A tragédia causada pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul já está influenciando os preços de itens básicos como arroz, feijão, soja, milho, laticínios, farmácias, vinhos, calçados, máquinas agrícolas e até da construção civil. Porém, alguns especialistas ainda aguardam mais detalhes sobre a extensão dos danos para avaliar possíveis impactos na inflação.
De acordo com informações do InfoMoney, o estado do Rio Grande do Sul (RS) é responsável por 70% da produção de arroz do país, um dos principais componentes da categoria “alimentação no domicílio” no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O RS também é um produtor significativo de carnes e laticínios. Uma fonte do IBGE, que monitora o índice, observou que grande parte da safra de arroz já foi colhida. No entanto, a preocupação reside no transporte do grão, visto que estradas e pontes foram severamente danificadas, isolando várias áreas.
“A arroz armazenado nas regiões isoladas pode afetar a inflação”, comentou a fonte. Até agora, análises do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP mostram um aumento modesto no preço do arroz no estado, com a saca, já com frete incluído, sendo vendida a 106,74 reais na última segunda-feira (6), contra 105,98 reais na semana anterior.
Além disso, o estado é destacado na produção de soja e milho, que têm um impacto mais indireto no varejo, servindo como insumos para ração animal.
Segundo André Braz, economista da FGV, esses produtos podem influenciar a inflação ao produtor, pois nem todas as safras foram colhidas, o que pode refletir na inflação.
E por conta da crise no arroz, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou esta semana a possibilidade de importar arroz e feijão para controlar os preços, refletindo a preocupação governamental com o abastecimento e a estabilidade dos preços desses itens básicos.
Com isso, segundo a Agência Brasil, supermercados em várias partes do Brasil já começaram a limitar a quantidade de pacotes de arroz que cada pessoa pode comprar, indicando um aumento na demanda e preocupações com a oferta futura.
Limitação na compra do arroz em MS e demais estados
Publicado no site Pleno News, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) divulgou nesta quinta-feira (9) que implementará restrições na compra de alimentos básicos como arroz, feijão, leite e óleo de soja em todas as suas lojas no Brasil.
A medida tem como objetivo assegurar que todos tenham acesso a esses itens essenciais durante a crise que afeta o Rio Grande do Sul, um dos principais estados produtores destes alimentos.
“Para manter a disponibilidade e facilitar o acesso a produtos fundamentais, o GPA, responsável pelas redes Pão de Açúcar e Extra, decidiu limitar a quantidade desses itens que os consumidores podem adquirir em todas as unidades do grupo. Essa política se aplica a todas as nossas lojas, incluindo Pão de Açúcar, Extra Mercado, Minuto Pão de Açúcar, Pão de Açúcar Fresh e Mini Extra, bem como em nossos websites www.paodeacucar.com e www.clubeextra.com.br e nos aplicativos Pão de Açúcar Mais e Clube Extra”, informou a empresa em comunicado.
No Estado do Mato Grosso do Sul, mas especificamente no município de Três Lagoas, o diretor-presidente do Supermercado Nova Estrela, Joaquim Romero Barbosa, disse em entrevista ao Perfil News, que já está começando a sentir o impacto no mercado sobre a diminuição do abastecimento de arroz, ou seja, a compra do produto.
“Mas, por enquanto, eu ainda não limitei a venda, porém os preços estão subindo. Não está dando pra segurar o preço desse produto, devido o aumento dos valores. E, provavelmente, daqui uma semana, essa limitação na compra desse produto possa ser limitada a quantidade para o cliente”, disse o diretor-presidente de uma das maiores redes de supermercado do município.
Em Belo Horizonte, uma rede de supermercados estabeleceu um limite de cinco pacotes de produtos por pessoa. Uma medida semelhante foi reportada por ouvintes da BandNews FM em lojas no Ceará.
No interior do Espírito Santo, duas redes de supermercados impuseram uma restrição de apenas um pacote de arroz por cliente, enquanto na região da Grande Vitória, o principal estabelecimento comercial limitou a quatro embalagens por pessoa.
As associações ligadas ao setor do arroz aconselham os consumidores a evitar compras desenfreadas com o objetivo de estocar o produto. Elas asseguram que haverá suficiente disponibilidade de arroz ao longo do ano e que a oferta será regularizada no médio prazo.
Problema provisório
Este comportamento reflete as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção de arroz no Brasil. O desafio atual não é de desabastecimento, mas de logística.
Apesar da colheita do arroz já ter sido realizada no estado, o transporte para outras regiões está temporariamente impedido devido ao bloqueio nas estradas. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) assegura que não há risco de falta do produto nas prateleiras.
A Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) ressalta que se trata de um contratempo de curto prazo, com expectativa de normalização nos próximos dias.
Como medida para contornar essa interrupção temporária, o Governo Federal autorizou a importação excepcional de até um milhão de toneladas de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento.
Embora a situação com o arroz ainda não tenha impactado diretamente, a inflação de alimentos em abril já mostrou um aumento, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrando alta de 0,38% no mês.
