Fiems pode incentivar ações para promover a equidade de gênero
A mão de obra feminina é a que mais cresce na indústria de Mato Grosso do Sul. Nos últimos cinco anos, conforme levantamento da Unidade de Economia de Estudos de Pesquisa da Fiems, o total de mulheres empregadas aumentou 31%, enquanto a masculina cresceu 25% no mesmo período. Representação, no entanto, não costuma vir sozinha. São necessárias transformações para criar ambientes mais justos de trabalho.
Equiparação salarial, respeito às especificidades, combate à violência, e mais mulheres em cargos de liderança estão entre temas estratégicos para alcançar a igualdade de gênero. O item 5 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidades (ONU), considera todas essas ações em intersecções com raça, etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião e nacionalidade.
Apesar do crescimento no número de mulheres ocupada na indústria sul-mato-grossense, percebemos que a realidade ainda não reflete proporções gerais, apontando o tamanho do desafio. Resultados do Censo 2022 mostram que 48,5% dos brasileiros eram homens e 51,5% eram mulheres. Portanto, o Brasil possui mais mulheres do que homens na população. Na indústria do Estado, a mão de obra feminina ainda representa 25,3% de todo contingente ocupado nas atividades industriais desenvolvidas. São mais de 38 mil mulheres diretamente empregadas na indústria estadual.
A assessora do Núcleo de ESG e Sustentabilidade da Fiems, Claudia Borges, lembra que a promoção da igualdade de gênero envolve desafios mundiais. Segundo o Fórum Econômico Mundial, são necessários 131 anos para equiparar homens e mulheres. “Não é simplesmente dizer que homens e mulheres são iguais. O objetivo exige que tenhamos ações no sentido de trazer as melhores oportunidades educacionais, econômicas e também igualdade salarial das mulheres perante aos homens, exercendo as mesmas funções”, ressalta.
Identificar discrepâncias é um dos primeiros passos para solucionar distorções. O âmbito salarial talvez seja o que mais evidencia desigualdades. Levantamento realizado pelo Núcleo de ESG da Fiems, com base na Relação Anual de Informações Sociais (Rais 2022), aponta que o valor nominal médio salarial de todos os trabalhadores da indústria do Estado, comparando homens e mulheres, tem diferença de quase 40%.
Claudia explica que embora o debate sobre igualdade de gênero envolva também aspectos de saúde, violência e segurança, a questão econômica está entre as centrais. “Quando falamos nesse ponto, estamos nos referindo a oportunidades no mercado de trabalho, a melhores condições salariais e também, caso a mulher tenha interesse em empreender, a acesso ao crédito. Na questão salarial, vemos em Mato Grosso do Sul uma disparidade muito grande. Então, nós precisamos olhar para isso e ter iniciativas para reduzir essa disparidade”. O levantamento aponta diferenças que variam entre R$ 5 mil e R$ 12 mil entre mulheres e homens com a mesma função e mesma escolaridade, por exemplo.
Para a representante do Núcleo de ESG, a Fiems pode incentivar ações para promover a equidade de gênero, além de levar soluções, produtos e serviços que possam auxiliar as empresas a implementar política de forma que gere valor não só para o colaborador, mas para a indústria como um todo.
“Empresas melhores posicionadas têm iniciativas de diversidade muito bem consolidadas. Criam um ambiente propício às mulheres e dão oportunidades para que elas possam exercer suas funções. Então, de certa forma, empresas com quadros mais diversos, são empresas que inovam e gerem melhor suas atividades. São empresas que têm resultado. Ou seja, são empresas que geram valor por meio da diversidade”.
Quando a igualdade de gênero é determinante para o sucesso
E se promover a igualdade de gênero for um dos grandes segredos para levar cada indústria a alcançar o mundo? Mato Grosso do Sul tem se tornado polo de grandes multinacionais e elas trazem para o mercado local a reposta para tal questão. O alcance mundial de grandes marcas mostra como iniciativas de incentivo e valorização das mulheres são determinantes para conquistar novos mercados.
Fundada há 150 anos, a Cargill nasceu nos Estados Unidos e hoje está presente em mais de 70 países oferecendo produtos alimentícios, agrícolas, financeiros e industriais. No Brasil, a empresa atua há 50 anos e está presente em 191 municípios de 17 estados. O município de Três Lagoas, no leste sul-mato-grossense, é um dos que abrigam unidades no segmento de sojas, grãos e biodiesel.
A Cargill já foi reconhecida como a empresa mais inclusiva e diversa do agronegócio pelo Guia Exame de Diversidade, levantamento realizado pelo Instituto Ethos em parceria com a Exame. Os esforços para alcançar o prêmio podem ser comprovados em ações transversais que estão incorporados na estrutura da empresa.
