A possível retomada das obras da UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III), já tem movimentado Três Lagoas. Reuniões realizadas nos bastidores e a presença de funcionários da Petrobrás pelas ruas da cidade leva a entender que o andamento do megaempreendimento pode acontecer em breve.
Com isso, quem mora em Três Lagoas começa a refletir sobre os transtornos enfrentados quando as obras foram paralisadas em 2014. Alguns dos episódios marcantes, foram as manifestações dos trabalhadores do empreendimento à falta de pagamento.
A frente do Sintiespav (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil Pesada), há mais de 10 anos, Nivaldo da Silva Moreira, viu muita coisa passar diante de seus olhos. O sindicalista lutou incansavelmente para os trabalhadores receberem os seus direitos trabalhistas quando a UFN3 resolveu fechar as portas.
LAVA JATO
Nivaldo conta que aproximadamente 4.500 trabalhadores ficaram à deriva pelas ruas de Três Lagoas devido à falta de pagamento da empresa que paralisou a obra ‘do dia para a noite’. A UFN3 teve suas obras encerradas no auge da Operação Lava Jato. A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi uma iniciativa de um consórcio liderado pela Petrobras, que era composto pela estatal de petróleo chinesa Sinopec e pela Galvão Construtora.
“No dia 14 de dezembro de 2014 a UFN3 aconteceu a paralisação e os trabalhadores ficaram sem receber os seus salários. Eles precisavam ficar em um alojamento, distante 40 quilômetros e Três Lagoas. Muitos começaram a vir para a cidade e começaram a demonstrar o descontentamento”.
Rapidamente o sindicato tomou as devidas ações para ajudar os trabalhados e abriu as portas a entidade para a equipe de recursos humanos da empresa trabalhar e informar sobre os direitos trabalhistas de cada funcionário.
Em seguida, os trabalhadores do consórcio UFN3 se reuniram (veja foto abaixo) em frente ao prédio da Justiça do Trabalho. Eles reclamavam do pagamento da dívida trabalhista, já que sem o dinheiro, não conseguiam voltar para suas cidades e passar o Natal com as famílias.
“Era final de ano e a maioria não morava em Três Lagoas. O Sindicato precisou tomar uma rápida ação para os trabalhadores receberem. Durante a manifestação, conseguimos montar uma comissão e nos reunimos com a Juíza Daniela Peruca. Entregamos uma liminar e ela entendeu a gravidade da situação. Naquele mesmo dia, a equipe dela trabalhou até a madrugada e ela rapidamente bloqueou R$ 50 milhões da empresa”, lembrou.
De acordo com o Nivaldo, graças a rápida ação do Sintiespav para discutir o pagamento das rescisões contratuais dos trabalhadores, os funcionários foram devidamente pagos, conseguindo passar as comemorações de final de ano em suas cidades de origem.
Mas os trabalhos do Sintiespav ainda não pararam por aí, a empresa ainda precisava pagar a multa prevista no artigo 477 da CLT (pelo atraso de pagamento das verbas rescisórias) e 40% do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
“Muitos ainda não tinham recebido todos os direitos trabalhistas. A ação saiu em dezembro de 2020 e foi depositado na conta do sindicato a quantia de R$ 4 milhões. Entramos em contato com os trabalhadores e efetuamos os devidos pagamentos. Alguns não conseguimos o contato, ou por outros fatores, como o falecimento. Desta forma, entramos em contato com o juiz e as autoridades conseguiram entrar em contato com os funcionários ou com seus respectivos familiares. Ninguém ficou sem receber”
Mesmo com uma categoria fundamental para uma obra tão grande quanto a UFN3, o Sintiespav ainda não foi chamado pelas autoridades competentes para debater o projeto da possível retomada do megaempreendimento.
“Já tiveram reuniões, mas estamos sentindo um certo distanciamento dos responsáveis da retomada com o trabalhador. Nos preocupamos e atuamos para ajudar os funcionários. A mão de obra pesada é fundamental para o andamento das obras e todos passam por nós. Estamos sempre a frente negociando os salários e a saúde dos trabalhadores. Queremos muito que esse grande projeto se concretize, mas pedimos a atenção das autoridades com o sindicato. É fundamental que a entidade tenha participação direta com o projeto. Sabemos que aconteceram reuniões para debater o assunto, a presença do Sintiespav é essencial nesses encontros”
SITUAÇÃO DA UFN3
Apesar do Governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), não ‘bater o martelo’ informando uma data da possível retomada, reuniões estão acontecendo, mostrando avanços nas negociações que envolvem a UFN3. A volta da obra pode estar próxima, já que existe uma ação acontecendo ‘pelos bastidores’.
No final do ano passado, estava agendada uma visita do presidente da Petrobras, Jean Prades, a obra paralisada desde 2014. No encontro, também estava prevista a presença do vice-presidente, Geraldo Alckmin, do governador do Estado e da ministra do planejamento, Simone Tebet.
O encontro acabou não acontecendo devido a conflitos de agendas dos presentes. Há pouco tempo, o Chefe da Casa Civil, Eduardo Rocha, chegou a visitar as obras, mas também informou uma data de quando o empreendimento será retomado.
A população sonha com a retomada das obras e segue acompanhando os próximos ‘capítulos’ dessa ‘novela’ que se arrasta por anos. Enquanto isso, dinheiro investido em construções inacabadas continua ‘evaporando’ com o passar do tempo.
NOVELA
Várias obras de Três Lagoas dependem do Governo Federal para ‘sair do papel’. Com a UFN3, por exemplo, em 2023, o Ministro da Casa Civil, Rui Costa, também chegou a dizer que a obra seria retomada em breve, mas não defiram uma data.
A fábrica foi lançada no governo Dilma Rousseff e paralisadas desde 2014 com 80,95% do projeto concluído. A Petrobras chegou a negociar a unidade com a russa Acron, mas as conversas foram suspensas em 2022.
A UFN3 também será capaz de produzir gás carbônico, produto usado como matéria-prima de vários segmentos da indústria, de equipamentos médicos a refrigerantes.
