada adiante pelo atual Governo Federal. Isso dá segurança ao agronegócio e garantia de empregos em três Lagoas”, publicou o secretário em uma rede social.

CALOTE DE MAIS DE R$ 100 MILHÕES

Três Lagoas é uma das potências econômicas de Mato Grosso do Sul. A cidade mudou ‘de cara’ nas últimas décadas com a instalação das indústrias no município. As empresas movimentaram a economia local, atraindo pessoas de todo Brasil e até de outros países a buscarem melhores condições de vida na cidade.

Com a UFN3 não será diferente. A unidade vai ser mais um empreendimento que potencializará a economia de Três Lagoas, mas um fato que aconteceu há alguns anos fez com que os comerciantes locais ficassem com ‘um pé atrás’ na hora de fazer negócios.

ACOMPANHE NO VÍDEO COMO ESTÁ O SITE DA UFN3

O consórcio UFN 3, até então formado pela empresa Sinopec e Galvão Engenharia, responsável pela construção da fábrica de fertilizantes nitrogenados da Petrobrás, deram um calote milionário nos comerciantes. Alguns seguem sem receber, o que pode dificultar as negociações com o próximo grupo que assumir a unidade.

Em 2014, quando a obra foi paralisada, a unidade deixou de cumprir seus compromissos com trabalhadores e comerciantes locais. Na época, funcionários e empresários chegaram a realizarem protestos, bloqueando até estradas do município. Donos de hotéis, restaurantes, fornecedores e outros estabelecimentos locais acusaram o consórcio contratado pela Petrobras para construir a fábrica de fertilizantes local de darem um calote de mais de R$ 100 milhões. 

Retomada da UFN3 reacende esperança de empresários que levaram mais de R$ 100 milhões de calote
Na época, comissão de empresário que foram lesados pelo Consócio UFN3 procuraram ajuda até na Câmara de Vereadores de Três Lagoas (Foto: Divulgação)

ESPERANÇA

A retomada da obra deixou os comerciantes locais na esperança de um acordo. Pessoas investiram pesado com a expectativa de crescer com o desenvolvimento da cidade, mas após o calote, vários empresários ficaram com as ‘mãos atadas’.

Segundo denúncias que chegaram ao Perfil News, alguns comerciantes precisaram realizar empréstimos para arcar com as despesas que o consórcio deixou. Desde 2014, unidos, os empresários ainda esperam para receberem o que são deles por direito.

Um comerciante que preferiu não se identificar, contou que tinha um empreendimento com vários alojamentos para abrigar os funcionários do consórcio. Ele tinha um contrato de R$ 140 mil por mês. O grupo pagou até o sétimo mês, mas depois a dívida do comerciante virou uma bola de neve.

“Eu tinha uma despesa mensal de R$ 90 mil. Com o fechamento, a minha dívida continuou, mas dinheiro do contrato não entrava. Não tinha como deixar as pessoas ali hospedadas morando na rua. Até hoje ainda não consegui receber e na época, precisei fazer empréstimos para arcar com as dívidas que eles me deixaram”, lamentou.

ALOJAMENTOS

O advogado Humberto Garcia também foi uma das vítimas. Ele tinha alojamentos que estavam disponibilizados para o consórcio, mas acabou tomando um calote milionário. Para deixar os comerciantes atualizados, foi criado um grupo em uma rede social com todos os empresários atingidos pelo ‘golpe’.

“Temos um grupo com 85 comerciantes. Com a retomada da obra a gente tem a esperança de que alguém venha tentar fazer um acordo conosco. Acreditamos que será bom para a economia local, mas nós só estamos reivindicando os nossos direitos. É muito injusto trabalhar, oferecer um serviço e não receber por ele”, explicou.

Um outro empresário que preferiu manter a identidade revelada explica que também fornecia imóveis de aluguel para o consórcio. Ele é proprietário inclusive do prédio onde funcionava a sede da unidade. Quando as portas fecharam, nem as chaves do local foram devolvidas.

Retomada da UFN3 reacende esperança de empresários que levaram mais de R$ 100 milhões de calote

“Levei um prejuízo milionário. Não devolveram nem as chaves do imóvel, além de destruírem o prédio. Ficamos na esperança de que a gente consiga realizar um acordo com a retomada da construção. Até o momento ninguém nos procurou, mas a gente ainda mantém a esperança”.

Segundo testemunhas, com a esperança de conseguir crescer financeiramente. Pessoas fizeram empréstimos para conseguirem ter um sonho de terem o próprio comércio. Após o calote, muitos empresários não tiveram outra opção e precisarem fechar as portas.

“Vi empresários que tinham cinquenta funcionários e que acabaram quebrando após ficarem ser receber. Muitas pessoas que tinha comércios buscaram outras alternativas para sobreviverem. É muito triste, pois a gente só queremos receber pelo trabalho realizado. Prestamos um serviço e queremos ser pagos por ele”, destacou.

SEM DATA DEFINIDA

Apesar de informar que as obras devem ser retomadas, ainda não foi informada uma data para a unidade ser concluída. A equipe de reportagem entrou em contato com o Secretário Jaime Verruck para saber uma série de questões, entre elas estão: a possibilidade de um acordo com os comerciantes vítimas dos calotes do consórcio, a previsão de conclusão da obra e o valor que a construção vai custar. Até o fechamento desta reportagem as ligações não foram atendidas.

VALOR BILIONÁRIO 

Há alguns meses, o Perfil News, conversou com a equipe técnica da unidade que integrava um consórcio. Conforme os ex-funcionários, quando foi lançada, o contrato inicial era de R$ 3.199 bilhões, porém houve aditivos chegando a R$ 4.250 bilhões. Se for realizar um balanço de quando a obra foi parada (em 2014), o valor para o término do empreendimento seria de aproximadamente R$ 1.450 bilhão. 

Os responsáveis pela Galvão foram envolvidos em denúncias de corrupção durante a Operação Lava Jato, e com isso as obras foram paralisadas. A Petrobras absorveu todo o empreendimento desde então.

De acordo com funcionários que trabalharam na unidade, se for levado em consideração o ano de 2014, o tempo para conclusão da obra é de 24 meses, mas lembrando que deverá ser acrescido o tempo para remontagem de equipamentos anteriormente montados e removidos.

PROCESSO DE VENDA

O processo de venda da indústria teve início em 2018, com a Araucária Nitrogenados (Ansa), fábrica localizada na Região Metropolitana de Curitiba (PR). A comercialização em conjunto inviabilizou a concretização do negócio.

Em meados de 2019, a gigante russa de fertilizantes, Acron, havia fechado acordo para a compra da empresa. O principal motivo para que o contrato não fosse firmado na época foi a crise boliviana que culminou na queda do ex-presidente Evo Morales.

Já em fevereiro de 2020, a Petrobras lançou uma nova oportunidade de venda da UFN3. Dessa vez, a estatal ofereceu ao mercado a unidade de forma individual. As tratativas só foram retomadas no início deste ano.

Após concluída, a unidade terá capacidade projetada de produção de ureia e amônia de 3.600 toneladas/dia e 2.200 toneladas/dia, respectivamente. Logo, o empreendimento passou a ser estratégico para ajudar a suprir a demanda por fertilizantes no País e principalmente para trazer desenvolvimento para Mato Grosso do Sul.

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