A morte de um caseiro por uma onça na região do Touro Morto, no município de Miranda, no Mato Grosso do Sul, trouxe o debate para o combate à prática da ceva. Jorge Avalo, de 60 anos, foi morto e devorado na madrugada da última segunda-feira (21). Ele trabalhava como caseiro no rancho que servia como pesqueiro.
O local foi encontrado cheio de sangue e com vestígios da onça. Antes disso, imagens mostraram “visitas” do animal. Para atrair turistas, muitos estabelecimentos comerciais contam com a presença de animais silvestres, em locais pouco convencionais para eles, por meio da ceva.

A prática nada mais é do que alimentar ou disponibilizar alimentos de maneira a acostumar o animal com as visitas ao local.
O espaço que Jorge trabalhava já havia sido alvo de denúncias em 2022 ao Instituto Homem Pantaneiro. Um agente de monitoramento do IHP mostra, em vídeo, uma onça no local à beira do rio, de maneira a ilustrar o comportamento já naturalizado do animal de circular por onde há pessoas.
“Estamos com uma onça ao fundo, onça esta que vem sendo filmada por diversos barcos de turismo aqui da região e vem sendo alimentada por essas pessoas com a prática da ceva. Lembrando que isso é uma prática proibida, é um crime ambiental. E o principal: dessa maneira, coloca-se em risco sua vida e a vida do animal”, alertava.
CRIME AMBIENTAL
O ato, apesar de comum, é considerado inadequado, condicionando os animais a receber alimento de modo facilitado, além de desencadear comportamentos agressivos. A prática de ceva é considerada um crime ambiental e ato de maus tratos. Quem pratica a ação pode ser condenado de três a um ano de detenção, além de pagar multa.

A morte do caseiro acabou se tornando um debate acalorado nas redes sociais. Muitos criticam o animal e outros defendem.
“O que eu não consigo entender é como o ser humano invade áreas verdes, o habitat natural dos animais silvestres, e depois se surpreende quando é atacado. Animais como a onça, por exemplo, caçam por instinto e necessidade — se estão com fome, qualquer movimento pode ser interpretado como presa. Infelizmente, quando um animal desses ataca alguém, como aconteceu com esse senhor que acabou sendo morto, a culpa recai sobre o animal. Mas a verdade é que ele só está tentando sobreviver num ambiente que já não é mais dele. Provavelmente, esse homem tentou espantar a onça e o pior aconteceu. Enquanto fazendeiros, agricultores e grandes empresas continuarem desmatando, invadindo reservas e destruindo o lar desses animais, tragédias assim vão continuar acontecendo. O ser humano precisa entender que não está acima da natureza — ele faz parte dela. E quando a gente rompe esse equilíbrio, as consequências são inevitáveis”, disse um internauta.
IRRESPONSABILIDADE
“Aí, o que dá a falta de responsabilidade é imprudência, trazer o animal para perto para atrair turistas. Agora infelizmente aconteceu esse acidente que levou a morte. Vamos pensar e ter responsabilidade em nossas atitudes”, disse uma leitora.
CAPTURADA

Equipes da Polícia Militar Ambiental (PMA) capturaram, na madrugada desta quinta-feira (24), uma onça-pintada macho, que rondava o pesqueiro onde Jorge Avalo, foi atacado e morto no Pantanal de Aquidauana.
O animal foi encaminhado para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) de Campo Grande, onde exames vão determinar se o animal capturado é o mesmo responsável pela morte do caseiro.
As buscas pelo animal foram determinadas pelo governo de Mato Grosso do Sul. Todo o processo foi monitorado pela PMA e contou com o apoio de 10 policiais.
Em nota, o governo de Mato Grosso do Sul informou que o animal tem 94 quilos e será submetido a exames. Decido ao manejo e proteção, o CRAS vai ser isolado para visitações.