Dentro da indústria existem as redes de diversidade e uma delas é o MOB (Mulheres Operando no Brasil), cujo objetivo é incentivar discussões e opiniões sobre equidade de gênero; influenciar mudanças sistêmicas; incentivar aliados/homens a alavancar o progresso na equidade, além de disseminar conhecimento por meio de ações.
Um dos pontos focais da MOB está em Três Lagoas, onde também são desenvolvidos projetos como o Oraculi, programa de mentoria para mulheres; o Café & Diversidade, voltado para debater temas sobre diversidade, equidade e inclusão, junto com líderes e convidados, além de instalações inclusivas na fábrica com a construção da sala de apoio à amamentação e de sala de descanso para mulheres.
A Cargill tem o compromisso global de alcançar 50% de mulheres em posição de liderança até 2030. No Estado, a empresa busca superar o desafio investindo no desenvolvimento de mulheres em cargos iniciais com potencial futuro de liderança, além de fortalecer a mão de obra feminina nas áreas produtivas.
“Por ser um ambiente ainda majoritariamente masculino é essencial a construção de uma cultura que preze pela diversidade, equidade e inclusão no ambiente de trabalho com apoio de toda a liderança. Também é importante contar com o comprometimento dos homens por meio do apoio nas ações, trabalhar com os seus próprios vieses inconscientes e dos seus times, apoiar o desenvolvimento de carreiras femininas, se posicionar em casos de falas e comportamentos inapropriados. É um longo caminho na busca pela equidade de gênero, mas tendo aliados apoiando a causa é um incentivo importante para continuar com as ações”, acredita a engenheira de Produção em Biodiesel, Mayumi Rey Tsunosse.
Portanto, as empresas demonstram que ações pontuais não bastam. É preciso uma cultura de promoção de igualdade de gênero, que inclua a remuneração, estrutura física, uniformes e, principalmente, posturas. O mercado da celulose cresce exponencialmente no Estado e embora as maiores indústrias ainda estejam em fase de instalação, tais princípios estão na base da implantação dos negócios.
A unidade da Suzano, em construção no município de Ribas do Rio Pardo e inauguração prevista para junho de 2024, tem investido na qualificação profissional de mulheres para fazer carreira no empreendimento, por meio dos programas Somar e Alicerce. Parcerias com o Senai também permitem a capacitação da mão de obra feminina mesmo para as que não têm experiência prévia, buscando despertar o interesse para atuar em diversas áreas da empresa.
As colaboradoras têm perfil diverso. São chefes de família, mulheres que saíram da linha da pobreza, após concluírem qualificações e se habilitarem para ingressar no mercado de trabalho de forma competitiva, além de mulheres em cargos de liderança e altamente qualificadas. “Temos mães, filhas, tias, avós…Todas em busca do seu desenvolvimento profissional e conquista do seu espaço no mercado. Se posso resumir algo em comum em todas, é a determinação, a vontade de mostrar suas competências e habilidades de desenvolver excelentes trabalhos”, explica a coordenadora da área Florestal da Suzano, Patrícia Vignatti.
Em âmbito nacional, a empresa exige ainda em processos de recrutamento e seleção a participação de no mínimo 50% de mulheres e de pessoas negras. “Desde que iniciei minha jornada na companhia, há sete anos, tenho acompanhado o crescimento do efetivo feminino nas operações florestais, nas áreas de colheita, silvicultura e manutenção, áreas antes majoritariamente masculinas, e que temos promovido o fortalecimento de um ambiente inclusivo para as mulheres”, destaca Patrícia.
As ações da Arauco para promover a igualdade de gênero já têm impacto no Projeto Sucuriú, cuja implantação está na fase de obtenção de licenças no município de Inocência. Em 2021, a indústria chilena criou um comitê específico para tratar questões relacionadas à equidade de gênero.
Composto por colaboradores de diversas áreas dos países nos quais a empresa atua, o grupo iniciou suas atividades com a realização, por meio de uma consultoria especializada, de um diagnóstico para compreender os desafios e necessidades relacionados à equidade de gênero.
A partir do levantamento, foi traçado um Plano de Ação focado nos pilares de infraestrutura, cultura organizacional, recrutamento e seleção, que vem sendo colocado em prática em todas as unidades Arauco no mundo.
Na área de infraestrutura, foram constadas a necessidade de compreensão relativa à incorporação da mulher em todas as frentes de trabalho; instalação de sala de amamentação nas unidades; dormitório exclusivo para mulheres, possibilitando assim a primeira equipe formada apenas por mulheres na Silvicultura no Mato Grosso do Sul; produção de uniformes femininos operacionais, em substituição aos modelos unissex, inclusive com modelo para gestante.
Dentro do pilar de cultura organizacional, é trabalhado a formação e conscientização de toda a companhia quanto à equidade de gênero. Foram realizados workshops com a equipe de Inovação do Sesi, executivos, equipe de RH, líderes das unidades e colaboradoras. A Arauco se filiou ainda à Rede Mulher Florestal, uma organização com foco na inclusão de mulheres no setor.