O mercado da celulose está aquecendo cada vez mais no Brasil. Com o anúncio de construções de várias fábricas do setor, principalmente em Mato Grosso do Sul, o que era bom, promete ficar ainda melhor nos próximos anos, mas a disputa por fornecedores pode ficar acirrada entre os próprios empreendimentos.
VALE DA CELULOSE
O Brasil está entre os líderes da produção mundial de celulose e, para abastecer essa cadeia produtiva, tem ampliado sua base florestal. Mato Grosso do Sul vem na mesma esteira com o “vale da celulose”, como tem sido chamada a região Leste do Estado, que concentra indústrias e muitos hectares de florestas plantadas.
O Estado, mais especificamente Três Lagoas, já tem duas indústrias, sendo a Suzano (com duas linhas) e a Eldorado (com uma linha). Ainda na região do Bolsão, a chilena Arauco vai se instalar em Inocência. A Bracell, que é líder global na produção de celulose solúvel também tem maciço florestal em Água Clara.
Ainda em Três Lagoas, um anúncio recente sobre a retomada da construção da segunda linha da Eldorado Brasil movimentou o setor no Brasil e no mundo. Também em Mato Grosso do Sul, mais especificamente na cidade de Ribas do Rio Pardo, outra fábrica da Suzano, conhecida como ‘Projeto Cerrado’ já está praticamente finalizada.
ATÉ NO PARAGUAI
Bem próximo ao Mato Grosso do Sul, na fronteira do Estado, em Concepción, a Paracel promete ser a primeira fábrica de celulose do Paraguai. Pensou que acabou? Não! Na semana passada, a CMPC anunciou que tem interesse em construir mais uma indústria de celulose no Rio Grande do Sul.
Para saber como vai ser essa disputa de qual fábrica entra em operação primeiro, o Perfil News conversou com dois engenheiros que já trabalharam em projetos de plantas de celulose. Afinal, previsão de uma ‘inauguração’ sempre existe, mas de acordo com os profissionais, as coisas não são tão simples assim, já que conseguir dar o ‘pontapé’ inicial é fundamental para o andamento dos projetos.
VALMET OU ANDRITZ – QUEM FORNECERÁ A PLANTA?
Apesar do atual mercado estar ‘chovendo celulose’ os empresários precisam trabalhar com apenas dois fornecedores, os quais atendem demandas do mundo todo. A Andritz e a Valmet, ambas são disputadas para quem deseja esse megaempreendimento. As fornecedoras têm escritórios no Brasil, com equipes dedicadas, mas as sedes oficiais ficam localizadas na Europa.
Um exemplo é o que está acontecendo com a Suzano de Ribas do Rio Pardo. A empresa comprou a planta inteira da Andritz. Agora imagine só se todas as indústrias decidem comprar com o mesmo fornecedor. É preciso tempo hábil e planejamento para um projeto de tamanha magnitude.
Conforme os engenheiros, os dois fornecedores oferecem a planta inteira da fábrica, desde o pátio de madeira até o enfardamento da celulose para a fabricação do produto como toda a área de recuperação química da indústria, passando pela evaporação, caldeira de recuperação e forno de cal. Além disso, eles também são responsáveis pela caldeira de força, a qual aproveita os próprios resíduos da madeira utilizada para geração de vapor.
As indústrias compram as plantas apenas da Andritz e da Valmet. Ainda segundo os engenheiros, até existem outros fornecedores, os chineses, por exemplo, mas quando se fala em grandes capacidades como a de uma mega indústria, os negócios são fechados exclusivamente com a Andritz ou Valmet.
QUEM VAI COMEÇAR A OPERAR PRIMEIRO?
Apesar de algumas já terem divulgado previsões de datas para entrarem em operação, os engenheiros adiantam que não é tão simples assim. É preciso tomar iniciativa, já que o número de fornecedores que entregam a planta de uma fábrica de celulose requer tempo.
Suzano de Ribas do Rio Pardo promete entrar em operação no final do mês de junho deste ano e deve ser a primeira entre as quatro indústrias de celulose confirmadas. A disputa está ‘mais acirrada’ entre a Arauco, que deve ficar pronta em 2028, a Portocel, em 2027 e o anúncio da 2ª linha da Eldorado, que apesar de já ter infraestrutura iniciada, não confirma ‘sair na frente’ das outras duas.
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“A Arauco só depende da madeira. Com certeza está ajustando isto e no resto ela domina tudo. Ela já tem equipe formada aqui no Brasil para acompanhar o projeto a ser implantado. O fato dela não ter a infraestrutura pronta não impacta, porque para fazer o projeto demora. Se ela começar agora em maio a comprar plantas, em janeiro de 2025 faz o projeto de civil de modo a começarem as obras das plantas na parte de fundação. Somando isto tem oito meses para ela fazer a terraplenagem e infraestrutura o que não impactaria nada no projeto e o cronograma delas”
Ainda fato da 2ª linha da Eldorado, do Grupo J&F, mesmo com um investimento de R$ 25 bilhões e ter parte da infraestrutura pronta não é tanta vantagem se comparada com uma concorrente em potencial que possa comprar o pacote estrutural em pouco tempo. Apesar de informar o montante que será investido, os irmãos Joesley e Wesley Batista não informaram quando a indústria deve entrar em operação.
“Estou imaginando que a Arauco está seriamente focada em fazer a fábrica e deva ter a intenção acertar logo a compra com o fornecedores”, disse.
FLORESTA DA PARACEL
Conforme o CEO da Paracel, Flávio Deganutti, em uma entrevista recente a Fastmarkets, a Paracel, no Paraguai, já conta com 103 mil hectares de florestas de eucalipto, que são suficientes para o início das operações da nova fábrica de celulose da companhia no Paraguai até 2027.
A CMPC deve ser a última a entrar em operação. Nesta semana, a empresa assinou um acordo de intenções com o governo do Rio Grande do Sul para avaliar a instalação de uma fábrica de celulose de eucalipto que exigirá investimentos de U$ 4 bilhões de dólares.
“Na minha opinião, a CMPC é a menos provável de startup em primeiro. A Arauco começou antes, mas tem que resolver seu problema de terras e madeira. A Eldorado tem tudo para largar na frente inclusive infraestrutura pronta, mas precisa dar o pontapé inicial”, disse um dos engenheiros entrevistados pelo Perfil News.