Sintiespav-MS conquista avanços inéditos para operários da construção pesada e atua em defesa da qualidade de vida dos trabalhadores na mega fábrica de celulose da Arauco
Por: Nathalia Santos
O município de Inocência, em Mato Grosso do Sul, está no centro de um dos maiores empreendimentos industriais do planeta: a construção da planta de celulose da Arauco, considerada a maior do mundo em seu segmento.
Com investimentos bilionários e previsão de empregar até 14 mil trabalhadores no pico da obra, o projeto tem exigido não apenas uma logística robusta, mas também um esforço sindical à altura.
Na linha de frente da defesa dos trabalhadores está o SINTIESPAV-MS, sindicato dos trabalhadores da construção pesada, liderado por Nivaldo da Silva Moreira, que desde os primeiros movimentos de terraplanagem atua de forma ativa para garantir direitos, estrutura e dignidade aos milhares de operários envolvidos. O presidente do sindicato conversou com o Perfil News onde deu mais detalhes do trabalho desempenhado.
“É uma obra de grande porte, complexa, que já apresentou desafios desde o início. Já tivemos paralisação, negociação salarial, ajustes em demissões e contratações, tudo com presença ativa do sindicato para garantir que o trabalhador não fosse prejudicado”, explica Nivaldo.
ACORDOS PIONEIROS E VALORIZAÇÃO HUMANA
Uma das principais conquistas do SINTIESPAV na obra da Arauco foi o acordo que garante folgas remuneradas a cada 60 dias de trabalho, com passagens pagas para que o trabalhador retorne à sua cidade de origem.
“Um trabalhador que atua em campo por 60 dias tem direito a voltar para casa. Se ele mora a mais de 1.500 km, ele ganha quatro dias úteis de folga, mais um fim de semana. Esse tipo de conquista é inédito para a nossa base. É mais do que um direito: é reconhecimento da importância do trabalhador estar próximo da família”, afirma Nivaldo.
Essa valorização do tempo em família foi reconhecida pela própria empresa, segundo o presidente sindical. “A Arauco entendeu que esse tipo de benefício ajuda inclusive na produtividade, porque melhora o bem-estar de quem está no campo”.
UM OLHAR ALÉM DO CANTEIRO DE OBRAS
Mas não é apenas de salários e folgas que vive o trabalho sindical. A chegada em massa de trabalhadores impôs um desafio sem precedentes para Inocência, que tem pouco mais de 9 mil habitantes e precisou se preparar para receber quase o dobro disso.
O sindicato atuou desde a fase de audiência pública, questionando, por exemplo, o projeto inicial que previa alojamentos distantes da cidade. “A gente tem experiência. Em Três Lagoas, alojamentos a 40 km deixaram os trabalhadores isolados, mesmo com transporte regular. Isso tira a liberdade deles. Conseguimos, com diálogo, trazer os alojamentos para mais perto do centro urbano”, explica Cleonildo Dias, diretor tesoureiro do SINTIESPAV.
Além disso, foram feitas vistorias nos refeitórios e dormitórios. “A alimentação está adequada, com temperatura controlada, todos os quartos têm ar-condicionado. Há geradores potentes para evitar problemas em caso de queda de energia, que é comum quando milhares de trabalhadores chegam e usam chuveiros simultaneamente”, diz Nivaldo.
CAPACITAÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL
O sindicato também acompanha ações de qualificação profissional, em parceria com o SENAI e SEBRAE, para garantir que moradores de Inocência tenham acesso às oportunidades geradas pela obra. “Onde não tem mão de obra pronta, a gente ajuda a criar. Isso fortalece a economia local e reduz a necessidade de trazer tantos trabalhadores de fora”, avalia Nivaldo.
DISPUTA SINDICAL
Apesar das vitórias, o sindicato enfrenta desafios de bastidores. Segundo Nivaldo, a federação à qual o SINTIESPAV é filiado tem tentado se colocar como representante da base local, mesmo sem atuação prévia na região.
“Somos os representantes legítimos há mais de 30 anos. A federação, que deveria apoiar o sindicato, tenta agora atuar como se fosse um sindicato paralelo. Isso é uma prática antissindical. Nunca estiveram aqui nas obras anteriores. Só agora, com essa obra gigantesca, resolveram aparecer”, denuncia Nivaldo.
A situação gerou embates jurídicos. O acordo firmado entre o SINTIESPAV e o consórcio responsável pela obra foi finalizado ainda em setembro de 2024, mas enfrentou quatro tentativas de barramento por parte da Secretaria do Trabalho, com exigências burocráticas repetidas. “Atendemos todas as correções pedidas. Hoje o acordo está registrado, validado judicialmente e com decisão de primeira instância confirmando que somos os legítimos representantes em Inocência”, comemora o presidente.
PRÓXIMOS PASSOS
Com a chegada de novas empresas terceirizadas para a obra da Arauco, o SINTIESPAV promete manter presença constante para garantir que os direitos sejam respeitados. Além de benefícios como PLR, cesta natalina, assistência médica e acompanhamento individualizado, o sindicato continuará defendendo que o desenvolvimento econômico caminhe ao lado da justiça social.
“Nosso compromisso é com o trabalhador. A obra vai passar, mas a vida de quem está aqui continua. Queremos deixar um legado de respeito, valorização e direitos garantidos”, conclui Nivaldo