Demais impactos
No segmento de farmácias, segundo o site Esquerda Diário., é outro que vem sendo muito procurado por voluntários que se dispõe a realizar doações, só a Panvel sozinha declara um lucro de R$3,2 bilhões, enquanto levanta como iniciativa para ajudar os gaúchos desabrigados um “troco solidário” – ou seja, você gasta centenas de reais na Panvel bilionária para comprar doações e ainda tem a “oportunidade” de doar o seu troco.
Setor da Construção Civil
Outro exemplo, conforme o site Esquerda Diário, indignante é o da construtora Melnick, conhecida na capital por ter a prefeitura no bolso e levantar empreendimentos de luxo desnecessários, contribuindo para que Porto Alegre possua 100 mil imóveis vazios mesmo diante do déficit habitacional anterior. Essa gigante, que declara faturamentos de 2,2 bilhões de reais, deveria estar colocando tanto seus apartamentos, como a infraestrutura, recursos e o maquinário de que dispõe, à serviço da população, assim como outras construtoras e indústrias gaúchas,
Setor de Vinho
Já no setor de vinhos, segundo site Brasil de Vinhos, o Rio Grande do Sul, região mais tradicional na produção de vinhos do Brasil, está sendo devastado pelo caos e destruição de uma enchente que já é definida como a maior da história. São milhares as vítimas dos alagamentos e deslizamentos que acontecem simultaneamente em todo o território gaúcho.
Nesta região – e no Brasil como um todo – o vinho é um símbolo de comunidade e perseverança de muitas famílias. Nos momentos de crise, o senso de solidariedade entre as pessoas surge como um sinal de esperança.
Tendo isso em mente, muitas ações têm surgido a partir de diversos grupos e indivíduos que reconhecem a força da cooperação. Vinícolas, sommeliers, enólogos e entusiastas se mobilizam para promover ações que beneficiem os mais afetados pela tragédia.
Estas iniciativas não apenas reforçam a importância da união em tempos de crise, mas também destacam como produtos culturais locais, como o vinho, podem ser catalisadores para ação comunitária e recuperação.
Setor de Calçados
As chuvas intensas que atingem o Rio Grande do Sul desde sábado (27 de abril), causando dezenas de mortes e de pessoas desaparecidas, também provocam reflexos no setor calçadista. No polo de Igrejinha, o Rio Paranhana transbordou atingindo fábricas. “É uma catástrofe de magnitude histórica para nós”, comenta o presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Igrejinha (Sindigrejinha), Vinícius Mossmann, em entrevista ao site Exclusivo.
O dirigente explica que, mesmo diante dos reflexos no setor calçadista, ainda não é possível dimensionar os prejuízos ocasionados pelas chuvas. “Até porque ainda temos alguns dias pela frente em que se prevê muita chuva intensa”, frisa.
Mossmann acrescenta que todas as empresas próximas ao Rio Paranhana e em ruas paralelas foram atingidas em Igrejinha. “Em alguns casos houve até desabamento de muros tamanha a correnteza da água”, concluiu ele.
Mossmann é proprietário da Evaformula – empresa que fabrica EVA e componentes para calçados em EVA –, localizada no Centro de Igrejinha, que também foi afetada pela chuva. Imagens de câmeras de segurança mostram, até as 8 horas desta quinta-feira (2), quando a energia elétrica foi cortada na fábrica, a água atingindo a área produtiva.
Setor de Máquinas Agrícolas
Segundo o site Agro.Estadão, com a crise climática no RS o agronegócio é o setor mais impactado pela tragédia até o momento, com perdas de R$ 569,7 milhões, sendo a maior parte na agricultura.
- Agricultura: R$ 435 milhões
- Pecuária: R$ 134,7 milhões
- Indústria: R$ 92 milhões
- Comércios locais: R$ 37,5 milhões
- Demais serviços: R$ 52,2 milhões
A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima os prejuízos em danos materiais em escolas, hospitais e prefeituras (R$ 333,6 milhões), em infraestrutura (R$91,3 milhões); geração e distribuição de energia elétrica (R$ 3,3 milhões); abastecimento de água (R$ 2,8 milhões), entre outros setores.
Números da tragédia no RS
De acordo com o que foi divulgado pelo site Metrópoles nesta sexta-feira (10), o número de mortos e desaparecidos em decorrência das chuvas fortes que assolaram o Rio Grande do Sul subiu para 116. Há também 143 desaparecidos e 756 feridos.
De acordo com boletim da Defesa Civil, quase 2 milhões foram afetados pelas chuvas em 437 municípios gaúchos. Desses, 337 mil estão desalojados e cerca de 70 mil encontram-se em abrigos públicos.
Até o momento, 70.863 pessoas e 9.984 animais foram resgatados nas cidades do estado. Participam das ações de apoio e resgate na região 27 mil profissionais, 3.466 viaturas, 340 embarcações e 41 aeronaves.