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Três Lagoas
segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Menos tabu e mais informação e atenção são apontados como mecanismos para prevenir o suicídio

Em audiência pública realizada na noite desta quinta-feira (27), por proposição do vereador Doutor Issam Fares Júnior, o tema de prevenção ao suicídio, afetando sobretudo crianças e adolescentes, foi discutido com foco em entender as motivações e em apresentar mecanismos para evitar a concretização do ato.

Menos tabu e mais informação e atenção são apontados como mecanismos para prevenir o suicídio

O vereador Issam Fares Júnior abriu a audiência, destacando que o crescimento de casos de suicídio exige mudanças na abordagem e na disseminação de informações. “Quanto mais informações sobre o assunto, mais será a nossa capacidade de auxiliar o próximo que está em sofrimento e ajudar a contribuir na preservação da vida”, afirmou ao explicar as motivações para realizar a segunda audiência sobre o assunto.

ATUAÇÃO VOLUNTÁRIA

Presente na audiência, a vereadora Sayuri Baez relatou que atua como voluntária no Centro de Valorização da Vida (CVV) e tem contato com muito desespero e sofrimento. “Temos que provocar o Executivo, o Judiciário e toda a sociedade para nos preparar para atender estas pessoas”. Ela ainda questionou a falta de hospital psiquiátrico em Três Lagoas, obrigando a transferência de pacientes em situação mais grave para Campo Grande ou Paranaíba.

Menos tabu e mais informação e atenção são apontados como mecanismos para prevenir o suicídio

O psicólogo do Ministério Público, Sidney Ferreira Ribeiro Júnior, também usou a palavra e destacou duas situações: a de pessoas que dão sinais ou tentam o suicídio como uma forma de gritar por socorro emocional e de saúde mental e a de pessoas que realmente consolidam o ato. Ele explicou que, qualquer que seja a intenção, entre adolescentes e crianças o maior risco é a impulsividade. “Precisamos trabalhar o tabu que cerca o tema, pois a maioria dos fatores de vulnerabilidade pode ser evitado. Pediatras e psiquiatras precisam falar do assunto diante da sociedade, sem tabu”, afirmou.

ESTENDER A MÃO

Estender a mão a quem passa pela crise emocional que motiva a tentativa de suicídio é a principal atitude apontada pelo tenente-coronel Fábio de Assis, comandante do Corpo de Bombeiros em Três Lagoas, como meio de evitar um suicídio iminente, situação bastante corriqueira à corporação. “Quando a gente negocia, a primeira coisa é estender a mão, conversar e tentar entender para criar um vínculo”. No entanto, em alguns casos, como de surto psiquiátrico, ele diz que a pessoa não oferece resposta e é necessário retirá-la do risco pela força. Ele ainda frisou o projeto Bombeiros do Amanhã, que é trabalhado com crianças e adolescentes, dentro da corporação, e que visa criar o sentimento de valorização e amor à vida, como uma das formas de prevenção à ideação suicida.

Menos tabu e mais informação e atenção são apontados como mecanismos para prevenir o suicídio

O palestrante especialmente convidado para a audiência, capelão Edilson dos Reis, psicólogo, teólogo e especialista em prevenção ao suicídio, gerenciamento de crise e manejo com suicidas, além de professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e pesquisador do Hospital Universitário, abriu sua fala ressaltando que, ao falar em suicídio se fala em pessoas em sofrimento.

FATO ALARMANTE

Após apresentar dados sobre a incidência de tentativas e concretização de suicídio no Brasil, historicamente praticado em sua maioria por homens e pessoas acima de 65 anos, ele enfatizou o crescimento dos casos entre mulheres (enforcamento), mulheres gestantes, crianças, jovens e adolescentes, e ainda pontuou um fato alarmante: para cada caso notificado, existem outros 20 não registrados ou subnotificados, o que acentua a problemática, sobremaneira.

Mas o que provoca este panorama? Segundo ele, a doença base é a depressão, um transtorno psiquiátrico, uma doença causada por desordem bioquímica, que pode ser identificada e tratada. “A pessoa sente uma dor subjetiva, difícil de explicar. Temos que aceitar e respeitar, oferecer ajuda. De cada dez suicídios, sete poderiam ser evitados com acolhimento familiar e intervenções de profissionais de saúde”, afirmou, lembrando que 85% dos suicídios acontecem dentro de casa.

Muitos sinais, como mudança na rotina, isolamento, pessimismo e desesperança podem acender o sinal de alerta, ele disse. Ainda lembrou que todas as pessoas esperam e necessitam que sua família seja seu ponto de apoio, diálogo, proteção e amor. Assim, dar atenção e escuta ativa e afetiva aos filhos, ou mesmo ao cônjuge, é essencial para uma boa saúde mental e emocional.

O especialista ainda apontou que é necessário que ocorram revisões legais, médicas e teóricas sobre as patologias psiquiátricas, uma vez que muitas delas são frutos das relações de afeto, do isolamento social e da dependência digital, ou seja, são questões contemporâneas que não podem mais ser avaliadas e tratadas por métodos e teorias do século passado.

COMITÊ DE PREVENÇÃO

Edilson dos Reis ainda provocou os profissionais da área de saúde, segurança, assistência e educação presentes a criar um comitê de prevenção ao suicídio no município, prontificando-se a capacitar os futuros membros.  Ele ainda citou a publicação de uma cartilha preventiva, em Dourados, na qual são apontados caminhos para o que fazer e onde buscar ajuda.

Ao encerrar a audiência, o vereador Doutor Issam Fares Júnior concordou que é necessário formar um grupo para atuar na prevenção ao suicídio em Três Lagoas e que isto deverá ser formalizado, discutindo ainda outras sugestões feitas pelo palestrante. Ele também concordou com a necessidade da revisão sobre a classificação das doenças, incluindo não só as que podem levar ao suicídio, mas também a todas que vêm aparecendo em função das transformações da sociedade.

Texto e fotos: Assessoria de Comunicação

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