O governo da Rússia anunciou ter sido bem-sucedido no desenvolvimento de uma inovadora vacina mRNA contra o câncer, a ser distribuída a partir de 2025, sem custos, para a população, afirmou o diretor-geral do Centro de Pesquisas em Radiologia do Ministério da Saúde russo, Andrey Kaprin, a um veículo local.
Descrita como uma revolução científica da última década, essa espécie de vacina, chamada “vacina de RNA mensageiro”, funciona selecionando parte de um agente infeccioso específico para incentivar uma resposta imunológica do organismo.
Especialistas ressaltam a necessidade de voltar os olhares para Mato Grosso do Sul, uma vez que são esperados mais de 9,8 mil casos de novos cânceres até 2025 no Estado. Conforme o Inca (Instituto Nacional do Câncer), a expectativa de diagnósticos para o triênio de 2023-2025 é de 9.850 novos casos, sendo 4.800 em homens e 5.050 em mulheres. Até 2020, foram 2.818 mortes por câncer em Mato Grosso do Sul. Desse total, 1.542 foram homens e 1.276, mulheres.
É importante destacar ainda que os tipos de câncer que mais afetam homens e mulheres no Estado, assim como no resto do Brasil – com exceção do câncer de pele não melanoma – são o de próstata e mama.
Feita a partir de um mRNA sintético que corresponde a uma proteína do agente infeccioso, a vacina é capaz de “ensinar” as células do organismo afetado a lidar com o corpo invasor, e elas então atacam as células cancerígenas, informa a Pfizer.
Em entrevista à agência russa TASS, Alexander Gintsburg, diretor do centro de pesquisa epidemiológica Gamaleya, afirmou que a vacina demonstrou ser capaz de suprimir o desenvolvimento de tumores e a metástase na sua fase de testes clínicos.
A vacina já havia sido mencionada por Putin anteriormente como um horizonte próximo na medicina russa, além de outras “drogas imunomodulatórias da próxima geração”.
Seus testes envolveram o uso de redes neurais artificiais a fim de reduzir o tempo necessário para a produção de vacinas personalizadas.
Essas vacinas são chamadas de “personalizadas” ou “customizadas” porque são projetadas para ensinar o sistema imunológico de cada paciente a combater seu próprio tipo de câncer, de acordo com os antígenos específicos de cada tumor.
Os modelos computacionais, fornecidos pelo Ivannikov Institute, empregaram inteligência artificial para resolver problemas matemáticos acerca dos mRNAs “customizados” necessários para a criação de uma vacina específica, e o tempo dessa produção pôde ser reduzido para cerca de uma hora, disse Gintsburg.
Com os modelos de IA, é possível tornar esse processo — que costuma levar em torno de dois meses — muito mais fácil e rápido.
De acordo com o governo russo, o desenvolvimento desta vacina foi possível a partir de esforços múltiplos de vários centros de pesquisa em colaboração.
Ainda não se sabe exatamente como vai funcionar sua distribuição entre o público em geral, mas o governo afirmou que será inteiramente livre de custos.
Tecnologia cara e em fases iniciais
Em junho de 2024, testes clínicos para essa espécie de vacina começaram a ser feitos na Europa, em países como Reino Unido, Bélgica, Alemanha, Espanha e Suíça.
Foram distribuídas cerca de 15 doses de uma vacina personalizada para tratamento de câncer aos pacientes de hospitais registrados na Plataforma de Lançamento de Vacinas, que ligou as instituições e seus pacientes com câncer aos testes da nova tecnologia de vacinas mRNA.
Esse teste, no entanto, foi parte de uma fase ainda experimental da terapia, que só deve ser finalizado em 2027, de acordo com a BBC.
A vacina dos testes clínicos europeus foi desenvolvida pela Moderna, e utilizou uma tecnologia semelhante às vacinas para Covid-19 (também baseadas em RNA mensageiro). A BioNTech também já planejava conduzir testes iniciais para suas vacinas mRNA contra tumores variados, como tumores da mama e de bexiga e contra o câncer de pulmão.
Apesar de revolucionária, a vacina mRNA contra o câncer é uma tecnologia dispendiosa, considerada em fases iniciais de desenvolvimento, e pode envolver altos custos de fabricação por seu nível de especialização.
Se a Rússia for, de fato, bem-sucedida na sua ampliação para o público, esta pode ser uma das maiores revoluções na saúde pública da década.