A Ministra do Panejamento, Simone Tebet, disse que as negociações para retomar as obras da UFN3 (Unidade Industrial de Fertilizantes Nitrogenados), estão em grande avanço. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (28), durante uma visita da autoridade a Mato Grosso do Sul.
Tebet já foi prefeita de Três Lagoas por dois mandatos. Mais do que ninguém a ministra sabe da importância de uma obra do porte da UFN3 para a cidade. Após assumir o ministério, no começo deste ano, as negociações para retomar a construção tem tido um grande avanço.
VISITA
Após várias reuniões com ministros, secretários e com o Governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), o Presidente da Petrobrás, Jean Prades, deve visitar Três Lagoas em outubro deste ano.
A construção teve início em 2011, mas foi interrompida em dezembro de 2014, com aproximadamente 80% de conclusão. Três Lagoas é uma das potências econômicas de Mato Grosso do Sul. A cidade mudou ‘de cara’ nas últimas décadas com a instalação das indústrias no município. As empresas movimentaram a economia local, atraindo pessoas de todo Brasil e até de outros países a buscarem melhores condições de vida na cidade.
Com a UFN3 não será diferente. A unidade vai ser mais um empreendimento que potencializará a economia de Três Lagoas. A fábrica de fertilizantes foi elencada como prioridade pela empresa, e pode ter sua retomada em breve.
Em janeiro, o processo de venda da estrutura da UFN3 foi suspenso pela Petrobras, que não teve sucesso em vender a unidade desde que se propôs a isso, em 2017. Em junho, a estatal foi além, e informou ao mercado que retomaria sua estratégia de voltar ao setor de produção de fertilizantes.
Dentre as prioridades da estatal estão duas: a reativação da Fábrica de Fertilizantes do Paraná (Fafen-PR), em Araucária, paralisada desde a década passada, e a conclusão da UFN3 em Três Lagoas, que foi paralisada com 80,95% dos trabalhos concluídos.
No dia primeiro deste mês, em São Paulo (SP), o governador Eduardo Riedel (PSDB) informou à imprensa que no próximo dia 11 deste mês mais um investimento bilionário de uma grande empresa será anunciado para Mato Grosso do Sul.
FERTILIZANTES
A fábrica foi lançada no governo Dilma Rousseff e paralisadas desde 2014 com 80,95% do projeto concluído. A Petrobras chegou a negociar a unidade com a russa Acron, mas as conversas foram suspensas em 2022.
França diz que estudos também indicam viabilidade na retomada das obras, que levariam a uma capacidade de produção anual de 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil de toneladas de amônia usando como matéria-prima gás natural transportado pelo Gasoduto Bolívia-Brasil.
O consumo diário de gás natural, quando a fábrica estiver em plena operação será de 2,2 milhões de m³ por dia.
A UFN3 também será capaz de produzir gás carbônico, produto que é usado como matéria-prima de vários segmentos da indústria, de equipamentos médicos a refrigerantes.
LAVA JATO
A UFN3 também teve suas obras paralisadas no auge da Operação Lava Jato. A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi uma iniciativa de um consórcio liderado pela Petrobras, que era composto pela estatal de petróleo chinesa Sinopec e também pela Galvão Construtora.
A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi projetada para ser a maior do segmento na América do Sul, e que poderá ser capaz de suprir quase 20% da demanda interna do produto, que é majoritariamente importado de países em conflito, como Rússia e Belarus, mas desde que a construtora Galvão e diretores da Petrobras foram citados na operação comandada pelo então juiz federal e atual senador pelo Paraná, Ségio Moro (União Brasil), a continuidade dos investimentos foi se tornando inviável.
TENTATIVA DE VENDA
Depois da Operação Lava Jato, a Petrobras, em seu programa de reestruturação, deu início a uma estratégia de venda de ativos e de parar de investir em qualquer atividade que não fosse a extração de petróleo bruto.
A produção de fertilizantes foi incluída neste programa. A estatal, de lá para cá, tentou vender a UFN3 por três vezes, mas não teve êxito em nenhuma delas, dada a complexidade e a dimensão da operação.
Chegou mais perto em 2019, quando a Acron, com fortes ligações com o governo russo, compraria a unidade em consórcio com a estatal boliviana YPFB. A destituição de Evo Morales, porém, fez com que os russos mudassem de planos.
Mais tarde, houve uma nova investida com a Acron, sem êxito, sobretudo após autoridades brasileiras exporem a intenção da Petrobras: a de tentar rebaixar a unidade de processadora e indústria de nitrogenados para uma mera misturadora.
No ano passado, depois de o fornecimento de fertilizantes para o mercado brasileiro ficar ameaçado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a paralisação das unidades produtoras no Brasil e a dependência local ficaram expostas.
Foi preciso um esforço diplomático da ex-ministra da Agricultura e senadora eleita Tereza Cristina (PP-MS) para garantir o fornecimento pela Rússia. Ainda assim, os preços desses produtos essenciais para a produção agrícola dispararam no mercado internacional no ano passado.
Neste ano, os fertilizantes já tiveram uma queda, mas o entendimento, no núcleo do governo federal, é que o setor de fertilizantes é estratégico para o Brasil, que não pode ficar a mercê da flutuação dos preços em função da instabilidade das regiões produtoras.
Em 2018, quando uma due dilligence (vistoria para compra) foi realizada na UFN3, foi constatado que a unidade precisaria de pelo menos US$ 1 bilhão para ser concluída. Em reais, foram aplicados mais de R$ 3 bilhões em sua construção. Atualmente, não há uma avaliação do investimento necessário para retomar a obra.