A publicidade de jogos de azar e casas de apostas vêm se tornando cada vez mais comum nos perfis de produtores de conteúdo, levantando discussões acaloradas sobre o tema e sobre a responsabilidade desses influenciadores para com o seu público, especialmente quando se trata daqueles que conversam com jovens.
Em geral, os aplicativos exigem que o usuário deposite algum valor para iniciar as apostas. Com diversos formatos e estilos, as pessoas costumam ganhar nas primeiras rodadas, mas depois fica cada vez mais difícil.
Uma leitora do Perfil News, identificada como K. A. S, de 30 anos, contou que tem uma dívida de R$ 8 mil devido aos jogos. Ela relata que o ‘pesadelo’ começou há um ano, quando ela viu uma influenciadora fazendo a propagando de um jogo.
GANÂNCIA
“A gente vê a vida desses influenciadores e ficamos deslumbrados. Toda pessoa humilde sonha em mudar de vida, como foi o meu caso. Eu comecei a jogar e a princípio comecei a ganhar, mas em seguida fui perdendo tudo. As pessoas vão ficando gananciosas e apostando um valor cada vez mais alto. De repente a gente começa a perder. A plataforma mesmo segurava parte do dinheiro para eu seguir apostando”, lembrou.
A mulher também relata que após perder R$ 8 mil entrou em uma depressão e precisou viver de ajuda familiar para arcar com as despesas. Ela faz um alerta para que as pessoas não tenham acesso aos jogos.
DEPRESSÃO
“Eu desejo alertar as pessoas para que elas não passem o que estou passando. É um vício como outro qualquer. Quando a gente começa a jogar a gente só vai pensando nisso e quando percebemos estamos arruinados. Teve uma vez que cheguei a apostar R$ 1 mil. A gente acha que vai continuar jogando e uma hora vai recuperar, mas isso não acontece. Hoje em dia tenho depressão e mal consigo fazer o básico como cuidar da minha casa e até a higiene pessoal. É muito triste e não desejo para ninguém. Acho também que os influenciadores deveriam ter mais responsabilidade sobre os produtos que divulgam”, desabafou.
ILEGAL
A legislação considera, desde 1941, contravenção penal “estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público, ou acessível ao público”. Sendo assim, nenhuma forma de aposta envolvendo sorte, seja online ou presencial, é permitida. No entanto, apesar de serem ilegais, esses jogos estão disponíveis para ser acessados por qualquer pessoa em território nacional, porque os domínios dos sites são alocados em países que permitem e regulamentam a exploração dos jogos de azar.
A vítima disse que vive com um sonho de que pessoas sejam punidas com essas plataformas. “Eu desejo que um dia isso seja crime e que quem engana as pessoas sejam responsabilizados. Uma hora isso tem que acabar ou mais pessoas vão passar o que estou passando”, ressaltou.
NA REGIÃO
Além do relato desta vítima, diariamente a redação do Perfil News tem recebido relatos de pessoas lesadas com os jogos divulgados pelos influenciadores nas redes sociais. A direção do jornal já recebeu denúncias de Três Lagoas, Bataguassu, Aparecida do Taboado e toda região do Bolsão.
A discussão sobre a divulgação de jogos de apostas por parte dos influenciadores digitais divide opiniões nas redes sociais. Tem internauta que diz ser “inadmissível” que influencers indiquem jogos do tipo com a justificativa de que o público vai ganhar dinheiro, já que os produtores de conteúdo não costumam jogar o que divulgam, apenas gravam a publicidade e estimulam os seguidores a baixarem o aplicativo.
SE UM GANHA, VÁRIOS TEM QUE PERDER
Nos jogos de azar, a probabilidade de você perder é maior do que a de você ganhar e obter lucro. Ainda assim, na maioria das publicidades veiculadas por personalidades do universo digital, dificilmente se fala sobre a perda de dinheiro e os impactos negativos que o jogo pode causar à vida de alguém.
Apesar das possibilidades de apostar recreativamente, a pandemia levou a um aumento na dependência dos jogos de apostas. O fácil acesso, o tempo ocioso e a falta de regulamentação desencadearam um problema sério de dependência de jogos, fazendo com que as pessoas usassem mais do tempo disponível em aplicativos.