Um casal de ex-moradores de Três Lagoas, Fábio e Kely, relatam o que tem presenciado nos últimos dias após as tempestades no Rio Grande do Sul. Ambos, agora, residem em Porto Alegre e o clima na cidade é de guerra.
O casal é baiano, moraram muito tempo em Três Lagoas, mas depois mudou para Canoas e agora residem, no Bairro Ipanema, zona sul de Porto Alegre. Com a casa invadida pela água, ambos precisaram se mudar para um condomínio da capital gaúcha.
“A nossa casa foi afetada. Aqui estamos vivendo um cenário de guerra, parece coisa de filme. Também moramos em Canoas e hoje residimos em Porto Alegre. Em Canoas têm pessoas saqueando. Roubaram botes, jets ski no momento dos resgates. Primeiramente quem chegou para socorrer foram os voluntários, depois que os reforços foram vindo. A gente até costuma ver algumas enchentes em pontos pontuais, mas dessa vez foi em todo Estado”, lamentou.
CAOS
Fábio também explica que muitas pessoas estão até sem água potável. “O caos está generalizado. Conseguimos hospedagem em um local que não foi afetado, os quais são pouquíssimos em Porto Alegre. Graças a Deus estamos com água, luz e internet, mas boa parte do Estado está sem o básico, sem água para beber. O nível do Guaíba não abaixou e mais regiões da cidade estão sendo afetadas”, disse.
Ainda de acordo com Fábio, existe um racionamento de água em toda cidade. Dois grandes hospitais estão alagados e só uma estação de tratamento de água está funcionando, a qual, consegue atender apenas 15% de todos os moradores.
“Amanhã o vento muda novamente para sul, o que impede o escoamento das águas da lagoa dos Patos e chega uma frente fria. Já tem chuvas no sul onde escoa as águas e para o final de semana já teremos grandes volumes de mais água”, disse preocupado.
TRÊS LAGOAS É EXEMPLO DE SOLIDARIEDADE
Por outro lado, ajudas de todo mundo estão sendo levadas para o Rio Grande do Sul. Três Lagoas é um exemplo. Milhares de desabrigados precisam do básico, que é alimento não perecível, material de limpeza e muita água mineral. Sendo assim, várias campanhas de arrecadação estão sendo realizadas, incluindo as dos servidores municipais. As organizadoras da campanha ‘Nós Temos Sede’ em apenas algumas horas conseguiram arrecadar 60 mil litros de água, os quais já foram levados para o território gaúcho. A campanha continua e a meta é atingir dois caminhões de água, os quais suportam 60 mil litros.
COMITIVA DA SOLIDARIEDADE
O prefeito, Ivinhema, Juliano Ferro e companheiros que possuem Jets Ski também estão no Rio Grande do Sul trabalhando nos resgates de vítimas e o chefe do Executivo resume a situação como um cenário de guerra, principalmente como em alguns pontos da área rural, a água começou a abaixar e mostrar a realidade. Testemunhas dizem que corpos de pessoas e animais mortos estão sendo encontrados com frequência.
CÃMARA DE TRÊS LAGOAS
A Câmara Municipal de Três Lagoas também está fazendo parte da corrente de solidariedade para auxiliar as vítimas das chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul. A Casa de Leis é um dos pontos de coleta de alimentos não perecíveis, roupas, calçados, leite em pó e água. O anúncio foi feito pelo presidente da Câmara, doutor Cassiano Maia, durante a sessão desta terça-feira (7).
EQUIPE DA PRF
Conforme a PRF (Polícia Rodoviária Federal), só hoje, foram realizados 40 resgates pelas aeronaves da equipe. Vários animais também foram salvos.
“Hoje o tempo foi de sol e algumas pessoas não querem mais sair de casa. Com isso, estão pedindo que as aeronaves levem água, comida e remédios. Apesar da estiagem, o nível da água continua subindo devido ao acúmulo das áreas altas. Com isso, o volume está descendo para as partes baixas da região”, explicou ao Perfil News.
CICLONE DEVE PIORAR A SITUAÇÃO DOS GAÚCHOS
O Estado do Rio Grande do Sul, que ainda sofre com as consequências das enchentes causadas pelo longo período de instabilidade, deve registrar mais chuva nos próximos dias. Isso porque uma frente fria associada a um ciclone extratropical está prevista para trazer a instabilidade e também deve provocar queda na temperatura.
O tempo segue firme na maioria do território gaúcho até quarta-feira (8), quando a previsão é de instabilidade em todo o estado, com chances de tempestades, vento forte e redução da temperatura.
A formação do ciclone extratropical se dará ao sul da América do Sul, na altura de Buenos Aires, e, segundo meteorologistas, não cruzará o Rio Grande do Sul, mas provocará vento intenso em todas as regiões, podendo atingir entre 60km/h e 70km/h.
Esse fenômeno também dará origem a uma frente fria, trazendo temporais para todo o estado e queda na temperatura, que já será perceptível em toda a região sul do estado na quinta-feira (9). Em Porto Alegre, a temperatura pode variar entre 14 °C e 21 °C.
As tempestades que afetam o Rio Grande do Sul desde a semana passada já provocaram 90 mortes e afetaram 388 dos 497 municípios gaúchos até esta terça-feira (7). A previsão é mais chuva nos próximos dias.
Além disso, 155,7 mil pessoas tiveram que deixar suas casas e 48,1 mil delas estão morando em abrigos, segundo os dados do boletim mais recente da Defesa Civil do Estado, divulgado nesta manhã.
O governo do Rio Grande do Sul ainda contabiliza que 1,367 milhão de pessoas foram afetadas pelo evento climático extremo. Há 361 feridos e 132 desaparecidos.
O Lago Guaíba, que bateu o recorde, tinha na manhã de terça-feira (7) 5,27 metros — quatro metros acima do volume considerado normal. Na segunda-feira (6), o Clima tempo emitiu um alerta sobre o ciclone extratropical, provocando o retorno da chuva no centro-norte do Estado.
Condições de temporais e chuva volumosa são esperadas, em especial, no centro-sul, oeste e noroeste gaúcho.
Embora o ciclone esteja no oceano, os ventos previstos associados a ele, podem atingir valores de 60 a 80 km/h — mesmo que não esteja chovendo. Nas regiões com risco de temporais, os ventos podem atingir valores próximos a 90 km/h, segundo o Clima tempo.
No domingo (5), o governo federal já havia alertado que a frente fria poderia se tornar uma preocupação. Na próxima quarta-feira (15), a temperatura deve baixar para até 10 °C em algumas áreas do Estado, segundo o BBC.
O comando, que participa da operação de auxílio às vítimas, afirmou que a ideia é acelerar os trabalhos até esta terça (7), já que a frente fria vai piorar as condições de evacuação, além de aumentar o risco de hipotermia em pessoas que estejam aguardando o resgate ao relento ou sob a chuva.
Os meteorologistas do Clima tempo afirmam ainda que a situação de nível de água dos rios do Estado permanece delicada devido à enchente dos últimos dias. E, com o aumento das rajadas, pode haver novamente o transporte de água para muitas regiões do Estado.